O requiem das companhias teatrais do Porto
É uma morte lenta e há muito anunciada. Há vários meses, através de repetidos "posts" tenho vindo a alertar para o desespero em que se encontram grande parte das estruturais teatrais da cidade do Porto e lançado algumas reflexões sobre a eterna problemática da subsídio-dependência. Agora parece que de repente estalou o verniz e a pedra finalmente atingiu o charco. Com a associação cultural Panmixia a congelar a já cinco meses atrasada atribuição dos subsídios do IA através de uma autista providência cautelar, que a única coisa que serve é para adiar ainda mais a concretização dos referidos apoios, várias companhias da cidade estão em já a vender roupas e cenário para sobreviver, enquanto outras, para além de se limitarem a encenar monólogos, olham para uma suspensão de actividades como algo praticamente inevitável. Ontem a Plateia veio de Lisboa com uma boa notícia. O Ministério da Cultura comprometeu-se a pagar os apoios ou parte deles imediatamente depois da decisão do Tribunal Administrativo sobre a dita providência cautelar, que enquanto não for indeferia mantém em suspenso o concurso do IA e os cofres das companhias vazios. Falei com vários responsáveis pelo teatro no Porto e o desespero é quase total. Acaba por ser patético o MC afirmar que os fundos estão prontos com cinco meses de atraso e não deixa de ser ainda mais lamentável que uma companhia que ficou de fora dos concursos acabe por prejudicar as restantes 20. Na realidade, como já tinha comentado, num país onde o Orçamento de Estado para a cultura se reduz a apenas 0,6 por cento, tentar subsídiar a criação artística é como tentar cobrir um elefante com um lenço de papel. É verdade que no Porto, provavelmente existe uma inflação de companhias teatrais, mas, no entanto, o norte do país tem de receber, tendo em conta o sua densidade populacional, um valor que se aproxime da média nacional. Este ano ficou muito abaixo do que seria moral e estatisticamente recomendável. Sei, no entanto, que o alguns responsáveis do MC estão a pensar em alterar as regras dos concursos. Na realidade, o problema está na dimensão do bolo. Mudam-se as regras, de pouco vai adiantar, todos os anos alguném tem de ficar de fora e as migalhas a distribuir continuam a ser o que são migalhas. Sem querer ser populista, acredito que necessitamos de mais cultura e menos submarinos, mais choques artísticos do que tecnológicos.
3 comments:
anastácio, sem querer interferir com o teu trabalho , talvez não fosse má ideia perceberes com exactidão por que é que a providência cautelar foi interposta. eu também falei com várias pesssoas do teatro e apesar dos graves problemas que atravessam, que aliás não são de agora, apenas UMA me transmitiu a ideia que agora aqui defendes.
Desculpa carla mais eu não defendo ideias por estatística, mas por convicção...
é precisamente na formação das convições que a malta tem que ter algum cuidado. ;-)
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