Thursday, March 31, 2005

Resultados do concurso do IA ou a táctica do elefante

Foram conhecidos ontem os resultados dos concursos do Programa de Apoio Sustentado às Artes do Espectáculo. Apesar do ligeiro aumento relativamente a 2004, o Norte ficou na cauda das regiões a apoiar pelo IA. Apesar de conhecer excelentes profissionais do teatro, dança e música aqui no Porto, e que certamente terão a partir de hoje as suas vidas bem mais complicadas, não sou "bairrista" acreditem, até por que passei uma parte considerável da minha vida em Lisboa, no entanto, quando se conhece as pessoas, a sua honestidade e esforço de criação, dói olhar para a injustiça de certos números. O problema é ser-se português, descupem a franqueza. Bons profissionais existem de Norte a Sul do país. Quando só se têm 0,6 por cento do OE reservado à Cultura, apoiar o acto criativo em Portugal é equivalente a tentar cobrir um elefante com um guardanapo...

Tuesday, March 29, 2005

Pensamento


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"Só se consegue amar alguém quando não se necessita do amor dessa pessoa", Tsering Paldron

Monday, March 28, 2005

QOTSA - "Lullabies to Paralyze"


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Estou neste momento a ouvir o mais recente "Lullabies to Paralyze", enquanto escrevo estas linhas. Talvez expectativas demasiado elevadas levam-me a colocar esta viagem quase surreal pela iconografia audiovisual dos contos de fadas num plano inferior às "canções para surdos", no entanto, "Little Sister" é indubitavelmente o primeiro grande single rock a atingir rádios e televisões este ano. Recordo-me perfeitamente da conversa com Mark Lanegan no Hotel Meridian, aqui no Porto. Saudades dos Nirvana, paixões de PJ Harvey e viagens pelo deserto californiano, com algumas sessões orientadas por Homme à mistura. Depois o concerto no TSB. Fiquei com um zumbido nos ouvidos durante três dias. Altíssimo e com muito bom som, os QOTSA ofereceram um dos melhores concertos que aquele templo, actualmente ocupado por La Féria, alguma vez recebeu. Depois foi no histórico Paredes de Coura 2003. Ano de grandes novidades na área do rock. YYY e a Karen em grande destaque numa estreia em território nacional que não poderia perder.
Volvidas algumas primaveras e outras tantas saídas, temporárias acredito, as novas canções de embalar não possuem a mesma dose tóxica e inebriante de "Songs" ou "R". No entanto, "Someone Is In The Wolf", "The Blood Is Love" e "Broken Box" afirmam-se como propostas musicais da mais elevada qualidade. Riffs do Josh lembram Page, os coros Sabbath, tudo misturado com a ironia feliz e descontraída da Califórnia. Continua a ser um prazer ouvir os QOTSA e um ruído ler as infelizes comparações entre Castillo e Grohl.


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Sunday, March 27, 2005

TV OFF

Oito dias com a televisão desligada. Já pensei em simplemente oferecer o electrodoméstico, mas ainda não estou tão "clean" quanto pensava...

Cradle of Filth no Coliseu e novidades discográficas

Passei a noite de ontem no Coliseu do Porto a assisitir ao novo espectáculo dos britânicos Cradle of Filth, após a escuta prévia da proposta 2005, "Nymphestamine", numa edição especial de dois CD, com seis faixas-bónus e o vídeo-clip do single. Apesar de não ser um adepto do black metal, longe estou dos tempos da secundária ao som dos vinis de King Diamond, Slayer, Sepultura e Metallica, considerei o trabalho dos Cradle bastante interessante em termos estéticos e sonoros. Justifiquei a minha presença e as sensações e conceitos do espectáculo num artigo a pulbicar amanhã no "Comércio do Porto".
O disco é bem mais interessante que a apressado espectáculo "live". Apesar da considerar que a inclusão da voz e do visual de Sarah Jezebel ser uma piscadela de olho ao lucrativo mercado dos adolescentes, tendo como referência a explosão Amy Lee, dos Evanescence, e do design e encenação em palco serem marcadamente importado das propostas cinematográficas dos anos 80, entre o "Exorcista" e "Hellraiser", alias ainda me recordo da conversa com Doug "Pinhead" Bradley no Fantas, que novamente colabora como narrador neste novo trabalhos dos Cradle, não dei a noite como perdida.
Tenho na bagagem uma série de discos para ouvir. Os novos trabalhos dos Queens of The Stone Age, que numa breve audição deixa muito a desejar em comparação com o poderoso "song for the deaf" e destaco ainda o novo EP dos RAMP, com uma "cover" interessantíssima de "Planet Earth" dos Duran Duran, que bem pode servir de cavalo de Tróia para LP "Nude", que, apesar da qualidade, tem sido muito mal tratado pelos "media".

Wednesday, March 23, 2005

Apego e sofrimento


Vasily Kandinsky, Composition 8, Julho 1923.
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O luto de alguém que amo levou-me a refletir sobre o apego e a forma como nunca estamos preparados para deixar partir a pessoa amada ou o objecto da nossa afeição. Todos os encontros nesta vida acabam inevitavelmente com uma separação. Quanto mais profunda e antecipadamente tomarmos consciência desta impermanência menos estamos sujeitos ao sofrimento...

Monday, March 21, 2005

Império Blasted: Episódio III - Avatara

Império Blasted editou hoje episódio III: "Avatara". Com "Namaste", 2003 afirmou-se como o ano de todas as emiss~ees intergalácticas dos Blasted Mechanism. De Paredes de Coura aos noites Ritual, assisiti a pelo menos uma boa meia dúzia de espectáculos, "Are You Ready", single revelado em vídeo-clip no Fantas, dominou o território "live" de Portugal e arredores. Volvidos dois anos, os mensageiros mutantes reinventam-se com "Avatara", terceiro episódio discográfico a libertar hoje nas discos, aventura cósmica do colectivo karkoviano renascido há uma década algures na margem direita do rio Tejo, planeta Terra. Em termos conceptuais a quarta mutação transforma o trio Ary, Karkov e Valdjiu em elementos congregadores. Depois de guerreiros, recolectores e apaziguadores, "Avatara" (designação referente a encarnações divinas na teologia brimânica; do original sânscrito "avatar":"descida do céu"), o planeta Terra surge novamente como o território de todas asmanipulações. Para os Bastled a salvação dos humanos ainda é possível.Mais orgânico e menos electrónico, "Avatara" não se desvia no essencial das sonoridades formalizantes do colectivo. "Blasted Empire" inaugura, em velocidade "wrap", uma viagem sónica por um registo equilibrado, entre renovadas incursões tribais de cítaras e didjiridoos, com a voz de Maria João em destaque, e na assunção de atmosferas urbanas, desta vez, simplificadas pelo "rap" profético dos Dealema. Em conversa via telefone, Ary confessou-me que "Avatar" um disco mais espiritual". Para o baixista e co-produtor, "a presenãa de Maria João singnifica a concretização de um sonho", "os Dealema oferecem um cáracter urbano" e o "DJ Nelassassin um virtuosismo na área do djing". Ao vivo, os Blasted prometem um "up grade" tecnológico. Novas roupas de Gerardo Haro, concretizam a quarta metamorfose, acompanha por uma reactualização do espectáculo de som e luz. Depois da digressão de apresentação antecipada, que passou pelo Porto na passada sexta-feira, (infelizmente não pude assistir), "Avatara" será certamente um dos pratos princípais da temporada de concertos a atingir o verão 2005. Sem surpreender, em termos musicais, possui a essência destilada nas vibrações orientais dos Blasted. Uma banda que ao vivo vampiriza-se com a proposta estética. As narrativas e os personagens "live" devoram os músicos por detrás das máscaras.

Friday, March 18, 2005

As politicas culturais da minha aldeia

Infelizmente, Rui Rio parece mesmo empenhado em se recandidatar à Câmara Municipal do Porto. Para tal não olha a meios para atingir fins. Desta vez a vítima, para além do habitual bom senso, foi Filipe La Féria. Rio teve o descaramento ontem de manhã de convidar os jornalistas para assistirem à assinatura de um protocolo entre a CMP e La Féria no Teatro Sá da Bandeira. Para além de convidar terceiros para uma casa que não é sua, quando li o documento tomei consciência de que a peça de teatro já estava a ser representada e não era "A Rainha do Ferro-Velho", pois essa estreia hoje à noite, nas sim "O Homem da Máquina de Calcular", um clássico cá da aldeia. Rio e La Féria eram de facto dois actores em plena laboração, sendo o segundo um "casting" algo inesperado, confesso. No protocolo, Rio é obrigado a ceder locais para afixação de cartazes e "mupis" à produção do espectáculo, a comprar bilhetes para as peças "A Rainha do Ferro-Velho" e "A Menina do Mar", e finalmente, numa espécie de pré-campanha eleitoral, a oferecer essas entradas a idosos e crianças do Porto. Mais imoral ainda, o documento obriga a empresa de La Féria, Bastidores, a ficar no Teatro Sá da Bandeira durante três meses e a recuperar o malogrado teatro. Agora, pergunto-me, sendo o TSB um espaço privado, gerido por uma empresa privada, como é que é possível a Câmara do Porto assinar um documento que obriga La Féria não só a ficar numa casa que não é sua e para a qual naturalmente teve de pagar renda ou aluguer, como também o compromete a fazer obras (naturalmente de fachada e cosmética, pinturas e limpezas de pó) num espaço que não pertence nem à Bastidores nem à CMP, os dois outorgantes do documento. Estamos na esfera do ridículo e da encenação, no seu sentido mais puro.
PS: Nota negativa para a colega de curso e de profissão, Joana F., da RTP, que de microfone em riste e sorriso rasgado, em frente a Rio, habita esta mesma esfera do ridículo e da encenação, ao fazer as perguntas e a oferecer as respostas."Estas obras, senhor presidente, são o primeiro passo na tão espera renovação do Teatro Sá da Bandeira?"

Tuesday, March 15, 2005

A filosofia de Tino Navarro


"Um Tiro no Escuro", filme de Leonel Vieira Posted by Hello

É já na próxima quinta-feira que estreia em Portugal a mais recente produção de Tino Navarro, "Um Tiro No Escuro". Não posso comentar a qualidade da proposta realizada pelo seguríssimo Leonel Vieira, pois ainda não tive a oportunidade de assisitir à antestreia. No entanto, na semana do Fantasporto, travei-me de razões com Tino Navarro, uma das figuras em homenagem na versão 05 do certame, e foi uma das pessoas que sinceramente mais gostei de conhecer. Para além da clareza de pensamento, agradou-me sobretudo a humildade e a forma profissional e humana como comanda suas produções e gere os egos de realizadores e actores. Sem nunca perder de vista as temáticas sociais, Navarro, que nasceu em Vila Flor, conhece e não esquece, o que ainda é mais raro, o Portugal profundo. Através de propostas cinematográficas indubitavelmente comerciais tenta, e não raras vezes consegue, comunicar com as massas, dizer o que pensa, sente e sonha. Das temáticas da droga, em "Tentação", às utopias de Cunhal, na excelente mini-série "Até Amanhã Camaradas", Navarro preocupa-se com o concreto. Recordo que a propósito da "Tentação", o produtor confessou que sentiu necessidade de abordar a temática da toxicodependência a partir de uma notícia que leu, na qual uma mãe, já idosa, habitante de uma aldeia do Portugal rural, foi entregar-se a uma esquadra da GNR. A história que a senhora contou às autoridades foi desconcertante. A velhota tinha um único filho que era tóxicodependente. Perante a incapacidade de o curar e ao conviver diariamente com a espiral de autodestruição e sofrimento do filho, acabou por pegar numa caçadeira e assassinar o próprio filho enquanto este dormia, na cama de sua casa.
No meio cinematográfico, Navarro tem fama de ditador, mas é no respeito pelo esforço e na responsabilidade social e humana que nasce uma exigência com a qual Portugal infelizmente ainda não se habituou a conviver. Apesar de sinceramente não me atrair grande parte das suas propostas, aplaudo a capacidade, o talento e a urgência de também em Portugal haver quem seja capaz de produzir cinema para todos, sem estar constantemente a queixar-se e a mendigar subsídios para depois fazer cinema para o umbigo. Necessitamos de ter uma indústria cinematográfica autosuficiente. O público português precisa de se reconciliar com o seu cinema. A àrea comercial, mais do que qualquer outra, tem uma palavra a dizer neste contexto. Gosto de Oliveira, adoro Canijo, admiro Rocha, mas duas ou três andorinhas não fazem uma Primavera, que necessita de flores, cores e aromas para todos os gostos.

Sunday, March 13, 2005

corpo/máquina/identidade

Filmes como Matrix ou eXistenZ que têm como tema central a questão de corpo/máquina fazem-nos reflectir sobre a velha ambição humana de recriar a máquina à sua semelhança.
As novas tecnologias reformulam a noção de corpo, matéria, espaço e tempo. Uma nova dimensão do que é o corpo e do que é a realidade pode ser vivida cada vez que olhamos à nossa volta e experienciamos as novas tecnologias. No ciberespaço, espaço não-linear, podemos criar novas identidades, eliminando conceitos como o de género, por exemplo (nos chats, cada um pode construir-se, adoptando o tipo de personalidade que desejar, o sexo que preferir, em suma inventando e vivendo uma identidade). Assim, e por essa mesma razão, a definição de corpo passa a ser desnecessária, importando apenas a identidade criada através da máquina (no caso o computador pessoal ligado ao super-computador que o conecta aos outros através das hiper-redes). O corpo e a máquina integram-se em simbiose no espaço virtual da internet. Até que ponto é que a ser que conhecemos no chat é real? Será mais real o ser com um corpo com quem falamos no dia-a-dia? Do mesmo modo, impõe-se a questão da identidade de um corpo ligado a uma máquina hospitalar. Retirados os tubos, os ventiladores, soros, alimentação artificial que se interlaçam unidos ao computador, o ser humano morre. Então, nessa simbiose corpo/máquina, onde está a identidade? Marvin Minsky, do Massachussets Institute of Technology, diz claramente: "a próxima geração de computadores será tão inteligente que teremos sorte se eles nos permitirem manter-nos em casa como animais domésticos. Se desejamos assim tanto criar máquinas que facilitem a nossa existência, perpetuando a nossa ancestral vertente egoísta e preguiçosa, é muito importante, urgente até, diria eu, responder às velhas questões ontológicas de "quem somos, de donde viemos, para onde vamos". Onde está a individualidade e a consciência? Onde é que reside a vida? No corpo ou na máquina? A minha resposta é que a vida não está nem no corpo nem na máquina, mas é algo de transcendente. O ser humano tem essa transcendência que lhe está limitada pelo corpo. Essa consciência ou identidade tem a livre opção de partir, pois existe num outro espaço que não se deixa controlar por nenhuma máquina. É um espaço de liberdade e de felicidade. Mas poucas pessoas se preocupam com uma reflexão sincera e metodológica sobre esse espaço, sobre essa transcendência...

Saturday, March 12, 2005

"Ossário", de Mark O`Rowe, pela Assédio

Depois da estreia d´ “A Testemunha”, da sueca Cecilia Parkert, a companhia Assédio regressa ao Pequeno Auditório do Rivoli, à temática violência contemporânea, em formatdo de monólogo. A mais recente proposta, “Ossário”, do irlandês Mark O´Rowe estreia hoje à noite com encenação a cargo de João Cardoso. Uma descarga centrada no poder da palavra poética, brilhantemente traduzida por Francisco Luís Parreria, ganhar carne e rosto em três mulheres que partilham numa viagem marcada pela perda de humanidade numa cidade imaginária, mais perto de nós que se provavelmente seria de desejar. Da sarjeta mais suja e repelente ao rio mais límpido e inocente, as emoções brutam do verbo dito no feminino.
Estreante na Assédio, Isabel Queirós é Olive Day, uma marginal sem pudor nem receio da morte; a experiente Rosa Quiroga, Allison Ellis, uma mãe angustiada com a velhice e o declínio físico, e finalmente, a seguríssima Alexandra Gabriel é Tilly McQuarrie, uma “Christiane F”, sem qualquer espécie de futuro ou esperança de humanidade.
Olive Day inaugura a tríade de monólogos descrevendo uma paisagem ribeirinha, onde brincam alguns miúdos. Apesar de rapidamente se dissipar na violência suburbana, a aguarela de paz e tranquilidade do rio funciona como chave de abertura e encerramento de toda a narrativa. Allison Ellis. Envergonhada por estar a envelhecer confessa a pulsão pela segurança e o dever de cuidar o rebento. “O meu filho tornou-se um estranho para mim”, confessa. Finalmente, Tilly McQuarrie. Uma arrumadora de carros perto de si, vende o corpo para arranjar dinheiro para a heroína. Um esquelo humano em decomposição, a caminho da morte.
Três mundos que se cruzam numa narrativa de vingança, marcada por um dramatismo visceral, pungente, sugestivo e imagético. Entre crimes sem castigo, histórias gangsters e chulos, as atmosferas de subúrbio omnipresentes na obra de Mark O´Rowe, fica a oportunidade de conhecer um dos mais jovens talentos da dramaturgia irlandesa. "Ossário" permanece no Pequeno Auditório do Rivoli até ao próximo sábado, dia 20 de Março.

Sunday, March 06, 2005

Gala de encerramento da 25ª edição do Fantasporto


"Old Boy" Posted by Hello

A 25ª edição do Fantasporto encerrou ontem à noite, no Grande Auditório do Rivoli, no Porto, com uma intensa chuva de estrelas que juntou algumas figuras relevantes da história do cinema fantástico, como John Hurt e Doug Bradley, as quais tive o privilégio de conversar, Karen Black, Guilhermo del Toro, passando pelo grande vencedor da noite o jovem Vincenzo Natali foram outras das presenças a ter em atenção. Sem grandes surpresas, mas com muita justiça e algum bom gosto, "Nothing", de Natali, que depois de "O Cubo" e "Cypher" soma o terceiro galardão no Fantas, e "Old Boy", do sul-coreano Chan-Wook Park, venceram os prémios para melhor filme nas categorias de Fantástico e Semana dos Realizadores, respectivamente. Mais do que assistir a cerimónia, que este ano foi registada pela RTP, tive o privilégio, a convite da organização do Fantas, de entregar o Prémio da Crítica ao alemão Ayassi por "Vinzent".
Depois de uma intensa semana de trabalho, fico com memórias interessante. Desde logo as entrevistas a Doug "pinhead" Bradley, John Hurt e Tino Narravo, e uma série de filmes recomendáveis, entre os quais destaco, na área mais comercial, "Saw" e "Constantine". O primeiro para os fãs do "Seven", sem o talento de Fincher, mas com um argumento inteligente, e o segundo, pela abordagem, sobretudo, estética, ligado às atmosféras da banda desenhada para adultos da DC Comics, da qual nutro as propostas "Sandman", de Neil Gaiman e Dave Dave Mckean, que considero francamente mais consistentes. Numa vertente mais de autor, a grande recomendação vai para "Old Boy", o justo vencedor do Fantas. Filme imperdível pela inteligência e originalidade do argumento, pelas referências subtis e equilibradas à cultura do vídeo-game, com mensagens "animé" quase subliminares pelo meio, por um trabalho de fotografia e gestão narrativa absolutamente invulgar.
Notas negativas, para a grande maioria do cinema espanhol, que este ano, com a ligeira excepção de "Hypnos", perdeu muita da qualidade apresentada em anos anteriores e para a falta de acompanhamento e inteligência dos meios de comunicação social. Com personalidades tão interessante da sétima arte em Portugal, o futebol do pontapé na canela e a política de fim-de-semana continuam, infelizmente, a ter mais relevância mediática, sobretudo, na televisão. Apesar da RTP ter registado, pela primeira vez a gala de encerramento, vendo-se assim forçada a cumprir a promessa de duplicação de verbas do Morais Sarmento, a ressaca nos noticiários do dia seguinte ficou num nível inferior aos concertos do Toni Carrera nos coliseus. As vezes, viver em Portugal é estar condenado a um terceiro-mundismo entre o deprimente e o boçal. Até quanto?

Friday, March 04, 2005

À conversa com Doug Bradley


Doug Bradley no papel de Pinhead da saga "Hellraiser" Posted by Hello

Uma das figuras tutelares do cinema de horror no final dos anos 80, o britânico Doug Bradley encontra-se no Porto a convite do Fantas. Tive a oportunidade de realizar uma breve entrevista com o reconhecido "Pinhead" da saga "Hellraiser" no Hotel Infante Sagres. Entre vários temas, conversámos sobre a ascensão da máquina Hollywood dos sustos para a adolescentes e a forma como a indústria norte-americana do espectáculo tem aniquilado toda e qualquer proposta séria numa área tendenciamente tão criativa como a do horror. Actualmente a própria série "Hellraiser" encontra lançamento directo para vídeo, ou melhor DVD. Uma realidade que tem os dias contados, pois Clive Baker, criador da série que já conta com pelos menos sete títulos, encontra-se a escrever o episódio final da saga, que inclui a morte, ou melhor, o desaparecimento, de Pinhead.
Bradley revelou-se uma figura serena com um humor particulamente interessante. Fã dos Coolplay e Beatles, apesar das colaborações com os Cradle of Filth; admirador do personagem Hannibal Lecther e estudioso do fenómeno das máscaras na sua transposição do teatro para o cinema de terror. Um rosto que faz parte da galeria de horrores da sétima arte. Gentil, é um dos casos em que o personagem acaba por aniquilar o actor. Pela segunda vez no Porto, Bradley passou a manhã a visitar igrejas. Amanhã à noite será uma das figuras em destaque na gala dos 25 anos do Fantasporto do Rivoli. A RTP fará o favor de cumprir a promessa dos 150 mil euros de Morais Sarmento e registará a cerimónia.