"O Quinto Império" de Manoel de Oliveira
Após a antestreia mundial no Festival de Veneza, em Setembro último, com Manoel de Oliveira a receber o Leão Douro, por uma vida dedicada ao cinema, Portugal conheceu ontem a entrada em cena d´"O Quinto Império - Ontem como Hoje". Já tive a oportunidade de ver o filme e, tal como tinha prometido aqui no VA, após uma breve conversa com Oliveira e respectivo "post", o filme merece uma reflexão pela temática que sugere e pela atitude simbólica que encerra. Mantendo a ligação história-literatura-memória, basilar na cinematografia de Oliveira, o realizador apropria-se da peça teatral "El Rei D. Sabastião", de José Régio, propondo uma releitura e confronto com a geopolítica do mundo actual, tendo a União Europeia, o terrorismo de islâmico e a guerra norte-americana como principais fantasmas. Em comum, ontem como hoje, emerge o sonho imperialista das grandes potências, os conflitos religiosos, a
supremacia político-ecnomónica do hemisfério Norte, a democracia dos países ditos desenvolvidos imposta e defendida pelo poder bélico. Em Veneza, houve mesmo, entre a assistência, quem visse o filme de Oliveira como uma crítica anti-Bush.
Mais urgente pela actualidade das questes que levanta do que surpreendente pela estética ou narrativa que apresenta, "O Quinto Império" não é o melhor de Oliveira, no entanto, é um filme de sugestão, de pensamento, de solidez inabalável. É na penumbra do sonho sem concretização possível, é no território da utopia, entre o Mosteiro da Batalha e o Convento de Cristo, que Oliveira filma um D. Sebastião (interpretado pelo neto Ricardo Trêpa) em constante equilíbrio entre o rei louco,obcecado com a expansão do império, desejoso por cumprir Portugal, e o santo/martir predestinado por Deus a espalhar a cristandade. Da visita ao túmulo de D. João II à dramaticidade profética do Sapateiro Santo (Luís Miguel Cintra) passando pela obsessão simbólica da espada de D. Afonso Henriques lançada ao ar, num voo premonitório de uma queda inevitável, num dos melhores planos de todo o filme, "O
Quinto Império" surge na filmografia de Oliveira como um "manifesto" inteligente e conservador sobre incapacidade da alma humana em se transcender na diferença cultural, política e religiosa do outro.
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