Wednesday, November 02, 2005

Pensamento

"A vida é demasiado curta para ser pequena."

Sunday, August 14, 2005

A "Alternativa" ao COMÉRCIO

Mês de Agosto promete momentos históricos para a imprensa "made in Portugal". Poderá "O Comércio do Porto" renascer das cinzas como cooperativa de jornalistas? A "Alternativa" já está em marcha. Novidades para breve...

Saturday, July 30, 2005

Luto

"O Comércio do Porto" morre hoje com 151 anos. Portugal continental perde a seu mais antigo jornal, o Porto uma referência histórica, eu o meu emprego... Agosto não será um mês de férias, mas de luto pela perda física e emocional e de luta por um lugar de trabalho e sustento. Guardo memórias e reflexões sobre esta semana negra e desconcertante para mais tarde. Desculpem-me, mas sinceramente, ainda estou um pouco abalado... vi e senti gente que admiro, companheiros de trabalho, amigos, excelentes profissionais a chorarem de impotência e desespero... a forma como o pessoal está a ser despedido de um jornal centenário numa cidade invicta faz-me lembrar, com todo o respeito, os operários de uma qualquer multinacional do calçado a laborar no Bangladesh... é revoltante a lógica selvagem do lucro sem rosto nem moral e a impotência e, por vezes, cinismo de algum poder político.

Thursday, July 28, 2005

Saldo da semana: compre um, leve dois

"O Comércio do Porto" e "A Capital"

Momento Zen do dia

Entrevistar Dulce Pontes no Aeroporto Sá Carneiro sobre um concerto cancelado e um disco por editar...

"9 Songs", Michael Winterbottom

Exercício de zapping entre National Geographic, Private e MTV2, "9 Songs" traduz o pior do cinema "indie" britânico. Depois do interessante "24 Hour Party People", Winterbotton recua na originalidade e apresenta um produto cansativo e pretensioso. "9 Canções" interrompidas por sexo e congeladas num iceberg com 69 minutos de banalidades. Black Rebel Morotcycle Club, The Von Bondies, Elbow, Primal Scream, The Dandy Warhols, Super Furry Animals, Franz Ferdinand, Michael Nyman são algumas das vítimas.

Sunday, July 24, 2005

Bonojour

Depois de uma semana plena de entrevistas chatas, entre belezas americanas de jazz/botox e hip-hop barrista com sotaque do Porto... fim-de-semana de coma, reservado à digestão de "Bono por Bono". Livro-entrevista de Assayas. Enquanto não chega a Nobel da Paz, trabalho forçado de arquelogia pop dos últimos 20 anos para consumo de fãs "harcore", com poucas revelações pelo caminho. Postura diplomática, estética "cool" de Bono ganham terreno à estrela rock que em página alguma chega a tirar os óculos D&G. Fixada a imagem de activista e católico, o registo afirma-se como um exercício paparazzi onde entrevistador e entrevistado ganham o que o leitor perde: uma oportunidade para repensar estruturas pop num contexto de criatividade industrial e ideologias instantâneas.
Após noite de caipirinhas com amigos, transformei a minha sala num aeroporto tipo OTA e consumi o livro de Bono enquanto esperava pelo próximo voo com destino a umas merecidas férias. Mesmo ouvindo "Dismantle" com olhos postos nos anos 80, seguindo receita médica (ac) não consigo evitar um gosto amargo no canto da boca. Mesmo com bilhetes acessíveis e viagens pagas não vou a Alvalade como não fui a Miami. Ainda tenho gravadas no cérebro imagens da ZooTV. Regresso ao Futuro no meu dicionário é um filme do Spielberg.

Thursday, July 21, 2005

Perplexidades

Hoje de manhã avistei um grupo de jovens a correr pela Rua da Alegria em direcção aos Aliados. Será que foi um arrastão?

Wednesday, July 20, 2005

The Ultimate Architects, "Soma"

Resultado parcial de uma conversa antecipando o show-case na Fnac/Stª Catarina, Porto. O excelente "Soma", primeiro longa duração dos The Ultimate Architects, a servir de ponto de partida. D. Architect, líder do quinteto lisboeta, entre delírios cinematográficos de Cronenberg aos perigos da manotecnologia, uma viagem pelo imaginário de um dos projectos mais interessantes da electrónica nacional que pode ser acompanhada na integra no site dos Ultimate Architects ou na versão impresa do Comércio de dia 17.
Registo mais do que importante para a renovação da electrónica "made in Portugal", "Soma" afirma-se como um trabalho pleno de uma maturidade anunciada em "Elevata". Em estúdio mais uma excelente produção de Armando Teixeira, com Luxúria Canibal a erguer-se num tema "Nanotecnologia", o epicentro conceptual de todo o álbum. Apesar do timing não ser o ideal para o lançamento discográfico, fica uma nota de atenção para um álbum consistente que ao "vivo" ganha uma organicidade interessantíssima, prometendo surpreender muito boa gente. Hajam concertos, muito e bons para o últimos arquitectos.

Monday, July 18, 2005

Crise no cinema: o verão de quase todos os descontentamentos

Actualmente Hollywood enfrenta a pior crise dos últimos 20 anos. Os aliens da "Guerra dos Mundos", "Batman" e o "Quarteto Fantástico" juntos não chegam para atrair mais público às salas de cinema. "Remakes" de qualidade duvidosa, aumento do preço dos bilhetes e ascensão do DVD são alguns amantes responsáveis por um divórcio que começa a preocupar a indústria. Se o séc. XX foi o da imagem cinematográfica, o XXI abre-se para outras paragens digitais. Na realidade, as salas de cinemas dos EUA e Canada estão cada vez mais vazias. As receitas de bilheteira em queda livre de 4,6 biliões de dólares para 4,2.
Parte do problema reside precisamente pobreza do filmes e na incapacidade da indústria renovar temáticas. Se o ano passado foi aborrecido, 2005 é para esquecer. As propostas vindas dos EUA são simplesmente previsíveis. Ir ao cinema deixou de ser uma aventura para se transformar num passeio pelo parque. Em 2004, o ano foi salvo pelo "Homem-Aranha 2" que arrecadou 180 milhões de dólares e em apenas seis dias; "A Paixão" de Mel Gibson que somou 370 milhões. Este ano seguem-se sequelas atrás de sequelas, adaptações da Marvel e o público já não quer saber de super-heróis, começando a perder a paciência e o interesse. Sobram comédias românticas e faltam ideias frescas, argumentos interessantes. Ir ao cinema é cada vez mais um exercício de previsibilidades. Os espectadores já não pedem para ser arrebatados, saindo das salas razoavelmente satisfeitos. O "ah não foi mau" substitui o "uau foi espectacular". Os cinemas europeus também não escapam à crise até por que 90 por cento dos filmes que exibem são "made in Hollywood". Na Alemanha as estatísticas apontam para uma queda de quase 20% na venda de bilhetes. Italia e França: 17%. Ao entrar no século XXI o cinema parece um entretenimento moribunda.

Friday, July 15, 2005

Textos extraordinários: Descobertas alucinantes do programa da Casa da Música

"A música é a mais popular forma de arte entre os jovens músicos portugueses... As novas criações revelam ideias, emoções, gostos, influências, de uma sociedade em constante mutação, permeável a toda a informação que lhes chega através da Internet, da televisão, da rádio, dos jornais, das sms e das outras formas de arte."

Texto extraído do folheto "Programação Julho 2005", da Casa da Música, "Concurso Estado da Nação - 1ª Eliminatória, sexta-feira, dia 15".

Casa da Música fecha para férias

Aparentemente, segundo o JN de hoje, a Casa da Música vai fechar na segunda quinzena de Agosto. A instituição encerra "para manutenção e limpezas profundas, mantendo-se aberta, apenas, a bilheteira para dar informações ao público", esclareceu o departamento de assessoria de imprensa ao JN, justificando: "entendemos que o período mais forte ocorre na primeira quinzena de Agosto, sendo a segunda, apenas, residual. Além disso, a própria cidade entra de férias nessa altura do ano". Palavras para quê. É Portugal no seu melhor estilo.
Depois de apenas pouco mais de três meses de trabalho a Casa da Música já necessita de "limpezas profundas"? Provavelmente ao nível do pessoal, acrescento. "A própria cidade entra de férias nessa altura do ano" é uma desculpa provinciana que releva toda a falta de ambição de um projecto de Estado.

Publicidade na televisão

"Se compro um Picasso, isso não me dá o direito de o cortar ou de pintar sobre ele e alterar as suas cores sob o pretexto de que é meu, de que o paguei e me pertence", Woody Allen.
"Interromper um filme, mortifica-lo com a inserção de spots publicitários, é uma acção criminal que deve ser regulada pelo código penal", Federico Fellini.
Estreia hoje na Espanha documentário "Cineastas contra magnates" do realizador catalão Carlos Benpar. Ler crítica no El pais.
Acrescentaria relativamente à penosa questão da inserção de spots publicitários entre filmes e da respectiva anulação de formato e créditos, de que, em Portugal, esta realidade conhece na TVI o melhor dos exemplos. É provavelmente o único canal exclusivamente dedicado à publicidade, embora por vezes, a interrompa com alguns filmes e telenovelas de gosto duvidoso. Sinceramente já não tenho paciência.

Tuesday, July 12, 2005

Tropas norte-americanas fora de Londres

Os cerca de 12 mil soldados norte-americanos, na sua grande maioria estacionados nas bases de Lakenheath e Mildenhall em Suffolk, foram ontem aconselhados para não se aproximarem de Londres. Familiares e pessoal de serviço receberam a mesma nota para se manterem afastados da capital britânica. Um porta-voz da USAF afirmou que se trata apenas de "uma medida de prudência para garantir segurança aos nossos soldados, civis e suas respectivas famílias". Uma medida que, para além de entrar em rota de colisão com o discurso do sempre destemido Bush, abre um precedente nas relações USA/GB. A resposta mais adequada de Blair seria, desde logo, retirar as tropas britânicas do Iraque, utilizando o mesmo argumento de segurança. Ou será que Londres é uma cidade mais perigosa do que Bagdad?

Artigo da semana: "The Thoughtful Superhawk"

"America did not change on September 11, it only became more itself"
"The Thoughtful Superhawk" título/hiperligação da entrevista de Susan Windybank a Robert Kagan publicada na Policy. Leitura obrigatória para compreender a origem de alguns pontos de atracção e repulsa entre Europa e EUA.

Perplexidades

Ressaca 2001 - Capital Europeia da Cultura travou trabalho de cruzamento e construção de novos públicos e sensibilidades artísticas na cidade, alimentando um novo-riquísmo latente na burguesia provinciana do norte. Actuamente, grande prémio de automóveis antigos de Rui Rio acelera na Boavista e a "Amália" (em versão internacional) de La Féria regressa ao teatro desta vez no Sá da Bandeira. Por vezes, sinto que a cidade, depois de parar no tempo, iniciou uma inversão de marcha rumo ao passado. Qualquer dia, ao cruzar a Av. dos Aliados ainda sou confrontado com uma ruidosa feira medieval.

Saturday, July 09, 2005

G8: Realidade e Justiça

Para os mais pessimistas um sucesso, enquanto para a maioria dos activistas uma desilusão. Provavelmente, ambos têm razão. O G8 conseguiu, por um lado, duplicar a ajuda para combater a fome e a SIDA em África, mas por outro, relativamente ao comércio justo e às alterações climáticas tudo permanece na mesma. Um olhar esquemático sobre as expectativas e a realidade saída dos G8.
1. Fome/SIDA - Inicialmente esperava-se 10b de dólares a partir de 2006, com 25b extra para África. No acordo final, Blair conseguiu 50b, mas só entram em acção - para grande descontentamento das ONG´s e activitas - a partir de 2010, ou seja quatro anos mais tarde do inicialmente previsto. Segundo a organização "Make Poverty History", em 201o, morrerá uma criança a cada 3,5 segundos. Um atraso que afecta ainda 40 milhões de pessoas infectadas com HIV. No entanto, mesmo os mais cinicos reconhecem a coragem e justiça da medida. Gedolf e Bono consideram-na como "um primeiro e importante passo rumo à justiça". O efeito "Live8" fez-se sentir. Fala-se de Geldof para Nobel da Paz. Entretanto, nota mais do que importante para os 3b oferecidos à autoridade palestiniana, um passo importante para assegurar a paz naquela região.
2. Dívida - Ministros das finanças dos G8 sublinharam, desde logo, que o custo do cancelamento da dívida dos 18 países africanos ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional custaria perto de 40b. No texto final, o perdão da dívida aos 18 é reactualizado com juros, atingindo 45.7b. Outro dos grandes avanços desta cimeira.
3. Comércio - Activistas denunciavam que os mais ricos gastavam 300b por ano em subsídios à agricultura para exportação, travando a entrada no mercado de produtos africanos. Queriam, desde logo, que estes apoios acabassem o mais cedo possível. O chanceler Gordon Brown avançou com data de 2010, tendo sido rapidamente descrita pelo comissário europeu para o comércio, Peter Mandelson, como "irrealista". A França aproveitou a boleia, querendo adiar a questão até 2016. Não houve qualquer acordo nesta matéria nem qualquer data avançada para terminar com os subsídios, formalizando assim um dos maiores fracassos de toda a cimeira. O G8 apoia cada país a fazer o que muito bem entender nesta matéria. O texto final apresenta, no entanto, uma nota de intenções, que aponta para "o compromisso de eliminar todas as forma de subsídio à exportação... até uma data crível".
4. Aterações climáticas - As expectativas dos ecologistas eram naturalmente elevadas, mais do que o reconhecimento do problema do aquecimento global do planeta devido à actividade humana, esperavam do G8 medidas firmes e urgentes, sobretudo na adopção de tecnologia amiga do ambiente. Se os EUA se aproximassem do tratato de Quioto seria um avanço significativo, pois, para além de serem o maior poluidor, são o único do grupo que ainda não assinou o tratado. O texto final admite a existência do problema e da necessidade de actuar nada mais. O plano saído de Gleneagles dá luz verde para uma série de conversações sobre energias amigas do ambiente com países industrializados como a China e Índia já a partir do próximo mês do Novembro. EUA não se comprometeram a reduzir emissões de CO2 ou a assinar Quito. Para os ecologistas, este G8 foi uma oportunidade perdida para realizar progressos na área ambiental.
Notas finais: Apesar de globalmente notável, a cimeira do G8 me Gleneagles, na Escócia, sobretudo no que diz respeito à ajuda a África, mais do que nas questões do comércio e ambiente, necessário será desenvolver mecanismos de controlo na atribuição dos apoios e um olhar mais atento sobre governos africanos. O problema da corrupção em África é uma das causas centrais da pobreza de um continemente geneticamente rico. Se não se efectivar um controlo maior sobre os resultados e aplicação deste apoio no terreno, os subsídios serão mais lenha para a fogueira.

Friday, July 08, 2005

As Cruzadas contemporâneas ou a maldição de Bush regressa à Europa

Nas manchetes da imprensa britânica de ontem podia ler-se "One Sweet Word: London." A cidade não teve tempo para ressacar a vitória olímpica sobre os eternos rivais franceses nem Blair para sorrir na Escócia perante um aparentemente fleumático Chirac. As explosões no Metro e nos autocarros londrinos acordaram o mundo ocidental para a fenómeno da terrorismo.
1. Quanto vale uma vida iraquiana?
É impressionante como perto 50 mortos numa capital europeia conseguem gerar mais de 12 horas de indignação internacional em directo, enquanto perto de 900 mortos de fome por hora em África são uma banalidade indigna de um simples rodapé no telejornal da noite. Será que um míssil Tomahawk lançado, por engano, sobre um infantário, em Basorá, não merece igual atenção mediática, 12 horas de directos e centenas de condenações internacionais com outros tantos pêsames à mistura? Qual o valor real de uma vida britânica em comparação com uma palestiniana? Uma criança russa é mais importante do que uma iraquiana?
A lógica do terror impõe-se como um monstro só quando bate à porta do vizinho mais próximo.
Cedo as ondas de terror se levantaram nos "mainstream media", recheados de emoção e pesar, ocultando, desde logo, a verdadeira natureza do "mal", da morte, legitimando a "protecção" e alimentando a "acção" do líderes no poder. As estações de televisão multiplicaram-se em reacções de pesar, em lamentações e condenações destes actos condenáveis por natureza. Falou-se de civilização, de choque de culturas, de estilos de vida em vez de se reflectir sobre o por quê, das razões do ódio, gritaram-se mensagens de guerra como "não nos vamos intimidar", "não vencerão". Bush cedo acusou estes "monstros" de "terem o mal no coração".
2. Não estará a Europa a colher o mal que semeou?
"On the one hand, we got people here who are working to alleviate poverty and to help rid the world of the pandemic of AIDS and that are working on ways to have a clean environment. And on the other hand, you've got people killing innocent people. And the contrast couldn't be clearer between the intentions and the hearts of those of us who care deeply about human rights and human liberty, and those who kill, those who've got such evil in their heart that they will take the lives of innocent folks. We will spread an ideology of hope and compassion that will overwhelm their ideology of hate." " G.W.Bush, 07/07/05
A explicação do presidente dos EUA para os atentados de ontem longe de ingénua é assustadora no sentido mais tétrico do reformular a história pós-moderna através da simplificação que oculta o essencial. Orwell há muito que deixou de ser um profeta. A política neoconservadora dos falcões da Casa Branca é uma das causas centrais destes ataques terroristas. Tende, sob a falsa moralidade da compaixão, converter o mundo árabe à "pax americana". Uma nova cruzada parece erguer-se. Novo milénio abre-se ao terror e brutalidade medieval exponenciada pelas novas tecnologias da guerra financiada pela Lockheed Martin, empresa que Lynne Cheney, esposa de Dick Cheney, vice-presidente dos EUA, tão bem conhece. Só os mais ingénuos se podem dar ao luxo de ficar surpreendidos com as explosões de ontem em Londres. Não estará a Europa a colher o mal que semeou e uma aliança com os EUA contra a opinião e o bom senso público?
Importa recordar que na mente de toda uma nova geração de árabes ainda está bem viva a invasão do Afeganistão, Iraque, uma substituição de ditadores, o desaparecimento, tortura e morte de familiares. As imagens de tortura em Abu Ghraib, que atingiram meio mundo em April do ano passado, podem ajudar a compreender o presente.

Thursday, July 07, 2005

Infantilização da estética feminina - parte II

Post conclusivo ou/e em aberto, tendo em conta a discussão gerada pelo original, "Infantilização da estética feminina", remeto para possíveis análises complementares, que derivaram parcialmente do "input" sobre estética/consumismo, para o excelente artigo "Consumismo" publicado no cinecultura.

Wednesday, July 06, 2005

Blitz à "24 horas"

Foto, capa e repectivo tema central do Blitz desta terça-feira são históricos sob vários aspectos. "As Canções de Engate - As músicas do Salão Erótico e as outras que fizeram lá falta" é uma afronta clara ao "24 horas" que parece finalmente conhecer no novo Blitz um insuspeito concorrente. A fotografia de capa remete para um universo porno-popular que, sinceramente, me surpreendeu, pois julgava ausente das apostas editoriais portuguesas ligadas aos universos musicais. Depois de piscar o olhos à NME, a mais recente metamorfose do Blitz revelou nesta semana uma pulsão pela vulgaridade unicamente comparável ao pior do audiovisual português ou à versão brasileira Blitzerótica. Espero pelo engano.

Cultura nacional a pique

Ballet Gulbenkian extinto pela respectiva fundação. Capital Nacional da Cultura em 2006 anulada pela ministra da Cultura. Companhias teatrais do Norte em coma induzido pelo Instituto das Artes. Entretanto, vamos ter OTA´s e TGV´s. É o regresso à política do betão.

Monday, July 04, 2005

"Live 8": Heróis ou hipócritas?

Não me chocou ver a área VIP em Hyde Park comprada por "colarinhos brancos", que, de costas para o palco e para o espectáculo, bebiam garrafas de D. Perignon vendidas no local a 99 libras, nem que Sir Elton John tivesse ido à festa no seu helicóptero particular. O cinismo de alguma imprensa britânica, com Independent em inevitável destaque, sobre o "Live 8" limita-se a explorar o óbvio, o previsível. Espantado ficaria, se a invejada aristocracia rock britânica deixasse os aviões em casa e fosse a pé para o concerto, num gesto de ascese medieval tipo Fátima, tão absurdo e inconsequente, ou que quem ajudou a pagar a conta no final da festa não tivesse direito a um lugar na primeira fila, com ou sem champagne.
Mesmo que tudo o resto falhe, G8 incluído, fica a certeza que, depois de arrumadas as guitarras, a aldeia global e a geração internet conheceram um evento que trouxe, mesmo que temporariamente, a questão africana para a agenda internacional e para o pensamento colectivo. Naturalmente, a pergunta que se impõe é se o G8 ouviu os acordes nostálgicos do "grand finale" com "Hey Jude"? (tema escrito por Sir Paul McCartney ao filho de John Lennon, Julian, após o assassínio do Beatle em Nova Iorque). Não será o G8 a causa do problema africano, mais do que a sua improvável solução? Certamente, ao ouvir McCartney poucos se teram lembrado (e isso sim seria bem mais interessante do que escrever sobre o preço das garrafas D. Perignon), de que foi o Beatle que organizou o pró-patriótico concerto pós-9/11 em Nova Iorque, com a melodia de encerramento a ser usada como slogan "fight for freedom", pela administração Bush na batalha GWOT (Global War on Terror).
Naturalmente a imprensa britânica não acertou nas críticas ao "Live 8", atirando-as deliberamente para o lado mais populista. Blair já tinha ganho nos ecrãs da MTV. Enquanto, a BBC optava por interromper a emissão "live" no momento em que os ecrãs de Hyde Park transmitiam vídeo-choque da fome em África, evocando as técnicas do "Aid" de 1985. Depois de ler alguma impresa internacional, com várias análises ao fenómeno e posições como disse por vezes cínicas e demagógicas sobre um problema dramático, é quase patético, olhar para a ressaca na imprensa nacional. A título de exemplo deixo apenas o mais do que infeliz título do JN de hoje: Reunião dos Pink Floyd acabou por ser a cereja no topo do bolo. A notícia, naturalmente um copy/paste da LUSA, traduz a inércia cada vez maior da imprensa nacional e o desconhecimento do contexto envolvente ao projecto que pouco ou nada tem a ver com o reencontro circunstancial embora simbólico dos cabelos grisalhos de David Gilmour e Roger Waters. Em contraste, a RTP optou pela agressividade do desespero. Faltou profundidade, sobrou emoção. Lamentavelmente, pelo caminho ficou novamente uma oportunidade de debater um assunto tão importante quanto dramático. Entretanto todas as atenções se voltam para a Escócia. Provavelmente, se tudo o resto falhar, a "big thing" será creditada sem sombra de dúvidas a saint Geldof.

Saturday, July 02, 2005

"Live 8"

"Live 8", exemplo interessante de como o fenómeno da globalização, inicialmente satanizada por grande parte da intelectualidade da esquerda europeia, é, de facto, uma via de dois sentidos. Santo Geldof, para além de todas as contradições inerentes a uma figura autocrática, não deixa de reproduzir na música um sentido humanitário tão urgente quanto redentor, há muito ausente na política e esquecido na religião institucionalizada. Desejo um bom começo para esse longo caminho para a justiça e que o G8, um dos maiores símbolos do triunfo da economia privada sobre a "res publica" e sobre o bem comum, dê, já na próxima semana na Escócia, um sinal claro de que a vida humana é para os líderes do mundo bem mais precisosa do que o preço do barril de petróleo. Uma das conquistas da tecnologia é também um aumento da democraticidade dos países ditos desenvolvidos. Não se pode continuar a ignorar a morte de 30 mil crianças por dia. Televisão, rádio, internet, projectos globais unidos a partir de hoje num despertar para a esperança. Esperam-se resultados, abalos de consciência e sobretudo medidas concretas que ajudem a humanidade a acreditar nela própria. "I want to Believe".

Friday, July 01, 2005

Humor

Thursday, June 30, 2005

Mezzo: Lucky Peterson

No mínimo memorável o concerto de Lucky Peterson que a Mezzo teve, ontem à noite, a inteligência e bom gosto de exibir. Sortudos os que poderam acompanhar a emissão do canal francês.

Infantilização da estética feminina

Parece-me deplorável a forma obscena como a cultura pop audiovisual infantiliza a identidade estética da mulher pós-moderna. Estou cada vez mais cansado de me cruzar na rua e no trabalho com mulheres e jovens vestidas como "teenagers" ou crianças de umbigo à mostra. Não há nada mais ridículo do que ver uma mulher adulta a querer fazer-se passar por uma criança, num combate perdido contra as mazelas por vezes charmosas do tempo. Da indústria cosmética aos modelos das novas séries televisivas "Made in EUA", passando pelas fotografias cor-de-rosa depositadas em formato de revista encima das mesas de um qualquer cabeleireiro ou dentista, as mulheres modernas parecem-se, infeliz e lamentavelmente, com as suas filhas adolescentes.

Wednesday, June 29, 2005

Noite Halloween do Porto com Moonspell



É a primeira dose da pré-temporada do Fantasporto 2006. Entre múltiplas promessas de Dorminsky, para já, concerto em noite de Halloween (31 de Outubro - 1 de Novembro), no Teatro Sá da Bandeira, com portugueses Moonspell, que passaram ainda este ano pelos Coliseu com Cradle of Filth, e os italianos Daemonia, de regresso ao local do crime, para destilar rock progressivo com Dario Argento em "background". Fantas "marketing" episódio 1 em pleno movimento. Espera-se um 2006 com mais conteúdo e renovadas propostas cinematográficas. "Love Connection" nova secção a inaugurar já na próxima edição em Fevereiro promete espaço para dramas sentimentais e algum erotismo asiático. Para além das novidades e muitos experimentalismos, alguns corajosos, diga-se, espera-se, sobretudo, consistência no grande ecrã. "Fantas Sound" diluído com mulheres húngaras à porta do Passos Manuel. Em 2006 tudo ou quase tudo pode acontecer na Fantas City.

"Éramos Assim", Boite Zuleika

Finalmente um grande disco em português. Primeira longa-duração dos Boitezuleika, "Éramos Assim" merece atenção. Base jazz com misturas funk, ritmos samba, bossa nova e esclarecidas texturas do melhor da música tradicional de autores nacionais com Sérigo Godinho como referência evidente. Lírica inteligente, estruturas sonoras exigentes. Há mais vida e criatividade para além do bem produzido single "Cão Muito Mau". Tema a recordar "Bolero do Coronel Sensível que fez Amor em Monsanto", original extraido do registo "Eu me comovo por tudo e por nada", 1992, de Vitorino, letra da amigo António Lobo Antunes. Um disco para descobrir. "Circo da Amadeu", "Bola de Sabão", "Quiseram Roubar-me Esta Noite", "Tóxico Prostituta", temas que urge conhecer.
Entrei nesta Boite contruída no Porto há já alguns anos depois de um concerto no Hard Club. Surpreendeu-me a maturidade do colectivo. A urgência de conhecer a banda levou-me a uma conversa algures entre o Avis e o Luso, com uma francesinha à frente. Chico & companhia são um excelente exemplo de uma segunda geração de compositores e letristas com talento e garra para herdarem e reactualizarem o legado de Fausto, Godinho e Palma. Adversos à pop "easy", resta ouvir e reconhecer a densidade de um disco com qualidade bem acima da média.

Tuesday, June 28, 2005

Festivais de Verão em análise

Os festivais de verão estão cada vez mais parecidos com os "blockbusters" de fim-de-semana, num qualquer hiper-mercado, com mais de dez salas, no final, simplesmente já não surpreendem. Deixam um gosto amargo. Em vez de arrebatados ficamos com um "poderia ter sido melhor". A desilusão ganha anualmente terreno ao espanto e à surpresa. Na realidade basta analisar as cartazes dos três grandes festivais nos últimos cinco anos para constatar o crescimento de apostas extraídas do panorama audiodigital verificar o aumento vertiginoso de produtor desenhados para o mais lucrativos dos mercados o "teen", que actualmente se afirma com o público alvo dos "i-tunes", "ringtones" e afins. As lições, consequências e efeitos de Rock in Rio só aceleraram um processo de mercantilização em marcha desde 2002. A explusão dos Nickelback no Ermal não foi mais do que um último grito para uma revolução cujos vencedores e vendidos já estavam anunciados na MTV. A pulsão para o pop comercial e aversão à novidade e ao risco não param de aumentar de forma inversamente proporcional à idade do público alvo. Com a excepção do Paredes de Coura, que guardo como o único festival de algum interesse, tendo o bom gosto da Ritmos de João Carvalho, que desvia para Portugal projectos com Yeah, Yeah, Yeahs, The Datsuns, Arcade Fire, Death From Above 1979, entre outros, pouco ou mesmo nada justifica 70 a 80 euros de entrada. O futuro dos festivais do verão é identico ao dos shoppings da actualidade. O público é idêntico. Os patrocinadores são iguais. É equação não deixa margem de manobra para qualquer espécie de criatividade fora do marketing.
Na origem desta tragédia há muito anunciada estão múltiplos factores, a começar, desde logo, os acima referidos e incontornáveis interesses dos patrocinadores em relocalizar eventos a partir das demografias de consumo e construir cartazes à medida do público alvo: O Super Bock Super Rock em Lisboa é provavelmente o caso mais flagrante deste "delito" de invadir a área da Sagres. A luta pelo público "teen" tem de seguir a mesma lógica de consumo de massas, moldando cartazes, alinhamentos, rotas de digressão e favores, naturalmente paralelos, entre nomes de peso e artistas desconhecidos. E é neste espaço que as editoras jogam o pouco poder que ainda possuem. Com a faixa etária do público consumidor a baixar drasticamente, torna-se necessário equilibrar as apostas musicais. Seduzir os pais, não só para deixarem os filhos irem ao festival, mas também para darem lá uma saltada, para ficarem de olho. Assim junta-se na mesma noite de Vilar de Mouros Joss Stone de 15 anos, como Joe Cocker de 61. Quando a geografia não representa uma conquista de um mercado de interesse, assiste-se a fenómenos híbridos, onde vale tudo para todos. A mutação 2005 do Ermal é provalvemente o exemplo mais recente deste formato "multiplex". Uma espécie de "self service" entre o metal norte-americano, o reggae jamaicano e pop planetário. Resultado final, o tal amargo de boca idêntico aos filmes "made in Hollywood". Não surpreendeu mas foi porreiro. Um certo contentamento, descontente, distante das noite de arrebatamento e surpresa que a música, independemente do género pode, sabe e deve provocar. Com a explosão dos "rock fest" na Europa, mais um par de anos, e teremos de nos contentar com Guano Apes, Scorpions, Da Weasel e The Gift, Uma espécie de queima das fitas mas com uma ou outra Madonna "wanna be" para animar a "generation next" de telemóvel 3G em riste.

Friday, June 24, 2005

Abertura d´ o vício da letra

Por motivos que estão devidamente explicados n´o vício da letra, decidi hoje inaugurar o referido espaço, inteiramente dedicado à literatura, onde ocasionalmente, dependendo da inspiração e da coragem, publicarei alguns poemas, contos, ensaíos e pensamentos meus e de autores nacionais e estrangeiros que admiro. Uma casa tendencialmente mais intimista e confessional. As portas estão abertas. Sejam bem-vindos.

Thursday, June 23, 2005

Dúvidas


Dúvidas escorrem
como sombras sobre minh´alma de plástico,
emprestada e frágil.
Aos primeiros raios de luz, derreto-me em ti.
O silêncio quente do teu desespero
ilumima-me.
Espero pela noite,
inquieto.

AN

Batman Begins


Como transformar um "American Psycho" em "Batman", Christopher Nolan parece ter a solução. Na realidade o miúdo fez meio mundo chorar n´"O Império do Sol", de Spielberg, está bem crescido, já tem idade e barba rija para vestir a capa do super-herói de Gotham. Christian Bale ganhou asas e conquistou público e crítica norte-americanas, que já classificou o episódio, que estreia hoje em Portugal, como o melhor de toda a série. Quem pensava que Batman estava morto, enganou-se. O londrio Nolan ("Memento" e "Insónia" ) e 130 milhões de dólares são os principais culpados, e provam que o Homem-Morcego ainda tem asas para voar e (re)conquistar a cultura pop, pelo menos no verão 2005. As críticas do alguns jornalistas referência, como Kyle Smith do New York Post, dão nota máxima a "Batman Begins". Ver para crer. Provavelmente, fico em casa com "Os Idiotas", de Trier. São óptima companhia. Tenho medo das alturas e identifico-me mais com a idiotice fingida do que com realidade dos super-heróis de capa ao vento.

Ministra da Cultura dá subsídio de sobrevivência

Aparentemente a acção de encobrir a estátua de Almeida Garrett, em frente à CMP, protagonizada pela Art´Imagem, e o ultimato consequente, da Plateira, em direcção ao Ministério da Cultura deram resultados. Paliativos é certo, mas com a promessa de Isabel Pires de Lima de "oferecer" dez mil euros às companhias de teatro no Norte, significa que estas já podem contar com algum dinheiro pelo menos para pagar parte dos juros à banca. Entretanto, a cultura teatral a norte encontra-se refém do Tribunal Administrativo do Porto. Espera-se e desespera-se. De Paulo Cunha e Silva nem uma palavra. O silêncio do Instituto das Artes torna-se cada vez mais ensurdecedor.

Tuesday, June 21, 2005

Bill Corgan: "I want my band back"

Perante uma carreira a solo em queda livre, Bill Corgan avança hoje, em notícia da REUTERS, em Chicago, que deseja ressuscitar os Smashing Pumpkins. Naturalmente, na base de um regresso improvável está o actual beco sem saída em que se encontra um dos maiores ícones do rock alternativo e avant-garde dos anos 90, com o álbum "TheFutureEmbrace" a fazer recordar o pior dos Smashing. Apesar de considerar "Siamese Dream" e "Mellon Collie and the Infinite Sadness" dois dos melhores registos da última década e meia, na verdade, não acredito em reuniões criativas e arrebatadoras em final de carreira. Actualmente, os Pixies são, provavelmente, o exemplo mais lamentável dos efeitos secundários da indústria dos festivais de verão.

Saturday, June 18, 2005

À conversa com Pat Metheny

Hoje acordei com telefonema de Pat Metheny, algures na Europa, numa "bus stop" improvável. Este ano o guitarrista tem sofrido de algumas dores nos ouvidos que o impedem de viajar de avião, mas revelou-se cheio de vontade de regressar a Portugal para apresentar ao vivo o mais recente "The Way Up", uma desconcertante peça dividida em cinco partes que serve de protesto contra as "small size songs" feitas para entrar em qualquer telemóvel. Um concerto a não peder no dia 25, sábado, no Coliseu do Porto. Metheny tem levado para casa, nos últimos sete anos, outros tantos Grammys, com "The Way Up", arrisca-se e levar com um oitavo. Jazz impecavelmente estruturado, de alta complexidade, ao vivo abre, naturalmente, espaços para uma improvisação que certamente não deixará de surpreender e encantar.

Casa da Música: Sun Ra Arkestra, o regresso

Com o saxofone de Marshall Allen cilindrado pelo trompete de Fred Adams e pelo trombone de Tyrone Hill, a Sun Ra Arkestra conseguiram com muito o esforço sobreviver anteontem à noite a uma equilização quase mortal, tendo encontrado, em duas horas de actuação, alguns espaço para oferecer dois ou mesmo três bons momentos de free jazz e retro-swing com alguns blues pelo meio interessantes. "Angels and Demons" e "Spaceship Lullaby" foram os temas mais fortes de uma noite bastante revivalista e com uma acústica de cortar os pulsos. Pequeno Auditório da Casa da Música invadido por uma Arkestra intergaláctica de veteranos, estética solar aliada a um jazz tão frenético quando perdido na Chicago dos anos 50. Volvidos 20 anos, a banda do mítico Sun Ra (1914-1993) merecia melhor acústica. Lamentável para o público que pagou 20 euros e para os músicos que esforçaram-se até ao limite por conquistar a plateira.

Thursday, June 16, 2005

Garrett de olhos vendados

Protesto com elevado peso simbólico, a companhia Art´Imagem encobriu ontem a tarde a estátua de Almeida Garrett, situada em frente à Câmara Municipal do Porto, num criativo protesto dirigido à ministra da Cultura e ao histórico atraso na atribuição dos concursos do IA. A polícia municipal demorou pouco mais de meia-hora até se dar conta da ocorrência, apesar dos José Leitão ter alertado a autarquia e conseguido autorização do Governo Civil. Na realidade, foi quase patético assistir à intervenção da Polícia Municipal que revela o estado de ignorância democrática e deintimidação civil que actualmente atravessa vários sectores da sociedade portuense. Esperemos pelo bom senso eleitorial do povo da Invicta e pelo trabalho de casa do PS. Já falta pouco até Setembro.

Teatro a Norte lança ultimato à ministra da Cultura

É o esgotar da paciência. As estruturas teatrais a Norte deram ontem um ultimato à ministra da Cultura. Se até terça-feira não resolver o problema dos subsídios, Isabel Pires de Lima terá de enfrentar um tsunami de manifestações e protestos colectivos. Situação há muito prevista. Em posts anteriores, desde o anúncio dos resultados, que esta situação era mais do que esperada. Actualmente, o tecido teatral do Porto, em particular, e do Norte, em geral, esta a atravessar uma das piores crises de sempre. Com os lamentáveis resultados do concurso do IA fixados em Março e "congelados" pela providência cautelar interposta pela Panmixia, em finais de Maio, as consequências a nível da produção não se fizeram esperar. Quem conseguiu crédito bancário ainda pode sobreviver durante alguns meses, casos contrários, como o das "Boas Raparigas" morrem lentamente. Não será de esperar que Isabel Pires de Lima crie uma linha de crédito para as companhias até à próxima terça-feira, não por falta de tempo, pois esta situação era como já afirmei até à exautão, mais do que previsível, mas por inércia pura e simples. Depois da desilusão Paulo Cunha e Silva, não deixa de ser lamentável, que gentes do Norte quanto chegam à capital sofrem de uma amnésia e inércia unicamente explicável por alguns complexos de inferioridade ou traumas provincianos. Não que deva beneficiar a região que os viu nascer, pois esta não fez esforço algum para que tal acontecesse, como é óbvio, mas que, pelo menos, tratem com maior inteligência e justiça uma região que ainda necessita de apoio cultural e formação a nível do ensino para sair de uma situção de claro atraso não na criação mas na fruição e consumo de bens artísticos.

Wednesday, June 15, 2005

"Obscuro Domínio", Eugénio de Andrade

Amar-te assim desvelado
entre barro fresco e ardor.
Sorver entre lábios fendidos
o ardor da luz orvalhada.

Deslizar pela vertente
da garganta, ser música
onde o silêncio aflui
e se concentra.

Irreprimível queimadura
ou vertigem desdobrada
beijo a beijo,
brancura dilacerada.

Penetrar na doçura da areia
ou do lume,
na luz queimada
da pupila mais azul,

no oiro anoitecido
entre pétalas cerradas,
no alto e navegável
golfo do desejo,

onde o furor habita
crispado de agulhas,
onde faça sangrar
as tuas águas nuas.

Monday, June 13, 2005

Eugénio de Andrade

Faleceu hoje de madrugada um dos maiores poetas de sempre da língua portuguesa: Eugénio de Andrade. Recordo-me ainda este ano, por altura do seu 82 aniversário, do encontro-celebração da vida do autor de "Escrita da Terra", na Fundação Eugénio de Andrade, na Foz, a 19 de Janeiro. De Manuel António Pina a Arnaldo Saraiva, de jovens talentos como Rui Lage, a casa/funcdação do poeta transformou-se num pequeno ninho para tão grande e sentida homenagem. Como no Porto, os escritores movem-se em "capelas", naturalmente alguns nomes que agora aparecem na televisão a elogiar o poeta não compareceram a festa de aniversário. Homem de esquerda, Eugénio produziu alguns do mais belos poemas que alguma vez tive a oportunidade de ler. A terra, o mar, o corpo e a figura da mãe são temas ou paisagens transversais numa obra notável que ao longo desta semana terei o cuidado, e espero o tempo, para revisitar aqui no blog. O país, visto como a língua portuguesa, fica a partir de hoje mais pobre. No entanto, importa ler e saborear a lírica de Eugénio.

Adeus - Eugénio de Andrade

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.

Friday, June 10, 2005

Dia de Camões

Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como um acidente em seu sujeito,
Assim coa alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
(e) o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.


"Sonetos de Camões", escolhidos por Eugénio de Andrade, Ed. Assírio & Alvim

Thursday, June 09, 2005

"Sin City" ou como fabricar um "blockbuster" sem sair de casa

Posted by Hello

É uma das estreias da semana. Volvidos pouco mais de dois meses sobre a "premier" em Hollywood, "Sin City" já arrecadou nos EUA mais de 73 milhões de dólares, preparando-se em breve para duplicar o investimento inicial de 40 milhões. Mas para além dos números, "Sin City", a mais recente extravagância audiovisual de Robert Rodriguez, triunfa por vários elementos de interesse que podem gerar uma nova vaga de realizadores e abalar parcialmente os estúdios de LA. Volvida mais de uma década sobre "Mariachi" para o qual Rodriguez teve de trabalhar como cobaia em laboratórios farmacêuticos, juntando os modestos sete mil dólares para a produção rodada em apenas de 20 dias, algures numa vila na fronteira com México, o realizador do "Aberto Até de Madrugada", conhecido como "do-it-yourself" e pela amizade com Tarantino, conquistou uma independência e vários milhares de dólares com "Spy Kids". Para produzir O primeiro dos três episódios "Sin City", Rodriguez só teve de juntar o mago da Marvel Frank Miller, 40 milhões de dólares e fechar-se na sua mansão em Austin, Texas. Virando as costas aos estúdios de Hollywood, "Sin City" foi rodado na garagem naturalmente azul e em formato digital com as estrelas a habitarem conforme a disponibilidade e set caseiro de Rodriguez. Pré-montagens dirigida por Miller, sucessso garantido nas bilheteiras pela presença de Bruce Willis e aplauso da crítica pela estética "noir" do Miller menos "mainstream". A proposta triunfa em duplo sentido, mostrando aos estúdios de Hollywood que, tal como as grande editoras, a tecnologia e a arte não jogam a seu favor.

Monday, June 06, 2005

"Xadrez", Vieira da Silva Posted by Hello

O fenómeno José Gil

D´ "As Causas da Decadência dos Povos Penínsulares", de Antero de Quental, a "Portugal, Hoje: o Medo de Existir", de José Gil, passando por "Portugal Como Destino seguido de Mitologia da Saudade", Eduardo Lourenço, o universo ensaístico nacional tem produzido múltipas reflexões sobre o Pensar e a Mentalidade portuguesa em áreas tão diversas como a religiosa, cultural e socio-política. Actualmente, com José Gil transformado em fenómeno mediático, com o seu mais recente ensaío, que vai já na 7ª edição em apenas seis meses, e a conhecer leitores em vários e insuspeitos estratos sócio-culturais, importa situar o fenómeno e contextualizar uma "hype" que, se por um lado, tem aspectos sinceramente positivos, sobretudo no que diz respeito à aproximação do pensamento filosófico e do ensaío crítico ao leitor de domingo à tarde, resulta, por outro lado, de factores menos felizes e que se podem caracterizar pela tendência para a autoflagelação, em tempos de crise económica e identitária. Alegro-me pela popularidade do autor e da obra em particular, mas coloco reticências em relação à quantidade de novos admiradores que terão a "bagagem" para consumir outras propostas ensaísticas de José Gil, bem mais complexas como "As Metamofoses do Corpo". Portugal ainda sobre de uma crise educacional crónica. Temo ainda que a esfera mediática que há muito consumiu a pública, aniquilando qualquer espaço sério de debate e reflexão crítica, remetendo a opinião para os sacerdotes do costume, Eduardo Prado Coelho, Marcelo Rebelo de Sousa e Miguel Sousa Tavares, entre outros, acabe, como mecanismo de autodefesa, por transformar Gil numa espécie figura contemplativa e iconográfica. A palavra vive do encontro surpreendente e arrebatador; da acção consequente e inovadora. Enquanto os filósofos pensam a realidade não pode continuar a passear-se distante do Homem.

Sunday, June 05, 2005

As birras da ministra e as tácticas "ocultas" de Rio

Ontem o Porto assistiu a mais uma revelação das lamentáveis tácticas políticas de Rio. À espera da ministra da Cultura, que decidiu participar, a título particular, na mais do que merecida homenagem a esse vulto do pensamento português do séc. XX, Óscar Lopes, estavam na entrada do palácio de cristal, dois cartazes que pediam à ministra para acabar com a birra e deixar contruir o buraco de Ceuta. Pelo tamanho e proximidade com os panéis da Feira do Livro do Porto, prontamente o vice.presidente da APEL, Jorge Araújo, se encarregou de pedir desculpas à ministra, demarcando-se das mensagens, afirmando mesmo que entrou em contacto com os responsável pelo Palácio, pedindo para que retirassem os cartazes, ao que estes responderam que tinham autorização da Câmara Municipal do Porto. Estamos perante a táctica que surpreende pela infantilidade e cobardia. Sem qualquer movimento popular que suporte a colocação de tais mensagens, ter um autarca a usar o equipamento municipal e um evento literário para enviar mensagens aos governanentes e fazer campanha eleitoral pela negativa roça o caricático e releva uma falta de estatura política sem precedentes. Naturalmente será escusado dizer que nenhum representante da CMP se dignou assumir a autoria dos cartazes e comparece à homenagem de um homem do Porto que se afirma como um dos maiores vultos do ensaísmo, crítica literária, linguística e pensamento contemporânea. A cultura autarquica fica-se pelo insulto anónimo e pelas festas das rádios pimpa da cidade.

Saturday, June 04, 2005

Crítica às condecorações de Sampaio

Tendo como pano de fundo o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, ficam, duas sugestões alternativas aos nomes ontem divulgados na comunicação social e que serão condecorados, no dia 10, por Jorge Sampaio. Em vez da nova estrela do marketing internacional José Mourinho, proponho a atleta olímpica e campeã nacional Teresa Machado, que actualmente lava escadas para sobreviver. Em vez da apresentadora televisiva e aspirante a actriz, Catarina Furado, cujo contributo cultural para o nosso país tem sido e continua a ser nulo, proponho "As Boas Raparigas", que tiveram de vender parte do espólio para sobreviver... Os verdadeiros vencedores portugueses são os exemplos de talento e sobrevivência cá dentro e não de sucesso mediático lá fora.

Friday, June 03, 2005

Serralves reactualiza Festa versão 2005

Depois do sucesso da primeira edição, com mais de 40 mil visitantes, Serralves oferece a versão 2005 à cidade, mas com assinaláveis alterações estruturais. A primeira nasce do embaraço 2004 chamado Televison. O concerto pago acabou por não resultar em termos sonoros e de público. Este ano, evita-se os concertos chocolate, simplifica-se, com 160 mil euros da Unicer não há necessidade alguma de cobrar bilhetes. Outra das reactulização retira à noite de sábado alguma da animação que teve no ano passado. Na realidade a presença de banda da cidade, como Plaza e um conjunto de propostas sonoras "afterhours" interessantes transformou Serralves numa espécie de "disco out of control". Este ano simplifica-se, três DJ reinam até às 06h00, nada de bandas ao vivo pela noite dentro. Triunfam as parcerias com TNSJ, ACE, FITEI, ONP entre muitas outras. Música, Dança, Teatro, exposições, debates e muita animação a partir das 08h00 de amanhã até à meia.noite de domingo. Apesar de menos nutritiva, a Festa de Serralves não deixa de ser um "local" interessante para viajar este fim-de-semana.

"Fairy Land i", William Shakespeare

"Hill of Montmartre with Quarry", Van Gogh, 1886 Posted by Hello


Over hill, over dale,
Thorough bush, thorough brier,
Over park, over pale,
Thorough flood, thorough fire,
I do wander everywhere,
Swifter than the moone's sphere;
And I serve the fairy queen,
To dew her orbs upon the green:
The cowslips tall her pensioners be;
In their gold coats spots you see;
Those be rubies, fairy favours,
In those freckles live their savours:
I must go seek some dew-drops here,
And hang a pearl in every cowslip's ear.

Thursday, June 02, 2005

Fim-de-semana em grande no Porto

Depois da abertura do FITEI versão 2005, no TNSJ, que contou com as presenças de Mário Dorminsky/Beatriz Pacheco Pereira, Regina Guimarães/Seguenail, Isabel Alves Costa, José Cruz dos Santos, Jaime Azinheira, João Luís entre outros, o próximo fim-de-semana no Porto promete ser de grande actividade a nível cultural. Para além do FITEI, Serralves promete 40 horas de festa e o Festival da Fábrica, de Alberto Magno, apresenta alguns dos melhores movimentos de dança contemporânea da actualidade. Entretanto a Feira do Livro continua a promover o prazer da leitura no Pavilhão Rosa Mota. Junho não poderia ter começado da melhor maneira. Motivos não faltam para desligar a televisão e sair de casa para saborear algumas das propostas em cartaz para este fim-de-semana no Porto.

Tuesday, May 31, 2005

Artigo da semana: Blogs na reconstrução da história norte-americana

A importância dos blogs na reconstrução da história norte-americana. "Art, blogs bare souls of yet another fighting generation" é um artigo/editorial notável publicado no USA Today sobre a forma com os soldados estão a partilhar as suas experiências de guerra na blogosfera, a ultrapassar a censura dos media. Partindo do poema "Leaves of Grass", de Walt Whitman, uma visão de como a arte pode ser mais verdadeira "than the real thing".

Walt Whitman: Leaves Of Grass. A Carol Of Harvest For 1867

"War or Discord on Horseback", 1894, Douanier Rousseau Posted by Hello


A SONG of the good green grass!
A song no more of the city streets;
A song of farms--a song of the soil of fields.

A song with the smell of sun-dried hay, where the nimble pitchers
handle the pitch-fork;
A song tasting of new wheat, and of fresh-husk'd maize.

For the lands, and for these passionate days, and for myself,
Now I awhile return to thee, O soil of Autumn fields,
Reclining on thy breast, giving myself to thee,
Answering the pulses of thy sane and equable heart,
Tuning a verse for thee. 10

O Earth, that hast no voice, confide to me a voice!
O harvest of my lands! O boundless summer growths!
O lavish, brown, parturient earth! O infinite, teeming womb!
A verse to seek, to see, to narrate thee.

Ever upon this stage,
Is acted God's calm, annual drama,
Gorgeous processions, songs of birds,
Sunrise, that fullest feeds and freshens most the soul,
The heaving sea, the waves upon the shore, the musical, strong waves,
The woods, the stalwart trees, the slender, tapering trees, 20
The flowers, the grass, the lilliput, countless armies of the grass,
The heat, the showers, the measureless pasturages,
The scenery of the snows, the winds' free orchestra,
The stretching, light-hung roof of clouds--the clear cerulean, and
the bulging, silvery fringes,
The high dilating stars, the placid, beckoning stars,
The moving flocks and herds, the plains and emerald meadows,
The shows of all the varied lands, and all the growths and products.

Fecund America! To-day,
Thou art all over set in births and joys!
Thou groan'st with riches! thy wealth clothes thee as with a swathing
garment! 30
Thou laughest loud with ache of great possessions!
A myriad-twining life, like interlacing vines, binds all thy vast
demesne!
As some huge ship, freighted to water's edge, thou ridest into port!
As rain falls from the heaven, and vapors rise from earth, so have
the precious values fallen upon thee, and risen out of thee!
Thou envy of the globe! thou miracle!
Thou, bathed, choked, swimming in plenty!
Thou lucky Mistress of the tranquil barns!
Thou Prairie Dame that sittest in the middle, and lookest out upon
thy world, and lookest East, and lookest West!
Dispensatress, that by a word givest a thousand miles--that giv'st a
million farms, and missest nothing!
Thou All-Acceptress--thou Hospitable--(thou only art hospitable, as
God is hospitable.) 40

When late I sang, sad was my voice;
Sad were the shows around me, with deafening noises of hatred, and
smoke of conflict;
In the midst of the armies, the Heroes, I stood,
Or pass'd with slow step through the wounded and dying.

But now I sing not War,
Nor the measur'd march of soldiers, nor the tents of camps,
Nor the regiments hastily coming up, deploying in line of battle.

No more the dead and wounded;
No more the sad, unnatural shows of War.

Ask'd room those flush'd immortal ranks? the first forth-stepping
armies? 50
Ask room, alas, the ghastly ranks--the armies dread that follow'd.

(Pass--pass, ye proud brigades!
So handsome, dress'd in blue--with your tramping, sinewy legs;
With your shoulders young and strong--with your knapsacks and your
muskets;
--How elate I stood and watch'd you, where, starting off, you
march'd!

Pass;--then rattle, drums, again!
Scream, you steamers on the river, out of whistles loud and shrill,
your salutes!
For an army heaves in sight--O another gathering army!
Swarming, trailing on the rear--O you dread, accruing army!
O you regiments so piteous, with your mortal diarrhoea! with your
fever! 60
O my land's maimed darlings! with the plenteous bloody bandage and
the crutch!
Lo! your pallid army follow'd!)

But on these days of brightness,
On the far-stretching beauteous landscape, the roads and lanes, the
high-piled farm-wagons, and the fruits and barns,
Shall the dead intrude?

Ah, the dead to me mar not--they fit well in Nature;
They fit very well in the landscape, under the trees and grass,
And along the edge of the sky, in the horizon's far margin.

Nor do I forget you, departed;
Nor in winter or summer, my lost ones; 70
But most, in the open air, as now, when my soul is rapt and at
peace--like pleasing phantoms,
Your dear memories, rising, glide silently by me.

I saw the day, the return of the Heroes;
(Yet the Heroes never surpass'd, shall never return;
Them, that day, I saw not.)

I saw the interminable Corps--I saw the processions of armies,
I saw them approaching, defiling by, with divisions,
Streaming northward, their work done, camping awhile in clusters of
mighty camps.

No holiday soldiers!--youthful, yet veterans;
Worn, swart, handsome, strong, of the stock of homestead and
workshop,
Harden'd of many a long campaign and sweaty march, 80
Inured on many a hard-fought, bloody field.

A pause--the armies wait;
A million flush'd, embattled conquerors wait;
The world, too, waits--then, soft as breaking night, and sure as
dawn,
They melt--they disappear.

Exult, indeed, O lands! victorious lands!
Not there your victory, on those red, shuddering fields;
But here and hence your victory.

Melt, melt away, ye armies! disperse, ye blue-clad soldiers!
Resolve ye back again--give up, for good, your deadly arms; 90
Other the arms, the fields henceforth for you, or South or North, or
East or West,
With saner wars--sweet wars--life-giving wars.

Loud, O my throat, and clear, O soul!
The season of thanks, and the voice of full-yielding;
The chant of joy and power for boundless fertility.

All till'd and untill'd fields expand before me;
I see the true arenas of my race--or first, or last,
Man's innocent and strong arenas.

I see the Heroes at other toils;
I see, well-wielded in their hands, the better weapons. 100

I see where America, Mother of All,
Well-pleased, with full-spanning eye, gazes forth, dwells long,
And counts the varied gathering of the products.

Busy the far, the sunlit panorama;
Prairie, orchard, and yellow grain of the North,
Cotton and rice of the South, and Louisianian cane;
Open, unseeded fallows, rich fields of clover and timothy,
Kine and horses feeding, and droves of sheep and swine,
And many a stately river flowing, and many a jocund brook,
And healthy uplands with their herby-perfumed breezes, 110
And the good green grass--that delicate miracle, the ever-recurring
grass.

Toil on, Heroes! harvest the products!
Not alone on those warlike fields, the Mother of All,
With dilated form and lambent eyes, watch'd you.

Toil on, Heroes! toil well! Handle the weapons well!
The Mother of All--yet here, as ever, she watches you.

Well-pleased, America, thou beholdest,
Over the fields of the West, those crawling monsters,
The human-divine inventions, the labor-saving implements:
Beholdest, moving in every direction, imbued as with life, the
revolving hay-rakes, 120
The steam-power reaping-machines, and the horse-power machines,
The engines, thrashers of grain, and cleaners of grain, well
separating the straw--the nimble work of the patent pitch-fork;
Beholdest the newer saw-mill, the southern cotton-gin, and the rice-
cleanser.

Beneath thy look, O Maternal,
With these, and else, and with their own strong hands, the Heroes
harvest.

All gather, and all harvest;
(Yet but for thee, O Powerful! not a scythe might swing, as now, in
security;
Not a maize-stalk dangle, as now, its silken tassels in peace.)

Under Thee only they harvest--even but a wisp of hay, under thy great
face, only;
Harvest the wheat of Ohio, Illinois, Wisconsin--every barbed spear,
under thee; 130
Harvest the maize of Missouri, Kentucky, Tennessee--each ear in its
light-green sheath,
Gather the hay to its myriad mows, in the odorous, tranquil barns,
Oats to their bins--the white potato, the buckwheat of Michigan, to
theirs;
Gather the cotton in Mississippi or Alabama--dig and hoard the
golden, the sweet potato of Georgia and the Carolinas,
Clip the wool of California or Pennsylvania,
Cut the flax in the Middle States, or hemp, or tobacco in the
Borders,
Pick the pea and the bean, or pull apples from the trees, or bunches
of grapes from the vines,
Or aught that ripens in all These States, or North or South,
Under the beaming sun, and under Thee.

Monday, May 30, 2005

FITEI 2005

Arranca amanhã, dia 31, a 28ª edição do FITEI. O mais antigo festival de teatro realizado em Portugal acolhe na inauguração da versão 2005, "Berenice", de Racine, proposta do D. Maria II de Lisboa, traduzida por Vasco Graça Moura, com música de Mário Laginha e a actriz Beatriz Batarda em destaque. Seguem-se 16 espectáculos em 13 dias. Conversei hoje com Mário Moutinho e, sinceramente, considero a programação bastante mais equilibrada do que a 2004, onde as peças brasileiras dominaram todo o certame. Apesar de todos os problemas orçamentais, ligados, inevitavelmente, a mais do que reportada crise do IA, com empréstimos bancários pelo meio, fica a chamada de atenção para a abertura de um festival que merece atenção da crítica e essencialmente presença do público.

Thursday, May 26, 2005

"Pessoas Como Nós", Margarida Rebelo Pinto

Posted by Hello


"Os homens nem sempre avançam, nem sempre atacam. Alguns preferem esperar, deixar que o tempo lhes traga o que mais precisam, para nunca terem de tomar decisões. O Fred é assim, como um lobo, e os lobos preferem morrer de fome a cometer um erro. Ele nunca dará um passo em frente."

Wednesday, May 25, 2005

Como tornar-se num escritor de sucesso sem ter lido um livro em toda a sua vida - parte 1

Inspirado na abertura das feiras no livro de Lisboa e Porto.
Escolha com precisão cirúrgica um público alvo. Esqueça-se de si. Coloque-se sempre sempre leitor em primeiro lugar. Exemplo: se decidir tornar-se num escritor urbano-realista, com olhos colocados no público feminino, siga o magnífico e bem sucedido exemplo de Margarida Rebelo Pinto e coloque imediatamente de lado palavras com mais de quatro ou cinco sílabas. Simplifique. Se lhe faltar inspiração, corra para a cabeleireira mais perto de si e permaneça atento às conversas da clientela ou siga para uma loja de decoração de interiores e preste atenção aos dramas familiares da classe média com aspirações a alta. Não tenha medo nem pudor, leve um bloco de notas consigo. Não confie na sua memória. Defina os personagens de forma o mais estereotipada possível. Figuras planas, com o mínimo de densidade psicológica possível. Exemplo: Mulher atraente, loira de 38 anos, licenciada em recursos humanos, vive com engelheiro informático que trabalha para uma empresa de telecomunicações. Subitamente, encontra no ginásio um chefe do departamento de marketing de uma multinacional de produtos de beleza que teima em convidá-la para uma sessão fotográfica para o próximo catálogo Primavera/Verão, pois não acredita que nossa heroína não seja ou tenha sido uma modelo. Entre dentro da mente desta fantástica mal aproveitada mulher. Defenda com unhas e dentes o seu dilema, se necessário for coloque suspeitas sobre o marido que poderá muito bem ter uma ou duas amantes. Crie mistério. Nunca que esqueça de descrever com pormenor corpos, rostos e cheiros dos personagens.

Tuesday, May 24, 2005

Gorillaz: o regresso da macacada

Posted by Hello


Dias do demónio chegam numa renovação hip-pop que promete novos rumos para a MTV. Os N.E.R.D. que se cuidem, os macacos estão mesmo de volta e reclamam para si um território que lhe pertence por direito próprio. É a lei da selva audiovisual, as vitimas serão inevitavemente sacrificadas nos novos altares do cabo. A cores do imaginário colectivo do público 3G jogam a favor dos Gorillaz, as "playlists" vão na mesma onda e seguem dentro de momentos. O reino da virtualidade digital triunfa em toda a sua extensão e profunidade.

Thursday, May 19, 2005

A asfixia do futebol no circo mediático

foto: Amit Gupta/Reuters Posted by Hello


Sinceramente gosto de futebol, apesar de apreciar outros desportos que me parecem bem mais exigentes e competitivos a nível técnico e táctico. Lamento a derrota de ontem do Sporting, no entanto, mais lamentável ainda é o tempo de antena dado pela RTP1 ao fenómeno desportivo, em geral, e à final da taça UEFA, em particular. O delírio audiovisual do canal de serviço público transformado em desfile de banalidades ocupou praticamente dois dias de emissão. Desde entrevistas à vendedora de gelados à porta do estádio até opiniões técnicas do jardineiro do Alvalade sobre as condições do relvado, aos especialistas de bancada, os jornalistas fizeram das tripas coração para fazer passar um tempo manifestamente superior à importância e efemeridade do encontro "per si". A ideia difundida pelos média, de que não há vida para além da bola, encontra em mim um adversário. Lamento a febre não desportiva, pois como é sabido temos campeões olímpicos a varrerem escadas, mas futebolística. Parece que como povo temos sempre de gostar um pouco mais de futebol. As depressões colectivas são naturalmente uma consequência e um resultado mais do que natural. Fica a fotografia para elevar o espírito e procurar novas formas de vida, na minha opinião bem mais belas e inteligentes.