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Thursday, June 16, 2005

Garrett de olhos vendados

Protesto com elevado peso simbólico, a companhia Art´Imagem encobriu ontem a tarde a estátua de Almeida Garrett, situada em frente à Câmara Municipal do Porto, num criativo protesto dirigido à ministra da Cultura e ao histórico atraso na atribuição dos concursos do IA. A polícia municipal demorou pouco mais de meia-hora até se dar conta da ocorrência, apesar dos José Leitão ter alertado a autarquia e conseguido autorização do Governo Civil. Na realidade, foi quase patético assistir à intervenção da Polícia Municipal que revela o estado de ignorância democrática e deintimidação civil que actualmente atravessa vários sectores da sociedade portuense. Esperemos pelo bom senso eleitorial do povo da Invicta e pelo trabalho de casa do PS. Já falta pouco até Setembro.

Teatro a Norte lança ultimato à ministra da Cultura

É o esgotar da paciência. As estruturas teatrais a Norte deram ontem um ultimato à ministra da Cultura. Se até terça-feira não resolver o problema dos subsídios, Isabel Pires de Lima terá de enfrentar um tsunami de manifestações e protestos colectivos. Situação há muito prevista. Em posts anteriores, desde o anúncio dos resultados, que esta situação era mais do que esperada. Actualmente, o tecido teatral do Porto, em particular, e do Norte, em geral, esta a atravessar uma das piores crises de sempre. Com os lamentáveis resultados do concurso do IA fixados em Março e "congelados" pela providência cautelar interposta pela Panmixia, em finais de Maio, as consequências a nível da produção não se fizeram esperar. Quem conseguiu crédito bancário ainda pode sobreviver durante alguns meses, casos contrários, como o das "Boas Raparigas" morrem lentamente. Não será de esperar que Isabel Pires de Lima crie uma linha de crédito para as companhias até à próxima terça-feira, não por falta de tempo, pois esta situação era como já afirmei até à exautão, mais do que previsível, mas por inércia pura e simples. Depois da desilusão Paulo Cunha e Silva, não deixa de ser lamentável, que gentes do Norte quanto chegam à capital sofrem de uma amnésia e inércia unicamente explicável por alguns complexos de inferioridade ou traumas provincianos. Não que deva beneficiar a região que os viu nascer, pois esta não fez esforço algum para que tal acontecesse, como é óbvio, mas que, pelo menos, tratem com maior inteligência e justiça uma região que ainda necessita de apoio cultural e formação a nível do ensino para sair de uma situção de claro atraso não na criação mas na fruição e consumo de bens artísticos.

Thursday, June 02, 2005

Fim-de-semana em grande no Porto

Depois da abertura do FITEI versão 2005, no TNSJ, que contou com as presenças de Mário Dorminsky/Beatriz Pacheco Pereira, Regina Guimarães/Seguenail, Isabel Alves Costa, José Cruz dos Santos, Jaime Azinheira, João Luís entre outros, o próximo fim-de-semana no Porto promete ser de grande actividade a nível cultural. Para além do FITEI, Serralves promete 40 horas de festa e o Festival da Fábrica, de Alberto Magno, apresenta alguns dos melhores movimentos de dança contemporânea da actualidade. Entretanto a Feira do Livro continua a promover o prazer da leitura no Pavilhão Rosa Mota. Junho não poderia ter começado da melhor maneira. Motivos não faltam para desligar a televisão e sair de casa para saborear algumas das propostas em cartaz para este fim-de-semana no Porto.

Monday, May 30, 2005

FITEI 2005

Arranca amanhã, dia 31, a 28ª edição do FITEI. O mais antigo festival de teatro realizado em Portugal acolhe na inauguração da versão 2005, "Berenice", de Racine, proposta do D. Maria II de Lisboa, traduzida por Vasco Graça Moura, com música de Mário Laginha e a actriz Beatriz Batarda em destaque. Seguem-se 16 espectáculos em 13 dias. Conversei hoje com Mário Moutinho e, sinceramente, considero a programação bastante mais equilibrada do que a 2004, onde as peças brasileiras dominaram todo o certame. Apesar de todos os problemas orçamentais, ligados, inevitavelmente, a mais do que reportada crise do IA, com empréstimos bancários pelo meio, fica a chamada de atenção para a abertura de um festival que merece atenção da crítica e essencialmente presença do público.

Tuesday, May 17, 2005

"As Boas Raparigas" vendem espólio

Mais uma companhia teatral do Porto à beira da falência. "As Boas Raparigas" reservaram o dia de hoje, no qual deveriam estrear "A Lei de Sócrates", sobre textos de Platão, para uma venda de garagem. É a luta pela sobrevivência. Com apoios do IA congelados e com os bancos a negarem empréstimos, a companhia não tem dinheiro para pagar a renda no próximo mês. Conversei com Maria do Céu Ribeiro sobre o futuro das "Boas Raparigas". O cenário mais do que incerto permanece cada vez mais sombrio.

Monday, May 16, 2005

FITEI pede crédito bancário para sobreviver

O mais antigo festival de teatro realizado em território nacional, o FITEI só se realiza este ano por que a organização do evento pediu crédito bancário no valor de 130 mil euros. O apoio de 165 mil (82.5% do orçamento total) resultante do concurso do Instituto das Artes e os 25 mil da Câmara Municipal do Porto ainda não entraram nos cofres do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica. A versão 2005 arranca dia 31, no TNSJ, e termina a 12 de Junho, no Rivoli, do Porto, naturalmente. Vários espectáculos, como "D. Quichotte", dos franceses Plasticiens Volants, tiveram mesmo de ficar na gaveta.

Saturday, May 14, 2005

O requiem das companhias teatrais do Porto

É uma morte lenta e há muito anunciada. Há vários meses, através de repetidos "posts" tenho vindo a alertar para o desespero em que se encontram grande parte das estruturais teatrais da cidade do Porto e lançado algumas reflexões sobre a eterna problemática da subsídio-dependência. Agora parece que de repente estalou o verniz e a pedra finalmente atingiu o charco. Com a associação cultural Panmixia a congelar a já cinco meses atrasada atribuição dos subsídios do IA através de uma autista providência cautelar, que a única coisa que serve é para adiar ainda mais a concretização dos referidos apoios, várias companhias da cidade estão em já a vender roupas e cenário para sobreviver, enquanto outras, para além de se limitarem a encenar monólogos, olham para uma suspensão de actividades como algo praticamente inevitável. Ontem a Plateia veio de Lisboa com uma boa notícia. O Ministério da Cultura comprometeu-se a pagar os apoios ou parte deles imediatamente depois da decisão do Tribunal Administrativo sobre a dita providência cautelar, que enquanto não for indeferia mantém em suspenso o concurso do IA e os cofres das companhias vazios. Falei com vários responsáveis pelo teatro no Porto e o desespero é quase total. Acaba por ser patético o MC afirmar que os fundos estão prontos com cinco meses de atraso e não deixa de ser ainda mais lamentável que uma companhia que ficou de fora dos concursos acabe por prejudicar as restantes 20. Na realidade, como já tinha comentado, num país onde o Orçamento de Estado para a cultura se reduz a apenas 0,6 por cento, tentar subsídiar a criação artística é como tentar cobrir um elefante com um lenço de papel. É verdade que no Porto, provavelmente existe uma inflação de companhias teatrais, mas, no entanto, o norte do país tem de receber, tendo em conta o sua densidade populacional, um valor que se aproxime da média nacional. Este ano ficou muito abaixo do que seria moral e estatisticamente recomendável. Sei, no entanto, que o alguns responsáveis do MC estão a pensar em alterar as regras dos concursos. Na realidade, o problema está na dimensão do bolo. Mudam-se as regras, de pouco vai adiantar, todos os anos alguném tem de ficar de fora e as migalhas a distribuir continuam a ser o que são migalhas. Sem querer ser populista, acredito que necessitamos de mais cultura e menos submarinos, mais choques artísticos do que tecnológicos.

Friday, April 29, 2005

Sugestão de teatro: "Ser e Não Ser"

Posted by Hello


Tive a oportunidade, em forma de antecipação, de conversar ontem à tarde, no Teatro Rivoli do Porto, com a encenadora e actriz Maria do Céu Guerra. O resultado da conversa/entrevista pode ser lido na integra na edição de hoje do CP, no entanto, e tendo em conta a estreia, logo à noite, da proposta "Ser e Não Ser", pela companhia lisboeta "A Barraca", a minha sugestão teatral para este fim-de-semana, e em jeito de síntese/apresentação, surge-me como pertinente afirmar que a proposta reveste-se de especial interesse, não só pela coragem/ousadia de revisitar 27 séculos de história teatral em mais de seis horas de representação dividias as três episódios, hoje às 21h30, amanhã às 16h00 e o derradeiro olhar sobre o contemporâneo, no sábado às 21h30, como também pela lucidez e coragem dessa grande figura dos palcos nacionais.
Na realidade, fiquei com a melhor das impressões. Maria do Céu Guerra revelou um olhar inteligentíssimo sobre o contexto teatral português, lançado farpas, bem estruturadas quanto afiadas, em direcção ao Instituto das Arte que, no entender da actriz, "representa o período de novo-riquismo que actualmente estamos a viver". Importante contextualizar a observação, com o facto/discurso de sobrevalorização do IA de Paulo Cunha e Silva sobre as arte plásticas contemporâneas, sobretudo as de carácter experimental em deterimento do teatro e outras propostas mais "clássicas". Nota também de preocupação relativamente à invasão de modelos, caras lindas e outras figuras capas de revistas com alguma telegenia nas produções televisivas e nos palcos. Falta ainda regulamentar a profissão de actor, de forma a que quem estude durante quatro ou cinco anos não seja simplesmente passado para trás por uma boazona que tirou um "workshop" de sorrisos para a câmara nas horas vagas.
Fica a sugestão para quem habita o Porto, de entre hoje e amanhã apanhar pelo menos um dos três capítulos desta viagem pela história do Teatro, de Eurípedes a Arthur Miller, intitulada "Ser e Não Ser" conduzida, desde logo, por um nome superlativo e referêncial dos palcos e da representação. Parabéns à "Barraca" pela ousadia e qualidade do projecto.

Shakespeare. Richard III: Act I, Scene i

Now is the winter of our discontent
Made glorious summer by this sun of York;
And all the clouds that lour'd upon our house
In the deep bosom of the ocean buried.
Now are our brows bound with victorious wreaths;
Our bruised arms hung up for monuments;
Our stern alarums chang'd to merry meetings,
Our dreadful marches to delightful measures.
Grim-visag'd war hath smooth'd his wrinkled front;
And now,—instead of mounting barbed steeds
To fright the souls of fearful adversaries,—
He capers nimbly in a lady's chamber
To the lascivious pleasing of a lute.
But I,—that am not shap'd for sportive tricks,
Nor made to court an amorous looking-glass;
I, that am rudely stamp'd, and want love's majesty
To strut before a wanton ambling nymph;
I, that am curtail'd of this fair proportion,
Cheated of feature by dissembling nature,
Deform'd, unfinish'd, sent before my time
Into this breathing world scarce half made up,
And that so lamely and unfashionable
That dogs bark at me as I halt by them;—
Why, I, in this weak piping time of peace,
Have no delight to pass away the time,
Unless to spy my shadow in the sun,
And descant on mine own deformity:
And therefore,—since I cannot prove a lover,
To entertain these fair well-spoken days,—
I am determined to prove a villain,
And hate the idle pleasures of these days.
Plots have I laid, inductions dangerous,
By drunken prophecies, libels, and dreams,
To set my brother Clarence and the king
In deadly hate the one against the other:
And if King Edward be as true and just
As I am subtle, false, and treacherous,
This day should Clarence closely be mew'd up,—
About a prophecy which says that G
Of Edward's heirs the murderer shall be.
Dive, thoughts, down to my soul:—here Clarence comes.

Friday, March 18, 2005

As politicas culturais da minha aldeia

Infelizmente, Rui Rio parece mesmo empenhado em se recandidatar à Câmara Municipal do Porto. Para tal não olha a meios para atingir fins. Desta vez a vítima, para além do habitual bom senso, foi Filipe La Féria. Rio teve o descaramento ontem de manhã de convidar os jornalistas para assistirem à assinatura de um protocolo entre a CMP e La Féria no Teatro Sá da Bandeira. Para além de convidar terceiros para uma casa que não é sua, quando li o documento tomei consciência de que a peça de teatro já estava a ser representada e não era "A Rainha do Ferro-Velho", pois essa estreia hoje à noite, nas sim "O Homem da Máquina de Calcular", um clássico cá da aldeia. Rio e La Féria eram de facto dois actores em plena laboração, sendo o segundo um "casting" algo inesperado, confesso. No protocolo, Rio é obrigado a ceder locais para afixação de cartazes e "mupis" à produção do espectáculo, a comprar bilhetes para as peças "A Rainha do Ferro-Velho" e "A Menina do Mar", e finalmente, numa espécie de pré-campanha eleitoral, a oferecer essas entradas a idosos e crianças do Porto. Mais imoral ainda, o documento obriga a empresa de La Féria, Bastidores, a ficar no Teatro Sá da Bandeira durante três meses e a recuperar o malogrado teatro. Agora, pergunto-me, sendo o TSB um espaço privado, gerido por uma empresa privada, como é que é possível a Câmara do Porto assinar um documento que obriga La Féria não só a ficar numa casa que não é sua e para a qual naturalmente teve de pagar renda ou aluguer, como também o compromete a fazer obras (naturalmente de fachada e cosmética, pinturas e limpezas de pó) num espaço que não pertence nem à Bastidores nem à CMP, os dois outorgantes do documento. Estamos na esfera do ridículo e da encenação, no seu sentido mais puro.
PS: Nota negativa para a colega de curso e de profissão, Joana F., da RTP, que de microfone em riste e sorriso rasgado, em frente a Rio, habita esta mesma esfera do ridículo e da encenação, ao fazer as perguntas e a oferecer as respostas."Estas obras, senhor presidente, são o primeiro passo na tão espera renovação do Teatro Sá da Bandeira?"

Saturday, March 12, 2005

"Ossário", de Mark O`Rowe, pela Assédio

Depois da estreia d´ “A Testemunha”, da sueca Cecilia Parkert, a companhia Assédio regressa ao Pequeno Auditório do Rivoli, à temática violência contemporânea, em formatdo de monólogo. A mais recente proposta, “Ossário”, do irlandês Mark O´Rowe estreia hoje à noite com encenação a cargo de João Cardoso. Uma descarga centrada no poder da palavra poética, brilhantemente traduzida por Francisco Luís Parreria, ganhar carne e rosto em três mulheres que partilham numa viagem marcada pela perda de humanidade numa cidade imaginária, mais perto de nós que se provavelmente seria de desejar. Da sarjeta mais suja e repelente ao rio mais límpido e inocente, as emoções brutam do verbo dito no feminino.
Estreante na Assédio, Isabel Queirós é Olive Day, uma marginal sem pudor nem receio da morte; a experiente Rosa Quiroga, Allison Ellis, uma mãe angustiada com a velhice e o declínio físico, e finalmente, a seguríssima Alexandra Gabriel é Tilly McQuarrie, uma “Christiane F”, sem qualquer espécie de futuro ou esperança de humanidade.
Olive Day inaugura a tríade de monólogos descrevendo uma paisagem ribeirinha, onde brincam alguns miúdos. Apesar de rapidamente se dissipar na violência suburbana, a aguarela de paz e tranquilidade do rio funciona como chave de abertura e encerramento de toda a narrativa. Allison Ellis. Envergonhada por estar a envelhecer confessa a pulsão pela segurança e o dever de cuidar o rebento. “O meu filho tornou-se um estranho para mim”, confessa. Finalmente, Tilly McQuarrie. Uma arrumadora de carros perto de si, vende o corpo para arranjar dinheiro para a heroína. Um esquelo humano em decomposição, a caminho da morte.
Três mundos que se cruzam numa narrativa de vingança, marcada por um dramatismo visceral, pungente, sugestivo e imagético. Entre crimes sem castigo, histórias gangsters e chulos, as atmosferas de subúrbio omnipresentes na obra de Mark O´Rowe, fica a oportunidade de conhecer um dos mais jovens talentos da dramaturgia irlandesa. "Ossário" permanece no Pequeno Auditório do Rivoli até ao próximo sábado, dia 20 de Março.

Wednesday, February 16, 2005

"Quem Tem Medo de Virgínia Woolf" chega ao Teatro da Trindade


António Capelo e Glória Freitas em "Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?" Posted by Hello

Aviso à navegação para o pessoal de LX, a peça "Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?" estreia na sexta-feira, dia 18, no Teatro da Trindade. Depois do sucesso aqui no Porto, a mais recente proposta teatral da Academia Contemporânea do Espectáculo finalmente chega à capital. Tive a oportunidade de assisitir à estreia no auditório da ACE e comprovar da qualidade da encenação de João Paulo Costa sobre o texto de Edward Albee. António Capelo, Glória Freitas, Mário Santos e Sandra Salomé protagonizam um pesadelo de dois casais numa qualquer sala de estar. Densidade psicológica, humor e drama num retrato imperdível sobre algumas das obsessões, contradições, paranóias e toda uma gama bipolar e simbólica de poder e contrapoder que ainda teima em dominar as sociedades contemporâneas dos dois lados do Atlântico...
À margem da recomendação fica a nota mais do que positiva pela iniciativa da ACE de encetar uma mini-digressão rumo a Sul. Espero que a coragem se torne "moda" e contagie todo o país.

Friday, November 19, 2004

A Alemanha austera, depressiva e sombria gela PoNTI

Hoje tive a oportunidade de entrar em contacto com a mais recente proposta teatral a atingir o PoNTI. O pertencioso e desisteressante, Thomas Bischoff encena pela primeira vez fora da Alemanha a peça "Gertrud", de Einar Schleef. O resultado é um tiro no escuro. No entanto, o PoNTI´04 aceitou o desafio e, infelizmente, acolhe até domingo, no Teatro Helena Sá e Costa, um trabalho dramatúrgico formalmente muito conservador, bastante depressivo e marcadamente austero, baseado no primado rítmico da palavra agónica de Schleef sobre o movimento, a salvação, a mudança. Num cenário impessoal, frio, desprovido de adereços - algures entre o manicómio, o lar da terceira idade ou a prisão - ecoa um extenso monólogo no feminimo, a duas vozes, que revisita as dores existenciais e a angústia da memória de Gertrud, uma idosa abandonada pelos dois filhos e pela morte recente do marido. Se a legendagem falhar, todo o espectáculo cai por terra. O próprio Bischoff, considerado na Alemanha como "o congelador" pela rigidez formal, confessa que a base de todo o seu trabalho e a gênese do fascínio pelos textos de Schleef "é a plasticidade da palavra". Algo dificilmente traduzível para a língua portuguesa.
Antecipando a estreia de hoje a noite, o encenador salientou ainda, "a importância da componente histórica do texto", que segundo Bichoff "é um dos trabalhos mais singulares da dramaturgia alemã sobre o conflito entre as duas repúblicas". Importa recordar que a obra foi escrita no início dos anos 80, refletindo, desde logo, uma Alemanha em ruínas, dividida, humilhada e complexada com a derrota e a barbárie da II Guerra Mundial.
A sexagenária, evocativa da mãe do escritor, "representa toda uma geração de mulheres que sobreviveram na Alemanha desde a Grande Guerra", contextualiza o encenador. A divisão Oriente-Ociente, a perda de identidade, o orgulho ferido, a irreversibilidade da história, o peso da culpa são debitados em frases curtas, duras, velozes, paranóicas, cansativas.
Num ano em que o PoNTI aceita a conveniência orçamental e se transfigura no Festival da União dos Teatros da Europa (UTE), trazer ao Porto a Dusseldorfer Schauspielhaus, mais do que o "gesto politicamente correcto" de acolher uma companhia associada à UTE, é sobretudo uma aposta inconsequente, triste, conservadora e arriscada, tendo em conta a idiossincrasia, não só da obra de Schleef, como também da aborgadem cénica de Bischoff. Uma peça a evitar que certamente irá gelar o PoNTI.

Thursday, November 18, 2004

"O Rei Está a Morrer" no PoNTI´04

Após a estreia em Janeiro, na capital espanhola e da subsequente digressão nacional, que recolheu aplausos da crítica e público por todo o país, a encenação de José Luis Gómez, pelo Teatro de La Abadía, do texto "O Rei Está a Morrer", de Eugène Ionesco, conhece nos próximos três dias no palco do Teatro Nacional de S. João (TNSJ), inserido no PoNTI'04, o fim de uma existência feliz, plena de consequentes, urgentes e importantes reflexões sobre a consciência a partir da morte, enquanto situação limite e absurda do ser humano, sobretudo no contexto da cultura ocidental impregnada de conceitos judaico-cristãos nem sempre esclarecidos.
Em "O Rei Está a Morrer", Berenguer, a figura omnipresente nos textos de Ionesco, é atingido, a meio de uma festa, por um ataque cardíaco, ficando às portas da morte. A consciência de que não passa de um simples mortal, impotente perante as leis de transformação comuns a todo o universo, atinge-lhe a mente com uma violência proporcional ao tamanho do seu ego. Do choque nasce a negação geradora de ilusões e delírios a roçar o surreal. Imagina-se um Rei. Luta contra a morte. Encontra na primeira mulher, Rainha Margarita, uma espécie de guia tibetana que o orienta numa viagem mais do espiritual, profundamente humana rumo consciência plena, vazia de ilusões, preenchida de vacuidade.
Para o encenador, que ontem à tarde se encontrou no TNSJ a prepara a última série de três representações, o texto de Ionesco "é a mais importante obra dramática alguma vez escrita sobre a morte". Colocando de lado as didascálias e uma série de anacronimos, a abordagem da companhia espanhola centrou-se, sobretudo, nos aspectos mais contemporâneos da obra, tentando enfatizar o drama pessoal e experiencial do protagonista e o facto "da morte estar mais perto de nós do que poderíamos à partida pensar". Dos aspectos mais siginificativos na construção do edifício conceptual e representativo da peça de Ionesco, José Luis Gómez destaca, desde logo, a união entre a poesia do escritor e textos extraídos da filosofia budista tibetana. "O final da obra - afirma o encenador - é quase uma transcrição de momentos fundamentais do "Livro Tibetano dos Mortos" (Bardo-Thödol). É o livro que mais informação tem sobre a morte ou o acto de morrer", salienta. A inflexão sobre o budismo, apesar do Bardo-Thödol não ser um livro propriamente para noviços, conduz, inevitavelmente, ao tema central da peça: a morte do ego. A forma como o ser humano se considera a si próprio, a importância que atribui a uma existência que, não raras vezes, se distancia da verdadeira consciência dos fenómenos. E este é precisamente um dos tema que actualmente me fascina cada vez mais, por razões, sinceramente não me atrevo ainda aqui a confessar.
Poesia, humor, drama, transcendência são alguns dos pontos fortes de uma peça que importa conhecer. Inserida, no contexto da programação do Teatro de La Abadia, no ciclo "Velhice, Morte e Poder" - uma triologia inaugurada com "Rei Lear" , de Shakespeare, e a encerrar com a encenção "Édipo em Colono", de Sófocles - a proposta que hoje sobe ao palco do TNJS promete atingir a mente e a consciência de muitos dos espectadores. Uma sugestão de teatro para quem tiver a sorte ou conhecimentos internos para conseguir uma entrada para "O Rei Está a Morrer".

Wednesday, November 17, 2004

Teatro: "Ratos e Homens", de Steinbeck

Estreia hoje noite na Sala Latino, anexa ao Teatro Sá da Bandeira, no Porto, a peça “Ratos e Homens”, de John Steinbeck. Uma viagem guiada ao âmago das ilusões do sonho americano, das promessas por cumprir, numa encenação de Fernando Moreira para a companhia Art´Imagem.
Dois homens, Lenny e George, deambulam pela América da Grande Depressão à procura de emprego. Acabam a trabalhar numa herdade, carregando caixotes de laranjas. Ambos perseguem o “american dream”. Ambos ambicionam um pedaço de terra, um espaço de liberdade, uma autonomia impossível de concretizar. As devastadoras e desumanas relações de poder entre a força trabalhadora e o capital, a problemática da emigração o e o triunfo antecipado das forças ecomómicas sobre o bem comum e a “res publica” são alguns dos conceitos analíticos possíveis na obra de Steinbeck. Volvidas mais de sete décadas, e tendo as eleições norte-americanas e a constituição europeia como pano de fundo da actualidade internacional, “Ratos e Homens” continuam a comer migalhas, a sonhar com dias de felizes de paz e a serem aniquilados por forças político-económicas cada vez mais poderosas que, colocando em causa a autonomia dos estados-nação, exploram o mundo como se de uma herdade norte-americana dos anos 30 se tratasse.
Para José Leitão, director da companhia que estreia hoje a sua 80ª representação – “depois de Paul Auster e David Mamet visitámos a América de Steinbek. Afinal três américas que são todas a mesma América. Uma América que se alimenta de mitos e promessas que nunca chegam a cumprir-se”. Já para Fernando Moreira, encenar “Ratos e Homens” foi a concretização de um sonho antigo. Um sonho alimentado pela força e actualidade simbólica dos personagens. “Muitos são imigrantes que partiram do México para a Califórnia à procura de trabalho e de uma vida melhor. É dessas pessoas que queria falar, pessoas que não se deixam ficar na crise, e de alguma maneira procuram trabalho num novo país, numa nova cidade, atravessando diariamente para o outro lado do rio”.
Com um interessante desenho de luz a cargo de Leuman Ordep sobre um cenário simples mas eficaz de Ricardo Preto e com um suporte musical inteligente e talentoso de Carlos Adolfo, a proposta “Ratos e Homens” que inaugura hoje uma temporada na Sala Latino até dia 19 de Dezembro, surge uma peça fundalmental, não só para conhecer a idiossincracia do autor do clássico “A Pérola”, como também para revisitar uma América superlativa, profunda, construída sobre a fome de liberdade e a utopia do sonho.
De realçar ainda que tendo em conta o importante trabalho que a delegação do Norte da AMI - Assistência Médica Internacional, e da AMIarte, em particular, têm vindo a desenvolver no universo dos sem-abrigo e na angriação de fundos através de eventos culturais para a construção do Abrigo Social, na freguesia portuense do Bonfim, a bilheira do espectáculo da próxima sexta-feira irá reverter em favor da referida fundação. “Um sinal de que não fazemos arte pela arte”, justifica José Leitão.

Tuesday, November 16, 2004

Teatro: Carta à ministra da Cultura

A Plateia - Associação de Profissionais das Artes Cénicas, que reúne mais de 20 companhias e produtoras teatrais do Norte do país, escreveu ontem uma carta à ministra da Cultura, pedindo a esta corrija a "grave situação de injustiça e desinvestimento que representam o montante de financiamento e o número de projectos a apoiar anunciados na abertura do concurso a apoio sustentado à produção teatral na região norte", segundo fez saber a representante da Plateia Catarina Martins. Na realidade é escandaloso, não só o montante dos apoios previstos para esta região (que representa o investimento "per capita" mais baixo de todo o país), como também o facto do referido concurso limitar os apoios a apenas 18 das 25 projetos candidatos.
Assim, uma companhia do Norte tem a seu cargo cerca de 230 mil habitantes, enquanto a média nacional ronda os 130 mil. Lisboa, para não variar, fica no top das beneficiadas, assim existe uma estrutura teatral financiada pelo MC para cada 84 mil lisboetas. Se se acrescentar a este número, o facto das companhias do Norte receberem menos do que a maioria, o cenário fica ainda mais negro. Existem no concurso várias estruturas que vão receber montantes na ordem de meio milhão de euros, enquanto no Norte, a produtora que terá mais apoio ficará com cerca de metade desse valor e é caso único. As restantes ficam-se em média pelos 100 mil euros.
Apesar da ministra se orgulhar de ter mais 0,1 por cento do OE 2005 para a gastar na Cultura, fica a sensação de que a responsável entende que Portugal acaba algures entre os rios Mondego e o Douro e o resto ou é paisagem ou pertence à Xunta da Galiza...