"Old Boy"
A 25ª edição do Fantasporto encerrou ontem à noite, no Grande Auditório do Rivoli, no Porto, com uma intensa chuva de estrelas que juntou algumas figuras relevantes da história do cinema fantástico, como John Hurt e Doug Bradley, as quais tive o privilégio de conversar, Karen Black, Guilhermo del Toro, passando pelo grande vencedor da noite o jovem Vincenzo Natali foram outras das presenças a ter em atenção. Sem grandes surpresas, mas com muita justiça e algum bom gosto, "Nothing", de Natali, que depois de "O Cubo" e "Cypher" soma o terceiro galardão no Fantas, e "Old Boy", do sul-coreano Chan-Wook Park, venceram os prémios para melhor filme nas categorias de Fantástico e Semana dos Realizadores, respectivamente. Mais do que assistir a cerimónia, que este ano foi registada pela RTP, tive o privilégio, a convite da organização do Fantas, de entregar o Prémio da Crítica ao alemão Ayassi por "Vinzent".
Depois de uma intensa semana de trabalho, fico com memórias interessante. Desde logo as entrevistas a Doug "pinhead" Bradley, John Hurt e Tino Narravo, e uma série de filmes recomendáveis, entre os quais destaco, na área mais comercial, "Saw" e "Constantine". O primeiro para os fãs do "Seven", sem o talento de Fincher, mas com um argumento inteligente, e o segundo, pela abordagem, sobretudo, estética, ligado às atmosféras da banda desenhada para adultos da DC Comics, da qual nutro as propostas "Sandman", de Neil Gaiman e Dave Dave Mckean, que considero francamente mais consistentes. Numa vertente mais de autor, a grande recomendação vai para "Old Boy", o justo vencedor do Fantas. Filme imperdível pela inteligência e originalidade do argumento, pelas referências subtis e equilibradas à cultura do vídeo-game, com mensagens "animé" quase subliminares pelo meio, por um trabalho de fotografia e gestão narrativa absolutamente invulgar.
Notas negativas, para a grande maioria do cinema espanhol, que este ano, com a ligeira excepção de "Hypnos", perdeu muita da qualidade apresentada em anos anteriores e para a falta de acompanhamento e inteligência dos meios de comunicação social. Com personalidades tão interessante da sétima arte em Portugal, o futebol do pontapé na canela e a política de fim-de-semana continuam, infelizmente, a ter mais relevância mediática, sobretudo, na televisão. Apesar da RTP ter registado, pela primeira vez a gala de encerramento, vendo-se assim forçada a cumprir a promessa de duplicação de verbas do Morais Sarmento, a ressaca nos noticiários do dia seguinte ficou num nível inferior aos concertos do Toni Carrera nos coliseus. As vezes, viver em Portugal é estar condenado a um terceiro-mundismo entre o deprimente e o boçal. Até quanto?