Siza regressa a Serralves
Siza entra na galeria central de Serralves. Vira costas à janela gigante, contempla o interior do projecto que o ocupou durante praticamente toda a década de 90 e diz aos jornalistas: "Muitas pessoas olham para aqui e vêem quatro paredes pintadas de branco e pensam que é simples, só quatro paredes pintadas de branco. Não imaginam o esforço, as horas de trabalho que foram necessárias para atingir esta simplicidade, para ocultar todos os aparelhos de ar condicionado e tubagens". Eleva o olhar. Apercebe-se da presença de uma câmara de vigilância no canto da galeria. "Bem agora tem aquilo", aponta. "Enfim, tem mesmo de ser. São as seguradoras", justifica, semi-resignado.
No final da apresentação da exposição "Siza: Museus e Espaços", que hoje inaugura em Serralves, falei com o arquitecto. Entre outras coisas, disse-lhe que senti um carácter algo incestuoso em expor 18 projectos da sua autoria sobre museus precisamente em Serralves. Sorriu. Disse-me que não considera os seus trabalhos como filhos. "Quando são entregues ao dono, deixam de me pertencer".
Durante o próximo trimestre, o gabinete de arquitectura de Álvaro Siza muda-se para Serralves. Existe algo de pedagógico e altamente comercial na programação. Os alunos transformam-se em visitantes e o museu em universidade, numa homenagem inédita da criatura ao seu criador. Figura pop, Siza, humilde, genial, aproxima-se das massas. Serralves acolhe o seu guru e aposta no marketing, vende copos e cadernos. A arte alimenta-se de si própria, num sacrifício entre o redentor e o obsceno.
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