Para os mais pessimistas um sucesso, enquanto para a maioria dos activistas uma desilusão. Provavelmente, ambos têm razão. O G8 conseguiu, por um lado, duplicar a ajuda para combater a fome e a SIDA em África, mas por outro, relativamente ao comércio justo e às alterações climáticas tudo permanece na mesma. Um olhar esquemático sobre as expectativas e a realidade saída dos G8.
1. Fome/SIDA - Inicialmente esperava-se 10b de dólares a partir de 2006, com 25b extra para África. No acordo final, Blair conseguiu 50b, mas só entram em acção - para grande descontentamento das ONG´s e activitas - a partir de 2010, ou seja quatro anos mais tarde do inicialmente previsto. Segundo a organização "Make Poverty History", em 201o, morrerá uma criança a cada 3,5 segundos. Um atraso que afecta ainda 40 milhões de pessoas infectadas com HIV. No entanto, mesmo os mais cinicos reconhecem a coragem e justiça da medida. Gedolf e Bono consideram-na como "um primeiro e importante passo rumo à justiça". O efeito "Live8" fez-se sentir. Fala-se de Geldof para Nobel da Paz. Entretanto, nota mais do que importante para os 3b oferecidos à autoridade palestiniana, um passo importante para assegurar a paz naquela região.
2. Dívida - Ministros das finanças dos G8 sublinharam, desde logo, que o custo do cancelamento da dívida dos 18 países africanos ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional custaria perto de 40b. No texto final, o perdão da dívida aos 18 é reactualizado com juros, atingindo 45.7b. Outro dos grandes avanços desta cimeira.
3. Comércio - Activistas denunciavam que os mais ricos gastavam 300b por ano em subsídios à agricultura para exportação, travando a entrada no mercado de produtos africanos. Queriam, desde logo, que estes apoios acabassem o mais cedo possível. O chanceler Gordon Brown avançou com data de 2010, tendo sido rapidamente descrita pelo comissário europeu para o comércio, Peter Mandelson, como "irrealista". A França aproveitou a boleia, querendo adiar a questão até 2016. Não houve qualquer acordo nesta matéria nem qualquer data avançada para terminar com os subsídios, formalizando assim um dos maiores fracassos de toda a cimeira. O G8 apoia cada país a fazer o que muito bem entender nesta matéria. O texto final apresenta, no entanto, uma nota de intenções, que aponta para "o compromisso de eliminar todas as forma de subsídio à exportação... até uma data crível".
4. Aterações climáticas - As expectativas dos ecologistas eram naturalmente elevadas, mais do que o reconhecimento do problema do aquecimento global do planeta devido à actividade humana, esperavam do G8 medidas firmes e urgentes, sobretudo na adopção de tecnologia amiga do ambiente. Se os EUA se aproximassem do tratato de Quioto seria um avanço significativo, pois, para além de serem o maior poluidor, são o único do grupo que ainda não assinou o tratado. O texto final admite a existência do problema e da necessidade de actuar nada mais. O plano saído de Gleneagles dá luz verde para uma série de conversações sobre energias amigas do ambiente com países industrializados como a China e Índia já a partir do próximo mês do Novembro. EUA não se comprometeram a reduzir emissões de CO2 ou a assinar Quito. Para os ecologistas, este G8 foi uma oportunidade perdida para realizar progressos na área ambiental.
Notas finais: Apesar de globalmente notável, a cimeira do G8 me Gleneagles, na Escócia, sobretudo no que diz respeito à ajuda a África, mais do que nas questões do comércio e ambiente, necessário será desenvolver mecanismos de controlo na atribuição dos apoios e um olhar mais atento sobre governos africanos. O problema da corrupção em África é uma das causas centrais da pobreza de um continemente geneticamente rico. Se não se efectivar um controlo maior sobre os resultados e aplicação deste apoio no terreno, os subsídios serão mais lenha para a fogueira.