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Saturday, February 17, 2007

Serralves a sete chaves

Terminadas as exposições, encerradas as portas, desligadas as luzes, para onde vão os quadros do Museu de Arte Contemporânea de Serralves (MACS)? Fui conhecer, em exclusivo, o espaço mais bem guardado de todo o edifício desenhado pelo arquitecto Siza Vieira. Local generoso em silêncios e farto em segurança, onde a arte descansa longe dos olhares interrogativos dos humanos. Pela primeira vez, um dos mais visitados museus do país abre a sua "caixa forte" a pessoal não autorizado. Um retrato inédito sobre um espaço inacessível aos 350 mil visitantes/ano e que guarda a sete chaves cerca de 20 milhões de euros em arte. Pelo caminho ficámos ainda a saber quem são e o que fazem as "registers". Afinal de contas nas entranhas do Museu de Serralves quem manda são mesmo as mulheres.
Em Serralves, caminha-se devagar. Sobretudo em espaços de máxima segurança. Identificados os invasores, digitados códigos secretos, entre câmaras, seguranças, alarmes, abre-se uma porta gigante, no piso inferior do museu. No interior de uma espécie de catacumba entra-se finalmente para um estreito corredor. Por cima os visitantes passeiam-se e contemplam as propostas em programa. Cá em baixo a arte repousa, tranquila. Seguimos pelo corredor. Do lado direito erguem-se cinco entradas para outras tantas salas onde se encontra o acervo do museu. Estamos nas "reservas", local onde o museu guarda as suas obras. Sem nunca verem a luz do dia, muitas são meros investimentos, outras servem de moeda de troca com outros museus e uma terceira parte gira em exposições temporárias um pouco por todo o globo. Do lado oposto às portas que dão acesso às reservas surge apenas uma parede que serve de encosto a uma série de instalações e esculturas que invadem o caminho. "Estamos com alguns problemas de espaço", confessam Inês Venade e Daniela Oliveira, as duas "registers" do MACS. O cenário não deixa dúvidas. Como doentes num hospital em hora de ponta, estas obras parecem aguardar impacientemente a sua vez para entrarem numa das reservas. O espaço revela-se desde logo pequeno para tanta obra. São pouco mais de 570 m2 para acolher mais de 3060 obras.
Finalmente, uma das cinco portas gigantes abre-se. Entramos na área da pintura. "Bem, de forma resumida, o que fazemos – diz Daniela, enquanto corre um biombo a pingar de quadros – é, tal como o nome indica, registar e inventariar todas estas obras. Depois catalogamos os trabalhos e controlamos a sua movimentação", explica. Com mestrado em Museologia, Daniela começou a trabalhar no MACS como register em 1999. "Estou desde o início - confessa – está é a profissão que sempre quis". Mais virada para o restauro em termo de formação, Inês entrou em Serralves no ano seguinte, 2000. "Aqui não conhecemos a monotonia e isso para mim é muito importante", confessa. De facto, registar, catalogar, zelar pela integridade física de propostas artísticas contemporâneas é mais interessante do que à partida se pode imaginar. Tudo ou quase tudo já lhes foi parar as mãos. Dos trabalhos mais estimulantes, Inês recorda as obras feitas de pão, do portunese Artur Barrio, e esculturas de chocolate do alemão Dieter Roth. "Quem pensa que ser register é só catalogar pinturas está enganado", afirma. Há trabalhos artísticos são um verdadeiro quebra-cabeças para registar e conservar".
Das qualidades necessárias para se ser boa nesta profissão, Daniela salienta que é necessário "ter memória de elefante" e "ser um pouco picuinhas". "Tens sempre de saber onde está tudo a toda a hora e não podes fazer nada às três pancadas". As obras são ciumentas necessitam de atenção, cuidado, carinho. E sustos? Já alguma vez perderam alguma obra? Olham uma para a outra. Sorriem. "Bem, é raro, mas já aconteceu, apenas por breves momentos. Quando são muitas obras em movimento, por vezes é complicado, mas até à data tem corrido tudo bem."
Entretanto, sorridente, João Fernandes, director do MACS, entra na sala. Sobre a política de aquisições de Serralves e a construção do acervo enquanto identidade central do espaço museológico, o sucessor de Vicente Todoli afirma que o museu se baseia em dois pilares sobre os quais vão construindo toda a colecção. Primeiro, o olhar sobre os anos 60/70 "enquanto período de mudança de paradigma na arte no contexto português"; segundo "o cruzamento de olhares e gramáticas artísticas nacionais com as internacionais no mesmo período". Quanto à falta de espaço das reservas, patente nos corredores João Fernandes olha para Matosinhos como uma possível extensão. "Estamos neste momento a estudar a viabilidade de um projecto construído de raiz para acolher obras de arte". Terreno já existe. A autarquia de Matosinhos, a Caixa Geral de Depósitos e a Sonae são alguns dos parceiros estratégicos do projecto ainda em estudo e sem data pública de concretização efectiva.
Enquanto o futuro não chega, Daniela e Inês têm um 2006 bastante ocupado com mais de uma dezena de exposições temporárias em pouco por tudo o país. Entre o Centro de Artes de São João da Madeira, Figueira da Foz, Lagos ou o Teatro Municipal da Guarda, nada pode ficar pelo caminho. Todo o que sai de Serralves tem de mesmo de voltar a entrar e nas mesmas condições. "Bem, a nossa profissão é um pouco contra-natura, pois para nós o ideal seria que arte ficasse aqui fechada e não tivesse qualquer contacto com os humanos. É precisamente o oposto à ideia de museu. Por isso somos um pouco chatas", afirma Daniela. No entanto, entre cada exposição, quadros, esculturas, fotografias e instalações conhecem nas mãos destas duas "guardiãs da arte" o conforto e uma segurança singulares. É no feminino que Serralves guarda os seus tesouros. A arte, essa parece não se queixar.

Thursday, November 30, 2006

Wednesday, November 29, 2006

"Naked Man on the Bed", Lucian Freud


O artista dos artistas

Grayson Perry assina hoje no "Times" um curioso artigo "A ragbag Top Ten, brought to you by the art world's angry brigade". A organização do Great Art Fair, evento que reune a partir de amanhã até domingo, no Alexandra Palace, centenas de artistas, realizou um interessante inquérito a 500 dos seus participantes. A ideia é saber quais são os 10 artistas vivos ou mortos mais influentes.

O resultado foi surpreendente:

1. Lucian Freud

2. Howard Hodgkin

3. David Hockney

4. J. M. W. Turner

5. Antoni Tapies

6. Rembrandt

7. Jack Vettriano

8. Barbara Rae

9. Frank Auerbach

10. Vincent Van Gogh


É óbivo que este tipo de "tops" acabam sempre por ser bastante subjectivo, no entanto, não deixa de ser arrepiante a ausência de figuras como Marcel Duchamp ou Pablo Picaso.

Sunday, November 26, 2006

"The Starry Night", Vincent van Gogh


"This morning I saw the country from my window a long time before sunrise". Vincent van Gogh. (1853-1890). "The Starry Night". Saint Rémy, June 1889

Saturday, August 26, 2006

Pensamentos

A galeria está para o museu como a farmácia para o hospital.

Thursday, March 09, 2006

"Seres Invisíveis" de Bruno Anedda




No próximo dia 10 de Março, às 21h30, a Galeria Espaço Ilimitado acolhe “Seres Invisíveis”, o mais recente trabalho do artista plástico e fotógrafo Bruno Anedda.

Dividida em duas propostas, Gaza e Auto-Retratos de um Homem Invisível, "Seres Invisíveis", composta por fotografia, instalação e vídeo, resulta de uma pesquisa inteligente e inovadora sobre os conceitos de identidade e realidade.

Gaza, instalação - projecção de vídeo em tela e sensores de movimento que permitem a interacção entre o autor e o público, num diálogo comunicativo entre o real e o virtual.

O sentido de paródia e ironia está presente no vídeo de "Gaza". A imagem do soldado é aqui tratada como um ícone da invisibilidade, sugerindo o drama de um campo de batalha onde se confundem agressores e vítimas.


Auto-Retratos de um Homem Invisível - exposição de fotografia - cerca de vinte fotogramas exploram o tema do real e virtual, a essência humana e a máquina, nas quais Bruno Anedda representa o ser humano na sua própria condição. Trata-se da recriação de um personagem centralizada num indivíduo não reconhecido socialmente (pelo seu carácter invisível) que não se enquadra em nenhuma das categorias sociais a que todo o ser humano está sujeito, mas que mesmo assim as interpreta e as correlaciona com práticas quotidianas.

Qual a forma ou imagem das práticas comuns humanas? Como pode aquele que vê sem se ver e sem nunca ser visto fazer-se representar visualmente? -

São algumas das interrogações propostas por Bruno Anedda, que evoca, nesta exposição, o tema da não aparência associado à ausência de identidade, questionando os valores morais com que uma sociedade se controla.

«Não se sabe se é gordo ou magro, alto ou baixo, qual o seu extracto social, facha etária, ou raça que representa. Apenas conhecemos a sua necessidade de se auto-exprimir visualmente como forma de assumir a sua existência. É um ser humano tal como todos, apesar de diferenças que não somos capazes de catalogar.», afirma o autor.

Estes retratos simbolizam essa representação e não uma aparência singular roubada e ocasional, tornando-se a simulação a última das verdades.

Seres Invisíveis, tal como nas suas obras anteriores, aborda o conceito de identidade. Segundo Bruno Anedda, «É a ausência de elementos espaciais e temporais que torna questionável a verdade destas imagens. Uma verdade que a fotografia teoriza como apenas aparente e não necessariamente concensual.»

Diz o autor: «No quadro contemporâneo actual, as novas tecnologias têm vindo a adoptar um papel cada vez mais preponderante e decisivo na vida quotidiana, e na arte isso não é excepção. Cada vez mais nos predispomos para servir as máquinas, criações desenvolvidas para o nosso serviço. As relações humanas tornaram-se virtuais, as identidades confundem-se e os sentidos de distância encurtam-se, do mesmo modo que a fotografia proporciona um encurtamento no sentido temporal.

A fotografia é hoje entendida como uma expressão de um conceito geral e abstracto para além do seu processo de desenhar imagens pela acção da própria luz.»


Sobre o autor:

Bruno Anedda iniciou o seu percurso académico na Escola Soares dos Reis, no Porto. Acabou o Curso Superior de Fotografia na Escola Superior Artística do Porto em 2001. Terminou o Mestrado no Dutch Art Institute, na Holanda, em 2005.

Dos seus inúmeros trabalhos colectivos e individuais, destaque-se os seguintes:
Alemanha: Wege am Wasser, organizado por Verein 23 e Kulturwerkstatt Westend, Bremen, Alemanha, 2001.

China: Next Station, The Gold All Over The Sky, comissariado por Na Yingyu Sheng, Hua Center, Nanjing, China, 2004
Under Construction, Nanjing, China, 2004
Luggage, Nanjing, China, 2004

França:Histoire de Changes, Salle Guillaume de Nogaret, Montpellier, França, 2002.
Videoattitudes, Amiens, França, 2006.

Holanda: OPEN DAI'zzz, Dutch Art Institute, Enschede, Holanda, 2005.
Kunstvlaai 5, Amsterdão, Holanda, comissariado por James Beckett, 2004.
Oh Alice Kunsthuis Syb, Beetsterzwaag, Holanda.

Portugal:Photography Without Photography, Sentidos Grátis, Laboratório das Artes, Guimarães, Portugal, 2004.
FOTIMAG International Photo Hall and Image, Fil, Lisboa, Portugal, 2003
Retratos de Rua, comissariado por Julio de Matos, Teatro do Campo Alegre, Porto, Portugal, 2002.
Nós e os Outros, organizado pelo Goethe Institut, Casa das Artes, Porto, Portugal, 2002.
WC Invicta Public Art, 47B1 group, Ferreira Borges, Porto, Portugal, 2001.
DIDATICA 2001, Exponor, Porto, Portugal.
Pedimos Desculpa pelo Incómodo Prometemos Ser Breves, Biblioteca Almeida Garret, Porto, Portugal, 2000.
Modos de Ver, Ateneu Comercial do Porto e Teatro Rivoli, Porto, Portugal, 1998.
Tondela, Portugal, organizado pela Associação Cultural e Recreativa de Tondela (ACERT), 1998.

Turquia: RUCKSACK, Dyarbarkir Art Centre, Dyarbarkir, Turquia, 2005.


Espaço Ilimitado

Rua de Cedofeita, 187 Porto 919804918

http://www.brunoanedda.exto.org

Sunday, February 26, 2006

É carnaval ninguém leva a mal


Sexta-feira passada um homem armado entrou no Museu do Rio de Janeiro e levou para casa: "A Dança" de Pablo Picasso; “The Two Balconies" de Salvador Dali, "O Jardim do Luxemburgo" de Henri Matisse e ainda "Marine" de Claude Monet. Policia afirma que não conseguiu apanhar o coleccionador pois este desapareceu no meio da multidão que invadiu as ruas do Rio para festejar o carnaval.

Monday, June 06, 2005

"Xadrez", Vieira da Silva Posted by Hello

Friday, June 03, 2005

Serralves reactualiza Festa versão 2005

Depois do sucesso da primeira edição, com mais de 40 mil visitantes, Serralves oferece a versão 2005 à cidade, mas com assinaláveis alterações estruturais. A primeira nasce do embaraço 2004 chamado Televison. O concerto pago acabou por não resultar em termos sonoros e de público. Este ano, evita-se os concertos chocolate, simplifica-se, com 160 mil euros da Unicer não há necessidade alguma de cobrar bilhetes. Outra das reactulização retira à noite de sábado alguma da animação que teve no ano passado. Na realidade a presença de banda da cidade, como Plaza e um conjunto de propostas sonoras "afterhours" interessantes transformou Serralves numa espécie de "disco out of control". Este ano simplifica-se, três DJ reinam até às 06h00, nada de bandas ao vivo pela noite dentro. Triunfam as parcerias com TNSJ, ACE, FITEI, ONP entre muitas outras. Música, Dança, Teatro, exposições, debates e muita animação a partir das 08h00 de amanhã até à meia.noite de domingo. Apesar de menos nutritiva, a Festa de Serralves não deixa de ser um "local" interessante para viajar este fim-de-semana.

Thursday, June 02, 2005

Fim-de-semana em grande no Porto

Depois da abertura do FITEI versão 2005, no TNSJ, que contou com as presenças de Mário Dorminsky/Beatriz Pacheco Pereira, Regina Guimarães/Seguenail, Isabel Alves Costa, José Cruz dos Santos, Jaime Azinheira, João Luís entre outros, o próximo fim-de-semana no Porto promete ser de grande actividade a nível cultural. Para além do FITEI, Serralves promete 40 horas de festa e o Festival da Fábrica, de Alberto Magno, apresenta alguns dos melhores movimentos de dança contemporânea da actualidade. Entretanto a Feira do Livro continua a promover o prazer da leitura no Pavilhão Rosa Mota. Junho não poderia ter começado da melhor maneira. Motivos não faltam para desligar a televisão e sair de casa para saborear algumas das propostas em cartaz para este fim-de-semana no Porto.

Friday, April 08, 2005

Siza regressa a Serralves

Siza entra na galeria central de Serralves. Vira costas à janela gigante, contempla o interior do projecto que o ocupou durante praticamente toda a década de 90 e diz aos jornalistas: "Muitas pessoas olham para aqui e vêem quatro paredes pintadas de branco e pensam que é simples, só quatro paredes pintadas de branco. Não imaginam o esforço, as horas de trabalho que foram necessárias para atingir esta simplicidade, para ocultar todos os aparelhos de ar condicionado e tubagens". Eleva o olhar. Apercebe-se da presença de uma câmara de vigilância no canto da galeria. "Bem agora tem aquilo", aponta. "Enfim, tem mesmo de ser. São as seguradoras", justifica, semi-resignado.
No final da apresentação da exposição "Siza: Museus e Espaços", que hoje inaugura em Serralves, falei com o arquitecto. Entre outras coisas, disse-lhe que senti um carácter algo incestuoso em expor 18 projectos da sua autoria sobre museus precisamente em Serralves. Sorriu. Disse-me que não considera os seus trabalhos como filhos. "Quando são entregues ao dono, deixam de me pertencer".
Durante o próximo trimestre, o gabinete de arquitectura de Álvaro Siza muda-se para Serralves. Existe algo de pedagógico e altamente comercial na programação. Os alunos transformam-se em visitantes e o museu em universidade, numa homenagem inédita da criatura ao seu criador. Figura pop, Siza, humilde, genial, aproxima-se das massas. Serralves acolhe o seu guru e aposta no marketing, vende copos e cadernos. A arte alimenta-se de si própria, num sacrifício entre o redentor e o obsceno.

Friday, February 04, 2005

Arte Comunitária: projecto Circunvalação

Confrontar criadores estrangeiros com comunidades da área metropolitama do Porto, pouco habituadas à fruição cultural, numa produção conjunta de propostas artísticas contemporâneas oferece-se como o eixo central da iniciativa "Circunvalação" que foi apresentada na passada quinta-feira aqui no Porto. Tive a oportunidade de assistir ao arranque do evento e conversar com organizadores, artistas e representantes das comunidades escolhidas. O projecto merece destaque e espaço de divulgação, daí a presente "post" que recupera no essencial um trabalho publicado por mim no diário "O Comércio do Porto".
Organizado e produzido pela Cassiopeia, a ideia do evento recupera o conceito de Arte Comunitária nascido no contexto artístico inglês, na transição das décadas de 60/70, reactualizando-o com o fenómeno da imigração. As freguesias e bairros de Avintes (Vila Nova de Gaia), Gandra (Gondomar) e Lomba (Bonfim/Porto), acolhem, até dia 20, três artistas estrangeiros: Farida Batool, do Paquistão, Luís Pedro, de Moçambique, e Taras Polataiko, da Ucrânia, respectivamente. O desafio é produzirem em conjunto, artistas e comunidade, arte inspirada e projectada sobre a identidade e o espaço próprio de acolhimento.
Paralelamente, o projecto "Circunvalação" dinamiza, nas referidas comunidades, oficinas de vídeo dirigidas a crianças, orientadas pelos cineastas Tiago Afonso, Saguenail e Regina Guimarães. O resultado final dos trabalhos das oficinas será exibido no auditório da Fundação de Serralves nos dias 19 de Março e 18 de Junho.
Com apoios essenciais do Instituto das Artes (IA), Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia (ICAM) e Gaianima, entre outras instituições públicas, o projecto de inclusão social através da criação e formação artística apresenta um orçamento de 70 mil euros.
Avintes "bottled"
Acolhido e apoiado desde a primeira hora pelo Parque Biológico de Gaia e pela Gaianima, a iniciativa de intervenção social através da arte conhece em Avintes um primeiro ponto de paragem rumo à criatividade. Convidada a "olhar" artisticamente para a freguesia gaiense, Farida Batool propõe-se apresentar duas intenções artísticas inspiradas não só na geografia própria de Avintes, como tambem, no encontro com as histórias e a identidade colectiva da comunidade local.
Numa primeira aposta, e aproveitando a margem esquerda do Rio Febros, afluente do Douro, a artista paquistanesa irá colocar fotografias da população dentro de garrafas suspensas sobre a paisagem fluvial. "A ideia é num contexto imagético unir conceitos de memória e história na natureza envolvente", afirma Battol, que se encontra a visitar as habitações e a conhecer os rostos da população de Avintes. "Tem sido uma experiência interessante - afirma - as pessoas têm-se mostrado extremamente receptivas".
Num segundo trabalho, a artista irá construir uma moldura-móvel, de 5x3 metros, na qual apresentará pinturas das histórias do povo de Avintes. A estrutura irá circular por toda a freguesia, confrontando a população com a sua história.
Da Gaianima, Nelson Cardoso, adminstrador da empresa municipal, presente na apresentação do projecto, fez questão de realçar a importância do evento pelo envolvimento da população na produção e formação artística, lamentanto porém que o projecto não tenha sido acolhido por todas as autarquias da área metropolitana.
Gandra em retratos
Em Gondomar, apesar da autarquia não ter apoiado o projecto, a Associação de Moradores de Conjunto Habitacional de Gandra fez questão de abrir as portas à arte e acolher a iniciativa. O presidente da referida associação, Altamiro Araújo, esclarece: "A arte não é só para os ricos, nós também temos direito a aprender qualquer coisa. As crianças nas oficinas de vídeo, para além de aumentarem os seus conhecimentos, mantêm-se ocupadas e longe de problemas".
Luís Pedro, o artista moçambicano de serviço, prepara uma exposição-instalação de fotografias no local que será a futura sede da associação de moradores. "Para já ando a conhecer os sítios e as pessoas. Não quero adiantar muito sobre o trabalho - afirma - mas terá como base a fotografia e o retrato".
Lomba em labirintos
Última paragem da "Circunvalação", bairro da Lomba, na freguesia portuense do Bonfim. Iniciativa apoiada localmente, entre outras, pela Fundação para o Desenvolvimento Social do Porto e pela Associação de Moradores da Lomba, a intervenção acolhe como artista residente, Taras Polataiko, da Ucrânia. Fascinado pela geometria e arquitectura das casas do bairro, Polataiko prepara-se para produzir, em material inquebrável, um labirinto. A instalação "que deve ter uma componente prática, podendo ser utilizada pelas crianças, representa a própria arquitectura das casas e a disposição geométrica do bairro", afirma o artista.
A orientar as visitas do novo morador pelo bairro, o presidente da associação local confessou que a população tem recebido o artista com tanto entusiasmo que "até já tem um clube de fãs".
As três propostas encontram-se em desenvolvimento, em construção e abertas a visitas. A conclusão das obras está agendada para o próximo dia 20. Até lá, artistas e população trabalham em conjunto num processo criativo rumo à integração e valorização socio-cultural.

Saturday, December 18, 2004

"Cores, Figura e Luz" no Museu Soares dos Reis

Museu Nacional Soares do Reis (MNSR) inaugura hoje a exposição “Cores, Figura e Luz”. Trata-se de um breve mais representativo conjunto de 28 pinturas portuguesas geradas na primeira metade do séc. XVI. Reunidas e recuperadas dos acervos do MNSC e Museu de Arte Antiga, as propostas artísticas apresentam, desde logo, uma tendência figurativa de inspiração sacra, revelando um roteiro possível pelas principais oficinas de pintura durante o reinado de D. Manuel. Dividida em cinco núcleos, a exibição propõe pintura luso-flamenga; as incontornáveis oficinas de Lisboa; os trabalhos de Cristóvão de Figueiredo centrado nas histórias de Vera Cruz; as inquietantes propostas de Vasco Fernandes e da oficina de Viseu, encerrando com o inesperado maneirismo de Francisco de Campos.
Da primeira parte da exposição, o comissário José Alberto Seabra Carvalho salienta a oportunidade inédita do público poder comparar as pinturas “A Virgem com Menino Jesus do Trono” (1515-1518), “Virgem do Leite” (1520) e “A Virgem com o Menino” (1520), estas duas últimas da autoria de Frei Carlos, da importante oficina do Espinheiro, em Évora. “Há nas três obras uma linguagem comum de símbolos virginais e redentores de Maria, a nova Eva que intercede por nós no resgate do pecado original, centrada em emblemáticos frutos e flores do Paraíso”.
Num segundo momento, entrando no contexto artístico das oficinas de Lisboa, destaque para os trabalhos “Testemunho de S. João Baptista junto dos Sacerdotes e levitas de Jerusalém” (1535-154), “Santo António pregando aos peixes” (1535-1540) e “Ressurreição de Cristo” (1537), de Garcia Fernandes, que sublinham a união de dois momentos bíblicos sobre uma única pintura.
Entrando na terceira parte da exposição, o visitante é confrontado com obras de Cristóvão de Figueiredo, colega de Garcia Fernandes. Destaque evidente para o trabalho “Santíssima Trindade”, uma obra de tipo marcadamente iconográfico que apresenta uma imponente figura do Pai segurando o Filho crucificado com o Espírito Santo, em forma de pomba, repousando sobre a cruz. Apesar da temática da Trindade e da gramática pictórica ser recorrente ao longo da Idade Média, a abordagem de Cristóvão de Figueiredo sugere uma proporcionalidade figurativa não lineas com o hieratismo teológico dos respectivos elementos sacros.
Destaque final para as propostas centradas na narrativa de Vera Cruz representadas em dois trabalhos evocativos “Milagre da ressurreição do mancebo” e num terceiro “Stª Helena e o achamento das três Cruzes”.
No quarto núcleo, referente aos trabalho de Vasco Fernandes e à oficina de Viseu, o visitante é confrontado, desde logo, com as obras “Santa Catarina” e “Santa Luzia”. O comissário José Alberto Seabra Carvalho realça “a unidade compositiva e visualmente forte que as une como um cenário único amplia o efeito expressivo com a dura aridez da natureza representa”. Destaque particular para a imagem algo perturbadora de Santa Catarina que surge de pé, segurando uma espada, sobre o cadáver de um homem degolado.
Finalmente e a encerrar a exposição, o visitante a oportundade de se surpreender na secção “Um Inesperado Maneirismo”, com o “Pentecostes” de Francisco de Campos. Interessante trabalho de elevada densidade de objectos, com representações vários apóstolos e outras figuras sacras.
Inaugurada hoje ao público, a exposição “Cores, Figura e Luz” encontra-se patente no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, até ao dia 3 de Julho de 2005.

Wednesday, December 08, 2004

O efeito Bush e Gordon no Turner Prize

Patrocinado pela primeira vez pelo gin Gordon´s, uma vídeo-digressão entre dois dos mais famosos ranchos dos EUA conquistou anteontem o Turner Prize, na Tate londrina. Importa esclarecer que os jurados não estavam com os copos. Certo é que, para não variar, a política pesou certamente na decisão. O artista britânico, Jeremy Deller arrecadou o prémio, levando para casa 48,500 dólares através da instalação vídeo "Memory Bucket" que recorda uma viagem entre o rancho do presidente George W. Bush, em Crawford, e o não menos conhecido quartel-general do líder religioso Davidian, em Waco. Com uma lista de prováveis vencedores muito mais politiziada do que em anos anteriores e sem a presença de qualquer pintor, o que não deixa "per si" de ser significativo, o Turner Prize apresentou como principais possíveis ganhadores nomes como Ben Langlands e Nikke Bell, cuja inspiração se centrou em Osama Bin Laden, em outra proposta vídeo de uma vila abandonada algures no Afeganistão, por onde o homem mais procurado do mundo Ocidental teria passando uns dias, provavelmente de férias. Gill Hedley, director da Contemporany Art Society, justificou à Reuters que não acreditava que os jurados perderam a noção do que é a arte, mas que, simplesmente, “vivemos numa altura em que esta coincide com política”. Sobre a possível influência do gin Gordon´s na decisão dos júri, nem uma palavra. Provavelmente por que em 1988, Chris Ofili ganhou o Turner com a "The Holy Virgem Mary" uma representação negra e considerada por muitos pouco elegante da virgem Maria e, em 1995, Daminen Hirts ganhou mais um punhado de dólares na Tate com trabalho "Away From The Flock", apresentado uma ovelha dentro de uma caixa. Outra das sensações da história do Turner foi protagonizada por Tony Kaye, em 2001, ao tentar submeter à consideração do júri como obra de arte um insuspeito trabalhador metalúrgico sem-abrigo.
Anualmente, para além de trazer para o circo mediático um artista cujos trabalhos se vêem subitamente inflacionados no mercado da arte internacional, o Turner Prize levanta questões, essas sim interessantes, sobre a identidade e as novos percursos da arte contemporânea. Este ano, arte e política andaram de mãos dadas. Nem importa recordar que na Sétima, em Cannes, Michael Moore também não saiu de mãos a abanar e não foi certamente pela excelência cinematográfica da proposta “F9/11”, ao contrário do que Quentin Tarantino jurou. Pessoalmente, penso que George W. Bush e o gin Gordon´s são, sem sombra de dúvidas, os grandes protagonistas da revolução artística contemporânea, levando-a por caminhos nunca dantes calcorreados.

Friday, December 03, 2004

O triunfo do urinol

Segundo a edição de ontem do "The Guardian", um júri de notáveis do mundo da arte considerou o urinol de Marcel Duchamp,"Fountain", o mais influente trabalho de Arte Moderna. O provocativo e desvalorizado "readymade" do artista parece finalmente, volvidas mais oito décadas, ter encontrado um inesperado reconhecimento internacional através de um prestigiado painel de jurados composto por de artistas, críticos, curadores e negociantes de arte comissariados pelo patrocinador do Turner Prize, a Gordon´s.
Ao ter conhecimento desta notícia fui de imediato as minhas prateleiras para contextualizar o fenómeno e encontrei a obra "Marcel Duchamp - Engenheiro do Tempo Perdido", a tão célebre quanto polémica entrevista de Duchamp ao não menos reconhecido Pierre Cabanne (ed. Assírio & Alvin), da qual tomo a liberdade de transcrever uma breve passagem. As conclusões ficam a cargo da moderna subjectividade individual.
"-Em Abril de 1916 participou numa exposição em Nova Iorque, chamada "Quatro Mosqueteiros", os outros três era Crotti, Metzinger e Gleizes. Estava também entre os fundadores da Sociedade dos Independentes e apresentou na primeira exposição um urinol intitulado Fountain, assinado R. Mutt, que foi recusado.
-Não, recusado não. Não se podia recusar uma obra nos Independentes.
-Digamos que ela não foi admitida.
-Foi simplesmente suprimida. Eu estava no júri, mas não fui consultado, porque os jurados não sabiam que fora eu quem o tinha enviado; escrevi o nome Mutt para evitar quaisquer relações com coisas pessoais. A Fountain foi simplesmente colocada atrás de uma divisória e, durante toda a exposição, eu não sabia onde estava. Não podia dizer que eu próprio tinha enviado esse objecto, mas suponho que os organizadores o sabiam pelos boatos. Ninguém ousou comentar. Fiquei aborrecido com eles e retirei-me da organização. Depois da exposição, encontrámos a Fountain atrás da divisória e recuperei-a!
-É um pouco a mesma aventura por que passara no Salão dos Independentes de 1912, de Paris.
-Exactamente. Não conseguia fazer nada que fosse aceite de imediato, mas isso não tinha importância para mim.
-Diz isso agora, mas na altura...?
-Não, não, pelo contrário. Era assim mesmo, bastante provocante.
-Então, desde que tivesse procurado o escândalo, estava contente?
-Foi, com efeito, um êxito. Neste sentido.
-No fundo, ficaria desapontado se a Fountain fosse bem recebida...
-Quase. Na época gostei muito. E depois, na verdade, não tinha muito a atitude tradicional do artista que apresenta o seu quadro, que quer ser aceite e depois louvado pelos críticos. Nunca houve uma crítica porque o urinol não aparecia no catálogo.
-Arensberg comprou-o mesmo assim...
-Sim e perdeu-o. Foi feita uma réplica em tamanho natural que está na Galeria Schwartz."

Saturday, November 20, 2004

MoMA reabre as portas

É um dos acontecimentos mais aguardados e relevantes do ano a atingir no universo da arte e que a imprensa portuguesa praticamente ignorou. O MoMA reabriu hoje as portas. Dois anos e meio e 850 milhões de dólares depois, um dos mais importantes museus de arte moderna do mundo domina agora Manhattan, situando-se entre 53ª e 54ª avenidas. As obras de remodelação a cargo do arquitecto japonês Yoshio Taniguchi conseguiram expandir o MoMA em mais de 50 por cento do seu espaço original (37,500 metros quadrados). O museu espera agora receber um milhão de visitantes por ano. Os bilhetes custam desde 17 euros/2 horas a 37 euros/24 horas.
O MoMA tem uma das maiores e mais representativas colecções de arte moderna do mundo, com um acervo com mais de 100 mil quadros, esculturas, desenhos e maquetes de arquitectura (algumas das quais já passaram por Serralves); 14 mil filmes; mais de 200 mil livros e publicações. É a meca de qualquer artista, curador, galerista ou simples apaixonado pela arte e agora ao reabrir as portas vai sem dúvida recentrar o mundo da arte novamente em Nova Iorque. Recorde-se que a primeira exposição do MoMA realizou-se em 1929 e centrou-se em Cézanne, Gauguin, Seurat e Van Gogh, uma opção relacionada com tentativa de situar as raizes da arte moderna no pós-Impressionismo.
Infelizmente, uma notícia tão importante para o universo da arte acabou mesmo por passar completamente desapercebida nos meios de comunicação social portugueses. Lamentável no mínimo...

Saturday, November 13, 2004

IA no Porto

Entre rumores políticos e algumas certezas jornalísticas ainda por confirmar, o Instituto das Artes (IA), dirigido por Paulo Cunha e Silva, uma das mais brilhantes estrelas da Porto 2001 contratadas pelo governo de Durão, irá ocupar parte do Centro Português de Fotografia (CPF), na Antiga Cadeia da Relação do Porto, abrindo assim uma espécie de delegação no Norte do IA. O facto de, quer Teresa Siza, pelo CPF, quer Paulo Cunha e Silva, pelo (IA), não poderem falar nem comentar o assunto, significa per si que a notícia avançada, nas muitas entrelinhas do discurso da ministra da cultura, na passada terça-feira, na Assembleia da República, tem, de facto, fundamento.
Resta saber se, com a Cultura a merecer os tristes 0,6 por cento do Orçamento de Estado para 2005 (mais 0.1 que no ano anterior), Maria João Bustorff não seguirá a mesma política "gueterrista" de Pedro Roseta: dialogar para dilatar, até ao limite de suportável, qualquer tipo de decisão. O regime jurídico da Casa da Música surge desde logo com um dos mais lamentáveis exemplos desta forma de governar um futuro eternamente adiado, mas recheado de reflexão.

Fernando Lemos: homenagem do CPF

O Centro Português de Fotografia (CPF) homenageou e muito bem, no final da tarde de anteontem, na Cadeia da Relação do Porto, o artista e pensador português Fernando Lemos, com a estreia do documentário homónimo realizado pelo cineasta brasileiro Olívio Tavares de Araújo. O filme afirma-se, sobretudo, como uma ferramenta analítica indispensável, contendo material de consulta obrigatória para a concretização de trabalhos académicos sobre a vida e obra de tão singular e influente figura no meio artístico luso-brasileiro.
Apesar de reconhecido em Portugal, sobretudo nas últimas décadas, pelo seu importante legado fotográfico, tendo recebido em 2001 o Prémio Nacional de Fotografia, Lemos afirma-se sobretudo como artista plástico com frequentes incursões pela pintura e desenho, inserido no movimento surrealista português dos anos 40. O próprio homenageado desvaloriza ou pelo menos marginaliza a sua obra fotográfica confessando que "foi atrás da fotografia como poderia ter ido atrás da cerâmica ou de outra coisa qualquer."
O trabalho em formato vídeo de Olívio Tavares de Araújo inicia e termina uma viagem pela vida e obra de Lemos a partir dos seus trabalhos fotográficos realizados essencialmente nas décadas de 40/50 e que retratam de forma intuitiva e plena de sensibilidade uma geração de notáveis da cultura portuguesa, de Sophia de Mello Breyner a Mário Cesariny passando por Jorge de Sena e José Viana.
Homem de esquerda, simpatizante não filiado no PCP e naturalmente asfixiado pelo Antigo Regime, Lemos refugia-se do outro lado do Atlântico, em 1953, desenvolvendo a partir de S. Paulo grande parte da sua importante produção artítica. Apenas quatro anos mais tarde, em 1957, participa na IV Bienal de São Paulo, dividindo o prémio de Desenho com Wega Nery, conquistando, desde logo, a atenção, respeito e admiração da comunidade artística brasileira.
Portugal recupera, a partir do Porto, "a minha Lisboa a preto-e-branco", o legado fotográfico de Lemos, na exposição colectiva "A fotografia na arte moderna portuguesa", realizada no final da décda de 70. Já, em 1982, Lisboa, cidade natal do artista, desperta, para os seus trabalhos com a mostra "Refotos dos anos 40". Mais tarde, e por iniciativa do fotógrafo português Jorge Molder, a Gulbenkian organiza duas exposições individuais: a primeira, em 1992, em Paris, reunindo meia dezena de fotografias, durante o "Mois de la Photo", e uma segunda e mais ampla incursão pela obra de Lemos, já em formato de retrospectiva, intitulada "À sombra da luz", em 1994.
Pensador livre e conversador compulsivo, Fernando Lemos afirmou-se bastante satisfeito com o documentário de Olívio Tavares de Araújo, "um amigo que me conhece bem" e contente por se reencontrar com uma cidade geneticamente fotográfica, que tem permanecido atenta à sua obra. Um apontamento final para destacar o excelente trabalho que Teresa Siza tem vindo a desenvolver à frente do CPF, um raro mais pleno exemplo de como dinamismo, bom senso e criatividade podem sobreviver no seio de uma institução pública.