Monday, January 24, 2005

"AMI Pela Ásia": O poder extraordinário da Solidariedade

Ainda estou a ressacar a experiência verdadeiramente singular do concerto "AMI pela Ásia", do passado sábado à noite, no Coliseu do Porto. Para além do evento ter reunido um "best of" da música feita em Portugal, o que mais me impressionou foi o facto do público ter interiorizado, sem recurso a sensacionalismos baratos, o poder da solidariedade e a alegria interior de ajudar os outros. Sentiu-se uma harmonia entre público e bandas absolutamente única, autêntica e invulgarmente emocionante. O prazer de oferecer, de dar sem exigir nada em troca foi, de facto, o elemento essencial que catalizou uma energia superpositiva que fez vibrar o Coliseu do Porto. Hoje falava com a Isabel Martinho, da AMIarte, sobre uma entrevista que deu a uma colega minha de um jornal e perguntei-lhe o que tinha dito, o que é que a marcou mais na noite de sábado, a resposta foi desconcertante: "o facto das crianças e adolescentes que foram ao concerto terem sentido, algumas se calhar pela primeira vez, a alegria de ser-se solidário. Espero que esse sentimento seja marcante nas suas vidas que os torne adultos mais sensíveis às necessidades dos outros". Acredito sinceramente nesse carácter pedagógico do evento, que não nasceu dos discursos, nem dos choradinhos, mas da prática da alegria experiênciada de dar, do poder extraodinário da solidariedade, da partilha. Espero sinceramente que a AMI organize todos os anos um concerto dentro deste formato, para uma causa específica, para um público dos 8 aos 80. Motivos não faltam. Basta recordar que o número de crianças que morrem à fome equivale a um tsunami de cinco em cinco dias. Para além da crueldade e abstração por detrás das estatísticas, ao salvar uma vida estamos, de facto, a salvar um mundo. Obrigado AMI e Porto. Emocionei-me bastante com as boas vibrações do Coliseu.

3 comments:

Hipatia said...

Queixava-se uma amiga de Lisboa de que o concerto foi pouco publicitado. Eu, por acaso, não acho. Talvez haja é um hábito das pessoas do Porto em deslocarem-se a Lisboa para verem concertos, não acontecendo muitas vezes o inverso. Mas, quem faltou, ficou a perder. Falando por mim e pelo grupo que me acompanhou, a experiência foi extraordinariamente enriquecedora. Que venham mais destas iniciativas, já que causas não faltam. Nem boa vontade dos músicos portugueses. Nem sequer boa vontade de um público assim disponível. O meu bem haja a quem se envolveu neste projecto.

Anonymous said...

Não entendi bem o que há de desconcertante nas minhas palavras, mas depois explicas-me. Sinceramente adorei o facto de estarem reunidas no Coliseu tantas crianças, pais, avós, assim como os grupos habituais em concertos. É fantástico poder estar em sintonia com a família e, nem que por breves minutos, a música e uma causa quebrarem o fosso de gerações, generation gap, que não tem que existir inevitavelmente. Quanto a mim, sensibilizar as crianças para quem sofre é fundamental para criarmos um mundo no qual realmente valha apena viver. A tolerância e a compaixão -amor- por TODOS deveria ser o primeiro ensinamento nas escolas. Ainda bem que consegui transmitir um bocadinho deste valor que só pode enriquecer todos os que a vivem. OBRIGADA A TODOS Isabel!!! Ah, para quem quer mais concertos, podem esperar e não vai ser muito tempo. Já estou a pensar na próxima produção. Se querem saber, estejam atentos ao meu "bloguito" budista, que eu vou divulgando. É aquele com o nome esquisito Bodhisattva...

Anastácio Neto said...

Também não alinho da tese do concerto ter sido mal publicitado, aliás o JN publicou durante toda a semana o cartaz na secção de cultura, para além de ter escrito uma série de pequenas notas de antecipação... a Antena 1, via "Por de Abrigo", do Álvaro Costa, dedicou duas emissões ao evento... e a RTP fez um directo no noticiário da 13h00...
No entanto, e em forma de desabafo, fiquei sinceramente triste pelas televisões e rádios não terem a ousadia (para não escrever outra palavra) de gravar o concerto e registarem, para além de um excelente momento audiovisual, um pedaço de história pop/rock "made in Portugal. Provavelmente e sem entrar em bairrismos, se o Coliseu fosse o dos Recreios teria sido bem mais fácil gravar o evento... A mentalidade provinciana já ultrapassou a classe política e contaminou, nos últimos 3/4 anos, de forma assustadora a comunidade que jornalística, que atravessa um dos seus mais negros e arrepiantes períodos