Maitena: os pensamentos das mulheres
Depois dos 40 o sexo tem menos tabús. Sente-se mais, pensa-se menos. Depois de ler a interessante entrevista de Márcio Resende à escritora/desenhadora argentina Maitena, publicada na "Única" desta semana, senti-me novamente feliz por ser homem e gostar cada vez mais de mulheres. Vivo há mais de sete anos com uma. É um ser maravilhosamente diferente de mim, uma prova cabal da existência de Deus, do bom e do belo.
No entanto, primeira grande questão que se coloca é: Quando uma mulher conversa com um homem e lhe conta um problema sério, ela quer dele uma solução ou simplesmente um ouvido?
Segunda grande questão: Quando uma mulher diz qualquer coisa, nós (homens) devemos entender o que ela disse ou o que ela quis dizer? Como e quando colocar os duplos sentidos?
Enquando a resposta à primeira questão parece óbvia. O que ela quer é mesmo um ouvido para desabafar. Quer ser entendida. Para nós homens a coisa é um pouco mais complicada. O instinto protector ergue-se, misturado com o ego e alguma vaidade, "afinal, de todos os machos desta selva, é comigo que ela está a desabafar", sentimos logo uma necessidade de a proteger, numa espécie de sindroma de "super-homem", queremos revelar toda a nossa força "sobrehumana claro" e, com um estalar dos dedos, resolver problema que tanto a aflige. "Tás a ver, viver comigo é assim, estás protegida de todo e qualquer problema. Nem tsumanis te conseguem tocar." Naturalmente, o leque de reacções masculinas ao desabafo feminino pode ir bem mais longe do que a do "protector", mas parece-me que esta é a mais primária e comum de todas. Estar simplesmente calado e ouvir o problema sem dar soluções, sem abrir a boca, é o grande desafio e simultaneamente a melhor solução...
A segunda questão, essa é um dos grandes enigmas da vida tal qual a conhecemos. O ideial é entender o que ela quis dizer e não o que disse, mas saber colocar os duplos sentidos na hora certa e no lugar certo requer uma sensibilidade e atenção absolutamente invulgares para o homem comum. Quem as possuir tem mais de metade dos problemas conjungais resolvidos. Naturalmente que, aos fins-de-semana, podemos continuar a ver alguma bola na televisão, (note-se escrevi alguma, não toda), mas tentar entrar dentro dos gostos, ambições e pequenos prazeres femininos pode ser um desafio mais interessante do que à partida parece. Neste campo, os gays já levam metade do trabalho de casa já feito, daí tanto sucesso e admiração com o sexo oposto. Mas, como em tudo na vida, é no meio que está a virtude. Até por que, aos domingos, é mais fácil sofrer com o glorioso do que ir à Timtoreto ou à Mango. Mas há sacrifícios que repetidos muitas vezes se tornam prazeres e, no final do dia, a recompensa é mais intensa e positiva do que as bolas à trave do Nuno Gomes.