Wednesday, November 24, 2004

AMIarte: Amor no Labirintho

Quando os sentimentos são belos encontram-se em noites de beleza mágica.
Foi no Bar Labirintho. Primeiro falei com o Zé Carlos, (o Tinoco) que ficou encantado. Convidei-o a visitar a Delegação Norte da AMI (Assistência Médica Internacional), ele aceitou e aí surgiram logo mil ideias para o projecto AMIarte. Bom, depois surgiu o encontro com o Filipe (d'O Contador de Histórias). Pelo telefone ficou claro que há almas que têm que se encontrar um dia e ficarão firmemente unidas. O auge foi mesmo naquela segunda-feira fria, fria no Labirintho. Contrariamente ao habitual, havia consumo obrigatório (claro, o propósito é angariar fundos para a AMI, tirar os Sem Abrigo da rua, dar-lhes roupa, alimentos, calor humano... e para isto a boa-vontade também se constroi com dinheiro, a ingenuidade fica para os loucos!...) O jantar no Triplex foi muito bom; ao sabor dos alimentos juntava-se a alegria de um projecto solidário. A seguir o Labirintho. Os pequenos detalhes da luz, o som, a melhor maneira de distribuir as revistas da AMI, o que se deveria dizer à porta ... A seguir foi esperar ... Os primeiros clientes entravam com a revista na mão, um sorriso tímido e olhar expectante. Depois, pareciam aparecer aos magotes, muitos, muitos até não haver espaço sentado. Começaram a preencher todos os sítios livres onde um desnível pudesse servir de suporte. A escadaria estava bonita enfeitada pelas raparigas sorridentes. As bebidas começaram a circular. À porta, eu aconselhei "quanto mais consumirem, mais oferecem à AMI..." "Que bom, então hoje quero-me embebedar", dizia um jovem com ar traquina. As 23 horas chegaram. Esperamos ainda um pouco mais. O Zé Carlos um pouco nervoso. O Filipe a precisar de um café duplo "é sempre assim, preciso de um café duplo e de reler tudo outra vez, embora tenha a certeza que conheço o Príncipe Feliz de cor e salteado" Oscar Wilde vinha mesmo a calhar. Nem de encomenda. A solidariedade para com os socialmente não aceites...
Começou. A música parou. A voz quente do Zé Carlos inaugurou a noite. Apresentou o projecto AMIarte (um pequeno núcleo do Porto que coloca a Arte ao serviço da AMI), a seguir apresentou o Filipe Lopes e começou. A noite abriu com o conto de Oscar Wilde. A estátua do Príncipe Feliz com o coração partido e a andorinha morta aos pés. Os dois corações fundidos na brasa do Amor, da Compaixão (sinónimos para quem possui elevação de alma). Tal como anunciado, o Filipe não leu o conto, nem o dramatizou. Sem leitura nem dramatização, mas uma síntese, uma simibiose de sentimentos que contagiam, se entranham e rasgam véus da indiferença. As lágrimas do público não manifestavam emoções fugazes de melodramatismo, mas simbolizavam as pérolas e rubis arrancados da estátua para dar de comer ao povo da Terra do Príncipe Feliz, eram jóias mais preciosas que as de qualquer reino ou Estado, as lágrimas que correram na noite de segunda-feira no Labirintho era as jóias do sentimento da Compaixão (ou Amor). O Juca manipulou sentimentos com a mesma destreza com que manipula as teclas, ora Paso Doble, ora Tocata e Fuga de Bach, para se transformar em samba e acabar em lamento de jazz. Os aplausos eram sinceros. O Filipe olhava para mim "O que é que faço agora?", perguntou-me; "Não trouxeste poemas? Lê alguns poemas", aconselhei. E o Zé Carlos anunciava os poemas do Filipe. Pablo de Neruda, Álvaro de Campos, José Régio, Filipa Leal... alternadamente O Zé Carlos e o Filipe gritavam, gemiam, choravam os versos arrebatando a audiência. Ninguém queria arredar pé. A magia da noite sobrepunha-se ao cansaço. No fim, todos nos abraçávamos e beijávamos. Correra bem esta primeira experiência. Primeira de muitas, comprometeram-se ambos publicamente na despedida. Aplausos para eles, aplausos para o trabalho do grupo AMIarte, aplausos para o público que aderiu e participou neste projecto ambicioso de mostrar ao mundo que a solidariedade e o amor existem.
Escrito por isabel de http://isabelbodhisattva.blogs.sapo.pt/

4 comments:

Anonymous said...

Parabéns pelo Blog magnífico! Vou voltar, curiosamente, a artista que me inspirou para entrar na Blogosfera é uma convidada especial do Piccolo Teatro de Milão, ainda agora lá esteve a apresentar o seu Trabalho
" Apenas o Amor"...

http://apenasoamaor.blogs.sapo.pt

Eu sou o João Maria

anarresti said...

Quando os corações são sinceros e as mãos resolutas é possível ir longe. E perto ficam sempre os que nos são queridos - e que sejam muitos e novos.

Anastácio Neto said...

obrigado João Maria pela generosidade do comentário...
...um grande abraço cheio de saudades para ti Nuno, há memórias e amizades que a distância não apaga...

Anonymous said...

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