Thursday, November 30, 2006

Na minha rádio quem manda sou eu

Minutos antes de explodir, a cultura digital contempla-se a si própria na web, deixando antever a insustentável leveza do bit num futuro cada vez mais incerto. Neste universo de impermanência visual e vertigem sonora, as novas rádios digitais afirmam-se como um dos fenómenos mais interessantes do momento, uma das experiências “internetianas” mais estimulantes e aconselháveis para quem necessita de se alimentar diariamente de música sempre fresca e natural. As consequências económico-culturais e os efeitos secundários começam agora a surpreender. Actualmente, o fenómeno já mistura músicos com ouvintes, num universo onde cada um pode ser DJ da sua própria rádio. Centenas de profissionais do som estão a encostar as guitarras à parede e a trabalhar em casa para “web radios” como Pandora, Last.fm, Lauchcast, Finetune ou Rhapsody. A função é simples, durante 25 horas por semana, os novos críticos rendem-se à ditadura dos “headfones” e catalogam músicas, classificando a tonalidade das vocalizações de Tori Amos e Kate Bush, a distorção das guitarras Joey Santiago e Johnny Greenwood, o rítmo da bateria de David Grohl e Jimmy Chamberlim. Os analistas da Pandora já conseguiram catalogar mais de 500 mil temas, do metal ao country, do pop ao rap, construíndo um gigantesco edificio digital conhecido como Music Genome Project.
Depois de catalogados, os temas são lançados na net, hiperligados por semelhanças. Assim, o ouvinte ao pontuar um tema está apurar a sua “playlist”, a personalizá-la, abrindo milhares de outras faixas previamente catalogadas com o mesmo DNA. Na Pandora, se pontar positivamente o tema ”Death Letter”, dos White Stripes, surge em seguida “Don´t Wake Daddy”, dos Tragically Hip, e “Evil Eye”, dos Dead Moon. À medida que aprova ou desaprova temas, vai construindo a sua própria playlist e conhecendo propostas novas dentro da seu espectro musical da sua eleição eleição.
Para além da subversão mais óbvia: a música passa a escutar o ouvinte - este é aliás uns dos slogans da Lauchcast da Yahoo, “Music that listens to you”, as “playlists” personalizadas transformam as “web radios” em catálogos gigantes de venda on-line. Sempre atentas à emergência na web fenómenos rentáveis, as “majors” do comércio digital, como Amazon e i-tunes são já anunciantes de peso na Pandora. Se gosta de determinada música basta um click para comprar o tema ou o álbum.
Outro dos efeitos secundários do fenómeno das “web radios”, é a transferência do poder dos animadores das rádios FM e de televisão para os novos “catalogadores” se, rosto das web rádios, que dão ao consumidor as ferramentas para ouvir música à sua medida. Um movimento cultural de descentralização e personalização que está na raíz da popularidade da própria net. Desde cedo, a web acolheu uma nova geração de “opinion makers” musicais e que, sem suporte das grandes empresas, começaram a fazer-se notar, o Pichfork é apenas um de centenas de exemplos possíveis, dos “gatekeepers” do século digital. De repente gente anónima, opina com qualidade e independência sobre novos álbuns, temas e estilos, influenciando as compras de milhares de consumidores. Os espaços “mainstream” como a todo-poderosa MTV ou radios FM começam a perder credibilidade e terreno. O consumidor tende para a novidade feita à sua medida. Essa é a grande vantagem das “web radios”. As refeições são servidas ao gosto de cada consumidor. Sem perda de tempo e em velocidade de cruzeiro, a internet continua a ser um não-espaço de quase tudo e a ter ainda muitas caixas de Pandora por abrir. Importa encontrar as chaves certas, na hora e no local certo.

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