Reportagem: Salas de ensaio - parte II
“Este espaço é a nossa segunda casa”
Nesta nocturna viagem por espaços alternativos de ensaio na Invicta, fugimos mais para norte da cidade, entrando na freguesia de Ramalde, encontramos o “edifício Chrysler”, na rua Delfim Ferreira. Construído nos anos 60 por um dos grandes nomes da arquitectura portuguesa, Artur Andrade, responsável, entre outros, por projectos tão emblemáticos na cidade do Porto como o cinema Batalha, o prédio de escritórios acolhe temporária e alternadamente perto de uma dezena de bandas.Os primeiros sons a ecoarem no edifício foram destilados pelas Amarginhas, com a voz da Fatuxa a embalar a casa desenhada pelo avô, Artur Andrade. O projecto entretanto extinto, cedeu lugar, na aurora do novo milénio, aos Checkpoint Charlie. João Pedro (a.k.a. Jp Sarembe) acompanhou ambas as bandas e conhece como poucos os cantos à casa.
Na entrada do piso quatro, azulejos à antiga portuguesa avisam o visitante. “Nesta casa só têm lugar os que concorrem para o seu engrandecimento”. Duas portas para lá do som dos Columbia, que freneticamente debitam um metal de surpreendente qualidade e arrojo, os Checkpoint Charlie apresentam a sua “segunda casa”. “É mesmo isso. Se calhar ainda passamos aqui mais tempo do que na nossa habitação primeira”, afirmam apesar de actualmente partilharem o espaço com os recém nascidos Mescla. Os Checkpoint afirmam-se como um dos segredos mais bem guardados do Porto. Concertos inesquecíveis no Hard Club e Vilar de Mouros valeram uma base inteligente de admiradores. “Para além dos ensaios, utilizamos este espaço para, juntamente com um grupo de amigos, cruzarmos artes, ideias e culturas – confessa João Pedro – já organizamos aqui, por exemplo, sessões de pintura”.
Mais amplos do que os espaços de centro comercial, os escritórios do “Chrylser” contêm um cheiro a modernidade pop que convidam a um intimismo de “after-hours”. No entanto, quando mais de três bandas ensaiam no mesmo sector, os sons confundem-se e a acústica convida ao desafio do quem toca mais alto. Ao fundo, ainda se ouvem os acordes pesados dos Columbia. “Bem, se fossem aqui os nossos vizinhos do lado era pior” afirma Fernandinho, baterista. Nas paredes, fotografias de concertos, artigos de jornal, creditações. “Já tocamos juntos há mais de 20 anos. Vimos para aqui todos os dias. Este espaço reflete essa vivência em comum e é de facto muito mais do que uma sala de ensaios e uma segunda casa, tem um sentido de história e de pertença muito próprias”, afirmam.
Depois da gravação do EP e de um 2005 pleno de actividade, actualmente o projecto encontra-se numa espécie de descanso sabático para recuperar forças e ganhar balanço para um futuro certamente inovador. O espaço, esse afirma-se como uma república do som e das artes altamente recomendável e que importa conhecer. Silky, Stowaways e Zen já passaram por aqui.
Continua (...)
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