Friday, October 27, 2006

Maitena: os pensamentos das mulheres

Depois dos 40 o sexo tem menos tabús. Sente-se mais, pensa-se menos. Depois de ler a interessante entrevista de Márcio Resende à escritora/desenhadora argentina Maitena, publicada na "Única" desta semana, senti-me novamente feliz por ser homem e gostar cada vez mais de mulheres. Vivo há mais de sete anos com uma. É um ser maravilhosamente diferente de mim, uma prova cabal da existência de Deus, do bom e do belo.
No entanto, primeira grande questão que se coloca é: Quando uma mulher conversa com um homem e lhe conta um problema sério, ela quer dele uma solução ou simplesmente um ouvido?
Segunda grande questão: Quando uma mulher diz qualquer coisa, nós (homens) devemos entender o que ela disse ou o que ela quis dizer? Como e quando colocar os duplos sentidos?
Enquando a resposta à primeira questão parece óbvia. O que ela quer é mesmo um ouvido para desabafar. Quer ser entendida. Para nós homens a coisa é um pouco mais complicada. O instinto protector ergue-se, misturado com o ego e alguma vaidade, "afinal, de todos os machos desta selva, é comigo que ela está a desabafar", sentimos logo uma necessidade de a proteger, numa espécie de sindroma de "super-homem", queremos revelar toda a nossa força "sobrehumana claro" e, com um estalar dos dedos, resolver problema que tanto a aflige. "Tás a ver, viver comigo é assim, estás protegida de todo e qualquer problema. Nem tsumanis te conseguem tocar." Naturalmente, o leque de reacções masculinas ao desabafo feminino pode ir bem mais longe do que a do "protector", mas parece-me que esta é a mais primária e comum de todas. Estar simplesmente calado e ouvir o problema sem dar soluções, sem abrir a boca, é o grande desafio e simultaneamente a melhor solução...
A segunda questão, essa é um dos grandes enigmas da vida tal qual a conhecemos. O ideial é entender o que ela quis dizer e não o que disse, mas saber colocar os duplos sentidos na hora certa e no lugar certo requer uma sensibilidade e atenção absolutamente invulgares para o homem comum. Quem as possuir tem mais de metade dos problemas conjungais resolvidos. Naturalmente que, aos fins-de-semana, podemos continuar a ver alguma bola na televisão, (note-se escrevi alguma, não toda), mas tentar entrar dentro dos gostos, ambições e pequenos prazeres femininos pode ser um desafio mais interessante do que à partida parece. Neste campo, os gays já levam metade do trabalho de casa já feito, daí tanto sucesso e admiração com o sexo oposto. Mas, como em tudo na vida, é no meio que está a virtude. Até por que, aos domingos, é mais fácil sofrer com o glorioso do que ir à Timtoreto ou à Mango. Mas há sacrifícios que repetidos muitas vezes se tornam prazeres e, no final do dia, a recompensa é mais intensa e positiva do que as bolas à trave do Nuno Gomes.

Sunday, October 22, 2006

Meditação Vipassana: uma descoberta

Estive algum tempo ousente do mundo. Fui fazer um retiro. E que retiro. Deu mesmo para pôr algumas coisas em ordem. O curso de 10 dias de mediatação Vipassana foi para mim uma revelação. Uma das maiores da minha vida. Não foi fácil, e ainda bem, o final é bem mais recompensador. Apesar de ter alguma, pouca, experiência meditativa, orientada pelo Bal Krishna, no PazPazes, aqui no Porto, o silêncio dos dez dias e as generosas horas de meditação e a técnica vipassana trouxeram muita coisa à tona. Libertei-me de alguns complexos e nós que a minha mente guardava há já alguns anos. Penso que o meu ego sofreu um pouco durante este processo, mas ainda bem, ele merecia. Com o encerramento d´"O Comércio do Porto", o ter de sair temporariamente da minha área do jornalismo para "ganhar a vida", muita coisa se agitou dentro no meu grande "ego". O grande jornalista Anastácio Neto, que esteve a beber copos com os Radiohead no Anikibobó, na Ribeira, e ganhou prémios de melhores coberturas jornalísticas, de repente está desempregado, não é impossível. A vida é uma grande licção. Depois de ter deixado de fumar, beber, este ano, felizmente ganhei alguma coragem, a outra foi-me emprestada, e atirei-me de cabeça para a meditação vipassana. Os resultados são surpreendentes. Recomendo. Vou incluir o link da secção portuguesa de meditação vipassana neste blog. Be happy :)

Saturday, October 21, 2006

Reportagem: Salas de ensaio - parte II

“Este espaço é a nossa segunda casa”
Nesta nocturna viagem por espaços alternativos de ensaio na Invicta, fugimos mais para norte da cidade, entrando na freguesia de Ramalde, encontramos o “edifício Chrysler”, na rua Delfim Ferreira. Construído nos anos 60 por um dos grandes nomes da arquitectura portuguesa, Artur Andrade, responsável, entre outros, por projectos tão emblemáticos na cidade do Porto como o cinema Batalha, o prédio de escritórios acolhe temporária e alternadamente perto de uma dezena de bandas.Os primeiros sons a ecoarem no edifício foram destilados pelas Amarginhas, com a voz da Fatuxa a embalar a casa desenhada pelo avô, Artur Andrade. O projecto entretanto extinto, cedeu lugar, na aurora do novo milénio, aos Checkpoint Charlie. João Pedro (a.k.a. Jp Sarembe) acompanhou ambas as bandas e conhece como poucos os cantos à casa.
Na entrada do piso quatro, azulejos à antiga portuguesa avisam o visitante. “Nesta casa só têm lugar os que concorrem para o seu engrandecimento”. Duas portas para lá do som dos Columbia, que freneticamente debitam um metal de surpreendente qualidade e arrojo, os Checkpoint Charlie apresentam a sua “segunda casa”. “É mesmo isso. Se calhar ainda passamos aqui mais tempo do que na nossa habitação primeira”, afirmam apesar de actualmente partilharem o espaço com os recém nascidos Mescla. Os Checkpoint afirmam-se como um dos segredos mais bem guardados do Porto. Concertos inesquecíveis no Hard Club e Vilar de Mouros valeram uma base inteligente de admiradores. “Para além dos ensaios, utilizamos este espaço para, juntamente com um grupo de amigos, cruzarmos artes, ideias e culturas – confessa João Pedro – já organizamos aqui, por exemplo, sessões de pintura”.
Mais amplos do que os espaços de centro comercial, os escritórios do “Chrylser” contêm um cheiro a modernidade pop que convidam a um intimismo de “after-hours”. No entanto, quando mais de três bandas ensaiam no mesmo sector, os sons confundem-se e a acústica convida ao desafio do quem toca mais alto. Ao fundo, ainda se ouvem os acordes pesados dos Columbia. “Bem, se fossem aqui os nossos vizinhos do lado era pior” afirma Fernandinho, baterista. Nas paredes, fotografias de concertos, artigos de jornal, creditações. “Já tocamos juntos há mais de 20 anos. Vimos para aqui todos os dias. Este espaço reflete essa vivência em comum e é de facto muito mais do que uma sala de ensaios e uma segunda casa, tem um sentido de história e de pertença muito próprias”, afirmam.
Depois da gravação do EP e de um 2005 pleno de actividade, actualmente o projecto encontra-se numa espécie de descanso sabático para recuperar forças e ganhar balanço para um futuro certamente inovador. O espaço, esse afirma-se como uma república do som e das artes altamente recomendável e que importa conhecer. Silky, Stowaways e Zen já passaram por aqui.

Continua (...)