O fenómeno José Gil
D´ "As Causas da Decadência dos Povos Penínsulares", de Antero de Quental, a "Portugal, Hoje: o Medo de Existir", de José Gil, passando por "Portugal Como Destino seguido de Mitologia da Saudade", Eduardo Lourenço, o universo ensaístico nacional tem produzido múltipas reflexões sobre o Pensar e a Mentalidade portuguesa em áreas tão diversas como a religiosa, cultural e socio-política. Actualmente, com José Gil transformado em fenómeno mediático, com o seu mais recente ensaío, que vai já na 7ª edição em apenas seis meses, e a conhecer leitores em vários e insuspeitos estratos sócio-culturais, importa situar o fenómeno e contextualizar uma "hype" que, se por um lado, tem aspectos sinceramente positivos, sobretudo no que diz respeito à aproximação do pensamento filosófico e do ensaío crítico ao leitor de domingo à tarde, resulta, por outro lado, de factores menos felizes e que se podem caracterizar pela tendência para a autoflagelação, em tempos de crise económica e identitária. Alegro-me pela popularidade do autor e da obra em particular, mas coloco reticências em relação à quantidade de novos admiradores que terão a "bagagem" para consumir outras propostas ensaísticas de José Gil, bem mais complexas como "As Metamofoses do Corpo". Portugal ainda sobre de uma crise educacional crónica. Temo ainda que a esfera mediática que há muito consumiu a pública, aniquilando qualquer espaço sério de debate e reflexão crítica, remetendo a opinião para os sacerdotes do costume, Eduardo Prado Coelho, Marcelo Rebelo de Sousa e Miguel Sousa Tavares, entre outros, acabe, como mecanismo de autodefesa, por transformar Gil numa espécie figura contemplativa e iconográfica. A palavra vive do encontro surpreendente e arrebatador; da acção consequente e inovadora. Enquanto os filósofos pensam a realidade não pode continuar a passear-se distante do Homem.
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