Saturday, April 30, 2005

Repórter Estrábico na Casa da Música

É um dos concertos a não perder. Logo à noite, os Repórter Estrábico tornam a Casa da Música num espaço verdadeiramente europeu quiçá com aspirações mundiais. Projecto nascido e crescido no Porto, pintado de ironia, vestido de sarcasmo e sempre pronto a criar quadros burlescos retirados como uma inteligência e acutilância invulgares do contexto "bipolar" da sociedade lusitana cada vez mais nova e rica. Estádios de futebol e sardinhas assadas para todos, depois do "live act" como agora se diz. Documentário realizado por Maria João Taborda, que acompanhou a banda durante a digressão "Eurovisão", no Verão de 2004, serve de aperitivo, às 22h30. Luciano & Co. celebram 20 anos de carreia. Portugal ainda não tinha entrado na CEE, os arrumadores eram uma ideia genial por inventar e a Casa da Música essa ainda estava por construir.
pop.techno.dance.come.come.bebe.bebe.consome.na.house.de.la.music.

Repórter Estrábico. Eurovisão. Sr. Arrumador

Tens em mim um sujeito competente
Capaz de lidar com toda a gente
Nem pró caldo eu faço uma pausa
Quando estou angriando para a causa

Tenho mulher e filhos agarrados
Preciso de auferir três ordenados
Não me prometas um tacho no céu
Promete um ordenado como o teu

Sr. Arrumador, arranja um lugar para mim!

A minha linguagem gestual
É simples sinalética informal
Abano bem o braço todo o dia
Afinal, já estudei coreografia

Dá-me gosto ter clientes bem dispostos
Faz-me jeito uns trocados sem impostos
Não me prometas um tacho no céu
Promete um ordenado como o teu

Dignidade e estatuto nos conformes
Tenho projecto prá fardas e uniformes
No pé um alpergata por causa do calos
Boné e gravata com motivos de cavalos

Friday, April 29, 2005

Sugestão de teatro: "Ser e Não Ser"

Posted by Hello


Tive a oportunidade, em forma de antecipação, de conversar ontem à tarde, no Teatro Rivoli do Porto, com a encenadora e actriz Maria do Céu Guerra. O resultado da conversa/entrevista pode ser lido na integra na edição de hoje do CP, no entanto, e tendo em conta a estreia, logo à noite, da proposta "Ser e Não Ser", pela companhia lisboeta "A Barraca", a minha sugestão teatral para este fim-de-semana, e em jeito de síntese/apresentação, surge-me como pertinente afirmar que a proposta reveste-se de especial interesse, não só pela coragem/ousadia de revisitar 27 séculos de história teatral em mais de seis horas de representação dividias as três episódios, hoje às 21h30, amanhã às 16h00 e o derradeiro olhar sobre o contemporâneo, no sábado às 21h30, como também pela lucidez e coragem dessa grande figura dos palcos nacionais.
Na realidade, fiquei com a melhor das impressões. Maria do Céu Guerra revelou um olhar inteligentíssimo sobre o contexto teatral português, lançado farpas, bem estruturadas quanto afiadas, em direcção ao Instituto das Arte que, no entender da actriz, "representa o período de novo-riquismo que actualmente estamos a viver". Importante contextualizar a observação, com o facto/discurso de sobrevalorização do IA de Paulo Cunha e Silva sobre as arte plásticas contemporâneas, sobretudo as de carácter experimental em deterimento do teatro e outras propostas mais "clássicas". Nota também de preocupação relativamente à invasão de modelos, caras lindas e outras figuras capas de revistas com alguma telegenia nas produções televisivas e nos palcos. Falta ainda regulamentar a profissão de actor, de forma a que quem estude durante quatro ou cinco anos não seja simplesmente passado para trás por uma boazona que tirou um "workshop" de sorrisos para a câmara nas horas vagas.
Fica a sugestão para quem habita o Porto, de entre hoje e amanhã apanhar pelo menos um dos três capítulos desta viagem pela história do Teatro, de Eurípedes a Arthur Miller, intitulada "Ser e Não Ser" conduzida, desde logo, por um nome superlativo e referêncial dos palcos e da representação. Parabéns à "Barraca" pela ousadia e qualidade do projecto.

Shakespeare. Richard III: Act I, Scene i

Now is the winter of our discontent
Made glorious summer by this sun of York;
And all the clouds that lour'd upon our house
In the deep bosom of the ocean buried.
Now are our brows bound with victorious wreaths;
Our bruised arms hung up for monuments;
Our stern alarums chang'd to merry meetings,
Our dreadful marches to delightful measures.
Grim-visag'd war hath smooth'd his wrinkled front;
And now,—instead of mounting barbed steeds
To fright the souls of fearful adversaries,—
He capers nimbly in a lady's chamber
To the lascivious pleasing of a lute.
But I,—that am not shap'd for sportive tricks,
Nor made to court an amorous looking-glass;
I, that am rudely stamp'd, and want love's majesty
To strut before a wanton ambling nymph;
I, that am curtail'd of this fair proportion,
Cheated of feature by dissembling nature,
Deform'd, unfinish'd, sent before my time
Into this breathing world scarce half made up,
And that so lamely and unfashionable
That dogs bark at me as I halt by them;—
Why, I, in this weak piping time of peace,
Have no delight to pass away the time,
Unless to spy my shadow in the sun,
And descant on mine own deformity:
And therefore,—since I cannot prove a lover,
To entertain these fair well-spoken days,—
I am determined to prove a villain,
And hate the idle pleasures of these days.
Plots have I laid, inductions dangerous,
By drunken prophecies, libels, and dreams,
To set my brother Clarence and the king
In deadly hate the one against the other:
And if King Edward be as true and just
As I am subtle, false, and treacherous,
This day should Clarence closely be mew'd up,—
About a prophecy which says that G
Of Edward's heirs the murderer shall be.
Dive, thoughts, down to my soul:—here Clarence comes.

Thursday, April 28, 2005

Sugestão de cinema: "Cantando Por Detrás das Cortinas"

Posted by Hello


Estreia da semana, "Cantando Por Detrás das Cortinas" é um filme que não deve passar desapercebido a quem realmente gosta de cinema. Volvidos quase dois anos sobre a sua estreia mundial, felizmente o excelente trabalho de realização do veterano italiano Ermanno Olmi conseguiu encontrar um espaço de exibição no mercado português. Digo felizmente pois trata-se de uma proposta superlativa no contexto dos produtos cinematográficos que semanalmente nos são impostos e que, cada vez mais, se pautam pela mediocridade.
Para além de um encantantório trabalho de fotografia e de uma direcção de actores irreprensível, "Cantando Por Detrás das Cortinas" consegue unir de forma poética o universo dos contos orientais, da oralidade, com uma gramática da imagem plena de sensualidade e encantamento. Inteligência e sensibilidade numa história de encantar e elevar o espírito como há muito não se conseguia no cinema. Depois de "Pelo Mar Adentro", este é um dos filmes que contém uma qualidade técnica muito para além do normal e que importa conhecer. A narrativa gira em torno de uma corsária viúva e abre uma janela de reflexão sobre a nobreza de espírito e elevação moral num contexto esteticamente barroco e socialmente marginal. Um filme a não perder.

"Ausência"

Mal te deixo,
continuas em mim, cristalina
ou trémula,
ou inquieta, por mim mesmo ferida
ou cumulada de amor, como quando os teus olhos
se fecham sobre o dom da vida
que sem cessar te entrego

Meu amor,
encontrámo-nos
sedentos e bebemos
toda a nossa água e o nosso sangue,
encontrámo-nos
com fome
e mordemo-nos
como o fogo morde,
deixando-nos em ferida

Mas espera-me,
guarda a tua doçura
Eu te darei também
uma rosa.


"Os Versos do Capitão", de Pablo Neruda, trad. Albano Martins, Ed. Campo das Letras

Monday, April 25, 2005


Uma flor por Abril Posted by Hello

Sunday, April 24, 2005

Tecnologia e identidade

Subtil a forma como incorporamos a tecnologia numa identidade híbrida. Actualmente dizemos "estou sem bateria" ou "estou sem rede" fazendo o telemóvel uma extensão do nosso sistema nervoso central. É a Galáxia de McLuhan num movimento de implosão cada vez mais acelerado e irreversível

Porto ao domingo

Porto ao domingo é uma cidade fantasma, um fantasporto. Cidade periférica de si mesma, onde é mais fácil apanhar uma constipação do que um café aberto ou alguém com um sorriso feliz. Local triste, verdadeiramente triste e abandonado. Uma velha fria e Invicta como o granito num luto perpétuo, silencioso e sombrio.

Friday, April 22, 2005

Queima do Porto sem Xutos mas com preservativos

Noites da Queima das Fitas do Porto 2005 arrancam no dia 1 de Maio e terminam volvidos sete dias sem grandes novidades em cartaz. Eagle-Eye Cherry destrona Xutos & Pontapés no encerramento; João Pedro Pais e Milton Nascimento estreiam-se e Pedro Abrunhosa dá o pontapé de saída. A FAP promete distribuir 300 mil preservativos, como manifestação da “consciência social” dos estudantes e acolher uma mobilização a rondar as 10 mil presenças. A missa da benção das pastas, “volta ao Porto”, fixando-se no Estádio do Bessa, ainda não é conhecido o nome sacerdote.
Regressando ao cartaz 05, destaque no dia de abertura para a presença dos Clã, Fingertips e Abrunhosa que encerram a primeira das sete noites. Na segunda dose, o hip-hop cubano dos Orishas e a pop sofisticada dos MESA. Na terça-feira, o palco do queimódromo concretiza a noite “pimba” com Ágata e Quim Barreiros. Para os resistentes ou sobreviventes da noitada popular, a dia seguinte apresenta uma das estreias da Queima, João Pedro Pais e as cativantes ‘Pictures In The Wall’” dos Primitive Reason conhecem uma projecção imperdível. Seguem-se os Blasted Mechanism e Da Weasel, que prometem uma das noites mais interessantes de toda a Queima, com os registos “Avatara” e “Re-definições” em destaque. Entre MSN ´s intergaláticas e “olá nenas”, a quinta-feira promete mais pó do que cinzas, com duas descargas audiovisuais bem trabalhadas nascidas à Sul. Já no dia seguinte, regressam os The Gift, este ano em regime de dupla frequência: AM/FM, e confirma-se a presença, cada fez mais forte, da MPB, desta vez sob a batuta de Milton Nascimento.
No última das noite da Queima, destaque incontornável para a presença de Eagle-Eye Cherry, que depois de cancelar concerto de “Sub Rosa” nos coliseus do Porto e Lisboa, destrona os Xutos. Primeira parte apresenta o hip-hop urbano e autêntico dos Dealema. Sem grandes novidades, cartaz 2005 das Noites da Queima promete folia e suplica moderação, logo a abrir mês de Maio.

Thursday, April 21, 2005

Últimas escutas: Blind Zero e Toranja

Para breve posts referentes a dois registos. Primeiro, em formato de antecipação, uma apalpadela aos BZ, com single "Shine On" a revelar um insuspeito desvio electrónico muito 80´s e "Segundo" dos Toranja, provalvelmente uma das grandes surpresas de 2005, muito acima do primeiro "Esquissos".
NOTA: A forma descarada com algumas "labels", apesar de se queixarem da pirataria, enviam para os "media" cópias piratas (CD-R´s da Sony) dos trabalhos originais. Aparentemente só elas é que podem poupar, o consumidor tem mesmo de pagar, e em alguns casos bem caro.

Festival Antarte junta pop/rock nacional em Julho

Assisti ontem à apresentação oficial do mais recente festival de verão 2005. Entre 22 e 24 de Julho, Rebordosa/Paredes vai estrear o Festival Artarte Pop/Rock 100% Nacional. Apesar de alguns ajustes em termos de marketing, a começar pelo nome e a terminar em toda a estrutura gráfica, o evento promete trazer ao Vale do Sousa, os Blasted, Blind Zero, The Gift, Clã, Toranja, EZ Special, Fingertips, entre outros. Entre um Vítor Baía e os presidentes das juntas, cruzei-me com Manuela Azevedo com quem conversei, entre outras coisas, sobre a experiência Casa da Música e a fórmula "live" da dose 2005 do nutritivo Rosa Carne. Apesar de algumas reticências, quanto ao timing e à infraestrutura, espero sinceramente que o festival triunfe. Não só pela descentralização do acesso a bens culturais sobretudo na zona norte, mas sobretudo pelo espaço em palco que as bandas nacionais há muito merecem ter. Qualidade não lhes falta.

Livros

resposta a o talento da mediocridade

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Os evangelhos apócrifos que nunca li, de S. Tomé a Bartolomeu, que se encontram escondidos algures no Vaticano.
Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por um personagem de ficção?
Harry Haller, o Lobo Das Estepes de Herman Hesse (não é copy/paste é mesmo verdade)
Qual foi o último livro que compraste?
A Era do Indivíduo, de Alan Renault
Qual o último livro que leste?
Eclesiastes, AT
Que livros estás a ler?
O Caminho Para a Libertação, de SS Dalai-Lama
Os Jardins de Luz, de Amin Maalouf
Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Os dois que estou a ler, pois ainda não os terminei + Sidarta, de Hermann Hesse; A Bíblia e A Explicação dos Pássaros de António Lobo Antunes
A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?Ao v-e-l-ü-t-h-a por que é o meu maior e melhor amigo, o único capaz de me perdoar a ousadia do pedido.

Tuesday, April 19, 2005

opss it´s Ratzinger


Joseph Ratzinger (Reuters) Posted by Hello

Afinal é Joseph Ratzinger, provavelmente o único arcebispo que os católicos não queriam ver como papa. Parece que a "opus dei" afinal sempre é mais poderosa do que a Phillip Morris e, tal como no campeonato da Europa, Portugal acabou por ficar no segundo lugar.

waiting for the pope - part 2


 Posted by Hello
Enquanto o novo papa não mostra a cara, terceira visão/opção: Iggy Pop a aparecer na varanda do Vaticano de tronco nu, a cantar "I wanna be your dog".

waiting for the pope - part 1


 Posted by Hello
Depois do fumo branco e enquanto os jornalistas fixavam a varanda, expectantes e excitados por saber quem é o novo papa, tive duas visões, transformadas em apostas. Na primeira era o próprio Karol "raise from de death" que aparecia na varanda, numa espécie de alucinação colectiva, tipo Fátima, provocando um desmaio planetário. JP parte II, beatificado pela "Opus Dei" no fim-de-semana seguinte, batendo o recorde São Josemaría Escrivá. No segundo momento, vi Madonna, a rainha da pop, na varanda, vestida de branco, a cantar "Like a Prayer", numa abertura desconcertante da Igreja a um sexo até agora praticamente desconhecido. "God is in the MTV".

Conclave do rock grava "Bring Back the Sun" pela AMI

Fim-de-semana alucinante em Paços de Brandão. Dezenas de estrelas e algumas supernovas rock/pop nacional encerradas nos magníficos estúdios da Numérica, gentilmente emprestados por Fernando Rocha, gravaram o tema "Bring Back the Sun" a favor da AMI. Numa espécie de conclave do rock presidido pelos cardeais Kalú, no sábado, e Rui Reininho, no domingo, o produtor de serviço, Andy Torrance (Renderfly) não teve mãos a medir para tanta solidariedade e talento. Vozes em destaque, no feminino, Mónica Ferraz (MESA), a amplitude do jazz aliada a um talento vocal superlativo, Marta Ren (Sloopy Joe) com uma energia de cortar a respiração e, finalmente, Ana Lara (Oratory), um misto de simpatia e potencialidade, ambas arrebatadoras "made in Barcelos".
O ambiente foi animado pela boa disposição de Fernando Alvin, pela energia de uma nova geração de vozes do pop nacional, de Ricardo Azevedo (EZ Special) ao Zé Manuel (Fingertips). Projecto "A Cause" é de facto uma causa de classe A. Ficam várias memórias e conversas em off, com figuras que já são o futuro da música nacional. Histórias de estrada, regressos ao futuro e muita, muita energia misturada com solidariedade. Com muita luz, o tema é simples, directo e bem construído. Segue-se para breve a edição do CD/Sinlge com extras. "clip" e "making of". Das recordações de "Dados Víciados" à senhora dos "cocktails" de "95 oct". Todos estão de parabéns, "MON AMI", AMI. Mais novas do projecto "A CAUSE" para breve, pois as estrelas continuam a cair do céu. Enquanto os arcebispos não se decidem, no conclave do rock solidário a porta esteve sempre aberta e a solidariedade, essa encontrou, sem fumo branco, o caminho certo para "trazer mais luz ao outro lado do mundo", algures no Ceilão, actual Sri Lanka. E como diz o artista: "One by one, we can all bring back the sun"...

Saturday, April 16, 2005

Projecto "A Cause" em movimento

Durante este fim de semana vou estar nos estúdios da Numérica a acompanhar as gravações do tema "Bring Back the Sun", do Andy Torrence, pelo projecto "A Cause". Do Kalú a Rui Reininho, passando por Mónica Ferraz, Pedro Abrunhosa, Rui Veloso, Miguel Guedes, mais de duas dezenas de artistas vão dar voz e rosto a uma das ideias mais interessantes da música portuguesa. Rock solidário em movimento. Pediram-me uma pequena colaboração e naturalmente aceitei sem pensar duas vezes. Mais notícias e "feedback" dos ambientes de estúdio em breve. "A Cause" parece-me mais do que justificada. Afinal, só com solidariedade é que se pode virar o mundo ao contrário.

Friday, April 15, 2005

Sampaio abre porta da Casa a Burmester

Na inauguração de hoje da Casa da Música, Jorge Sampaio abriu a porta ao regresso de Burmester, mostrando consequentemente um cartão amarelo a Rui Rio."A inauguração da Casa da Música tem de representar um virar de página. O caminho que nos trouxe aqui foi acidentado e nem sempre exemplo a seguir, com atrasos, polémicas malsãs, onde nem tudo foi rigoroso nem transparente e onde houve pessoas que injustamente ficaram pelo caminho", disse o Presidente da República.
Espera-se que Burmester regresse em Setembro, mês em que termina o contrato com o programador inglês que ninguém sabe como é que veio parar ao Porto e, já agora, que Rio não seja reeleito. Setembro mês de legislativas, Rio, que já começou a pré-campanha com as habituais festas das rádios cá da aldeia, no Rosa Mota, e com o teatro importado de Lisboa, no Sá da Bandeira. Na verdade, depois do puxão de orelhas de Sampaio, hoje de tarde,a cidade tem mesmo que acordar de uma vez por todas, pois Burmester entende mais de política do que Rui Rio de Cultura. E mais de metade das novelas da Casa da Música foram produzidas pelo minicípio. Penso que já chega. Este ano a cidade tem mesmo de mudar de canal.

Lou/Cura na Casa da Música


Lou Reed na Casa da Música, foto: Ricardo Meireles, CP Posted by Hello

"Lou Reed chegou, viu e gostou: "Que bela sala vocês têm aqui". O rock poético e intimista do co-fundador dos históricos Velvet Underground foi a banda sonora perfeita para a primeira de mil e uma noites de música tocada pela primeira vez bem no coração do empolgante edifício em forma de diamante. As boas vindas foram dadas pela brilhante prata da casa. Manuela Azevedo chamou a si todas as atenções e os Clã abriram caminho para uma festa que culminou na serenata negra do homem de Nova Iorque. Depois de atravessar o Atlântico, Reed iniciou no Porto a digressão europeia. Calmo, intimista, energético, arrebatador.
Seis anos após a primeira pedra, a Casa da Música abriu-se ao "NY Man". Reed revisitou alguns dos momentos mais criativos da sua já longa carreira. Co-fundador de um projecto fundamental para compreender a inteligente e tóxica revolução do rock a partir da "pop art" da grande maçã, Reed deu música a uma Casa há muito sedenta de melodias de encantar. Entre dias perfeitos e memórias de uma "Big Apple" fora de horas, o dramaturgo, fotógrafo, poeta e compositor recordou ambiente negros e góticos de Allen Poe. Convocou o público para uma celebração íntima. Em crescendo leva-o para onde o rock é inteligência. O auditório revibrou, perante as cortinas acústicas descidas.
A abrir a noite, no palco principal da Casa da Música, Manuela Azevedo e os Clã apresentaram-se entre luzes rosa. Plena de poder telegénico, a vocalista da banda serviu o novo espectáculo projectado para 2005 baseado no criativo "Rosa Carne".
Entre doses suaves e literárias de veneno caseiro, a líder do colectivo vilacondense manifestou-se comovida. "Foi uma grande honra para nós, sermos os primeiros a pisar o palco desta casa. Parabéns ao Porto e a Portugal por terem uma bonita Casa da Música", afirmou a sedutora e talentosa voz dos cativante Clã.
Concerto mais do que competente, mexido, emotivo e recheado de pontos altos e de interesses sonoros, deixando adivinhar um 2005 recheado de bom momentos para o grupo.
Uma noite de catarse, de festa e de reconciliação de uma cidade para com uma Casa que teimava em não nascer. Público jovem, dentro e fora do auditório, olhares sequiosos a devorar todos os ângulos possíveis e imaginários do agora menos bruto e mais amigável diamante.
Segue-se mais música por que a Casa, essa, já abriu."
in CP, Anastácio Neto, Luísa Marinho e Salomé Castro

Thursday, April 14, 2005

As exigências de Lou Reed

É a diferença de quatro décadas, se estivesse em nova-iorque no final dos anos 60 possivelmente não teria tantas manias, na verdade o boato que habita alguns corredores da "house" é o de que, para além de uma série e exigências próprias de uma "popstar", champagne, vinho do douro e nozes descascadas, Lou Reed queria três dias para preparar o "show" de logo à noite, na Casa da Música. O espectáculo esteve por um fio. Para além dos Clã terem de tocar às 21h00, durante apenas uma hora, por que o senhor das serenatas tem e ir cedo para a cama, é uma questão de idade, pois claro, ficar três dias com a Casa da Música para testar o som e luz parece-me um pouco exagerado. Acredito que as "tomorrow's parties" possam ser bem melhores, visto que no passado as coisas eram bem mais simples, o senhor Lou sabe-o muito bem. É sabido que na Europa, as estrelas têm outro brilho, mas há que ter alguma vergonha e já agora uma dose de bom senso, pois cá em casa também há bons artistas, sem tantas peneiras ou exigências... para quem caminhou nos "wild sides" há coisas que bem podiam ficar no outro lado da boulevard ou na outra margem do Atlântico.

Clã servem "Rosa Carne" na abertura da Casa da Música

Em conversa com Manuela Azevedo, a vocalista dos Clã confessou-se entusiasmada por ser a primeira a pisar o palco da Casa da Música. Logo à noite, os fãs de Rosa Carne terão a oportunidade de conhecer em primeira mão o novo alinhamento da versão 05 do álbum que em posts anteriores considerei o melhor do ano passado. Gostei, sinceramente da conversa, tive a oportunidade de sentir a inteligência de uma das melhores vozes da pop nacional. Depois de elogiar o serviço educativo, Manuela Azevedo não se deixou deslumbrar. "Espero que a Casa da Música não se torne uma simples sala de espectáculos e seja um verdadeiro laboratório para os músicos". Estava naturalmente a falar de estúdios de gravação, salas de ensaío e espaços de experimentação. Abrir a noite para um grande nome da música mundial para os Clã não é uma palmadinha nas costas mas antes o mais do que merecido reconhecimento. São uma das mais criativas, talentosas e superlativas bandas nacionais. uma prova viva que muitas vezes os venenos caseiros são melhores, mais naturais e muito eficazes.

Banda sonora reactualizada com Velvet Underground e Iggy Pop

No dia em que a Casa da Música abre as portas, a Banda Sonora reactualiza-se, oferecendo Iggy Pop & The Stooges e Velvet Underground.

Tuesday, April 12, 2005

Artigo da semana: "Os Cruzados"


Ilustração de Ed Sorel, "Rolling Stone" Posted by Hello

Artigo interessantíssimo de Bob Moser sobre a forma como a religião está a moldar a política externa norte-americana e a reescrever a história do EUA. O poder da "christian nation" no regresso de Bush à Casa Branca e muito mais. Um cocktail de "religion & politics" muito próximo das ementas de certos países árabes. Conferir na Rolling Stone

Monday, April 11, 2005

Ainda acredito na Casa da Música

Volvidos seis anos de construção, seis ministros da Cultura, cinco adminstradores, quatro primeiro-ministros, três presidentes de câmara e outros tantos vereadores da Cultura, ainda creio no projecto Casa da Música. Nunca alinhei nas teorias da conspiração dos "media", nem nas manias da perseguição mais ou menos institucionais. Lembro-me da polémica em torno do CCB, de como os meios de comunicação social souberam explorar as falhas do empreendimento e do sistema. Actualmente, a programação do CCB alimenta pseudo-programas de cultura nos três canais abertos. A história repete-se com a Casa da Música, espero que o sucesso também, e que, juntamente com Serralves, transforme o Porto num, há muito adidado, apetecível destino das rotas de turismo cultural.

Friday, April 08, 2005

Siza regressa a Serralves

Siza entra na galeria central de Serralves. Vira costas à janela gigante, contempla o interior do projecto que o ocupou durante praticamente toda a década de 90 e diz aos jornalistas: "Muitas pessoas olham para aqui e vêem quatro paredes pintadas de branco e pensam que é simples, só quatro paredes pintadas de branco. Não imaginam o esforço, as horas de trabalho que foram necessárias para atingir esta simplicidade, para ocultar todos os aparelhos de ar condicionado e tubagens". Eleva o olhar. Apercebe-se da presença de uma câmara de vigilância no canto da galeria. "Bem agora tem aquilo", aponta. "Enfim, tem mesmo de ser. São as seguradoras", justifica, semi-resignado.
No final da apresentação da exposição "Siza: Museus e Espaços", que hoje inaugura em Serralves, falei com o arquitecto. Entre outras coisas, disse-lhe que senti um carácter algo incestuoso em expor 18 projectos da sua autoria sobre museus precisamente em Serralves. Sorriu. Disse-me que não considera os seus trabalhos como filhos. "Quando são entregues ao dono, deixam de me pertencer".
Durante o próximo trimestre, o gabinete de arquitectura de Álvaro Siza muda-se para Serralves. Existe algo de pedagógico e altamente comercial na programação. Os alunos transformam-se em visitantes e o museu em universidade, numa homenagem inédita da criatura ao seu criador. Figura pop, Siza, humilde, genial, aproxima-se das massas. Serralves acolhe o seu guru e aposta no marketing, vende copos e cadernos. A arte alimenta-se de si própria, num sacrifício entre o redentor e o obsceno.

Thursday, April 07, 2005

Banda Sonora finalmente disponível


Yeah, Yeah, Yeahs Posted by Hello
Já se encontra disponível a primeira descarga da Banda Sonora aqui no "Vício". Dose inaugural a "clickar" na coluna lateral, em formato de trio de ataque, recupera "London Calling", dos Clash, "Maps", dos Yeah Yeah Yeahs, e "Little Sister" dos Queens of the Stone Age. A actualização dos temas será semanal. Boas trips...

Projecto "A Cause" em gestação

É mais recente novidade da AMIarte, aqui do Porto. Depois do inesquecível concerto no Coliseu "AMI pela Ásia", encontra-se em gestação o projecto "A Cause". Trata-se de uma excelente colheita de nomes históricos e novos valores da música feita em Portugal que ainda este mês se prepara para entrar nos estúdios da Numérica, em Paços de Brandão, e gravar um single cujas vendas reverterão a favor da missão da AMI na Ásia. Entre os convidados estão personalidades como Rui Reininho, com quem já conversei sobre o projecto e que me confessou estar completamente "in", Rui Veloso, Kalú (Xutos & Pontapés), André Indiana, Mónica Ferraz (Mesa), André Guedes (Blind Zero), Manuela Azevedo (Clã), entre mais de dezena e meia de convidados. O tema original intitula-se "Bring Back the Sun", da autoria de Andy Torrence, e, no single, virá deviamente acompanhado de vídeo-clip e extras das gravações. Espero que o projecto vá prá frente pois acredito sinceramente no trabalho que a AMI está a desenvolver no Sri Lanka. Enquanto o embaixador se decidia se devia ou não terminar as férias já a equipe de médicos portugueses da AMI se encontrava no local a prestar auxílio às vítimas do tsunami. Agora, mesmo com as luzes da aldeia global da informação voltadas para outras paragens, a AMI e o seu pessoal continuam na zona de calamidade, querendo alargar o auxílio por pelo menos três anos. A humanidade agradece. É a diferença clara entre trabalhar a sério para mudar algo ou simplesmente aparecer no momento conveniente para ficar a fotografia.

Sunday, April 03, 2005

Pensamentos sobre morte e apego


"Death of Marat II", Edvard Munch, 1907 Posted by Hello
A pessoa que mais amo no mundo perdeu recentemente o pai. Há 16 dias precisamente. A perda e o luto são, estão a ser, naturalmente, violentíssimos. Ao tentar, toscamente, ser farol e abrigo em noites de tempestade negras e frias, frequentemente penso no meu próprio pai. Como, apesar dos seus 69 anos e dos mais de 300 quilómetros que nos separam, ainda o contemplo com o ser imortal e omnipresente. Como mais tarde ou mais cedo irei inevitavelmente passar pelo mesmo processo e sentir uma dor assim de forte, de insana, de arrebatadora. Há dias li um texto budista que versava sobre a impermanência. "Todos os encontros acabam inevitavelmente em separações". Frase tão pragmática como autêntica. Na verdade, começamos a morrer no dia em que nascemos. As lágrimas que choramos não são pela pessoa amada que partiu, mas sim por nós próprios, pelo facto de perdermos a presença física de alguém que julgávamos que nos pertencia. Quanto mais cedo tomar consciência da impermanência de tudo o que me rodeia, mais depressa me aproximo do verdadeiro conhecimento dos fenómenos e de uma felicidade inabalável e independente dos factores externos. O problema é que sinto que ainda não dei o primeiro passo, que se perdesse o meu pai, apesar de todo o tempo e distância que nos separa, tenho a certeza que iria achar a maior injustiça do mundo se abateu sobre mim, sentir uma dor insuportável e chorar noites longas, negras e frias de uma solidão imensa...

Saturday, April 02, 2005

Vertigem do dia das mentiras na origem da notícia de Bono

Em verdade, a "vox" nem as "persona" de Bono não estão "in the house", nem vêm dar Música no dia 13 ao Porto. Trata-se da inverdade do dia das mentiras, publicada e seleccionada com muita originalidade ontem pel´ "O Comercio do Porto" e assistida legalmente pela tradição secular do dia 1 de Abril.
Tão inverosímil quanto atómica, a "falsa" notícia necessita hoje de ser devidamente desmantelada, não tendo deixa de causar alguns efeitos secundários no seio da comunidade melómana. À procura de um bilhete para assistir ao espectáculo do líder dos U2, muitos fãs da banda irlandesa decidiram conferir a "nova" e telefonar para a Casa da Música. Uma das mentiras mais interessantes publicadas ontem pelos "media", à qual não resisti em reproduzir aqui no "Vício".

Friday, April 01, 2005

Bono Vox traz êxitos dos U2 ao palco da Casa da Música no dia 13 de Abril


D.R. Posted by Hello
A anunciada surpresa que a Casa da Música há muito guardava na manga para a tão esperada abertura ao público foi ontem, finalmente, desvendada. Bono Vox, vocalista dos U2, vai estrear o grande auditório no próximo dia 13 de Abril, num concerto em que será acompanhado pela Orquestra Nacional do Porto. Os bilhetes são hoje postos à venda na Casa da Música, a partir das 9h30.

As negociações com Bono Vox foram concretizadas há cerca de uma semana, mas a organização do espectáculo manteve o "segredo" guardado a sete chaves para evitar que a esperada invasão de fãs - desejosos de guardar os primeiros lugares das filas junto às bilheteiras - atrapalhasse a venda de ingressos para os restantes concertos que marcam a inauguração da Casa da Música.

Ao contrário do que sucederá em Lisboa, no próximo mês de Agosto, Bono Vox não virá acompanhado pelos restantes elementos dos U2, mas promete interpretar os maiores sucessos da banda irlandesa num concerto onde será acompanhado pela Orquestra Nacional do Porto.

Bono chegará ao nosso país a 11 de Abril, um dia depois do concerto da banda irlandesa em San Jose, nos Estados Unidos, aproveitando um intervalo de quatro dias na digressão dos U2. Logo após a actuação na Casa da Música, Bono Vox partirá num avião particular de regresso aos EUA, onde no dia 14 se junta aos restantes elementos da banda para um concerto em Phoenix.

Rui Veloso em palco

O COMÉRCIO apurou, entretanto, que Bono Vox aceitou uma sugestão da Casa da Música no sentido de interpretar três músicas acompanhado pelo pai do rock português, Rui Veloso. O músico portuense voltará, assim, a actuar ao lado de um grande nome mundial, depois de ter feito o mesmo, por duas vezes, com o "bluesman" BB king.

O resto do espectáculo será preenchido em exclusivo por Bono Vox que, acompanhado pela Orquestra Nacional do Porto, irá interpretar os maiores sucessos dos U2. Por imposição da editora, o vocalista da banda irlandesa não poderá, contudo, incluir temas do novo álbum neste concerto que promete levar a Casa da Música ao rubro.

Pedro D´Antas in "O Comércio do Porto"