Crítica: The Gift no Rivoli
Acabei de regressar do Rivoli, no Porto, onde assisti à apresentação “live” do registo “AM/FM” dos The Gift. Globalmente, faltaram metais, sobraram “samples” numa aposta visual fortíssima, cativante e coerente com o conceito global do álbum, deixando antever um interessante 2005. O espectáculo mais maduro em termos de trabalho de luz e imagens digitais do que a proposta anterior, coloca de lado alguma inocência definitivamente perdida na digressão “Film”, elevando ainda mais a importante componente estética do colectivo de Alcobaça. No entanto, como seria de prever e tendo em conta de que se trata de um concerto de apresentação de um álbum recém editado, alguns dos temas sucumbiram na adaptação ao vivo, sobretudo, pela ausência de orquestração de cordas e metais, em propostas como “Wallpaper” e a “american radio-friendly” “11:33”, outras, como “Wake Up” revelaram entradas fora de tempo e falhas de afinação. Em ambos os casos, na estrada, o colectivo irá certamente rever o alinhamento e eliminar alguns excessos e carências geradoras de alguns momentos demasiado ásperos nos “samples” e carente do tal suporte orgânico de cordas e metais que, francamente considero urgente e catalizador da energia e da força contagiante da banda.
Dos momentos mais felizes, destaque para “Bonita”, melodia encantatória que ao vivo ganha em amplitude e num sentido vocal de Sónia Tavares recheado de uma ausência grave e cativante. “Are You Near”, o single mais do que perfeito, lembra Brian Eno, contém referências electrónicas provocantes, letra inteligente, necessitando apenas de uma guitarra mais desinibida, que transporte o tema para outra dimensão, à qual parece aspirar sem no entanto a conseguir atingir. “Cube”, “Driving You Slow”, “An Answer” “Music” e “Pure” são apostas ganhas que certamente irão incorporar o alinhamento do colectivo para 2005 e anos seguintes.
Em encore, o público teve a oportunidade de rever outros filmes: “Front Of”, “Question of Love”, com o auditório a ameaçar arrancar as cadeiras e começar a dançar, e finalmente, “So Free”. Pelo meio regresso a FM com “Red Light” em versão XL, impecável num encerramento quase perfeito. O espectáculo revelou alguns pontos fracos e uma nova e ousada aposta visual que certamente agradará aos fãs da banda e à nova geração MTV. Uma renovação estética que, tal como o álbum, sem criar rupturas desnecessárias nesta fase, consegue recriar um ambiente digital coerente com o conceito geral do colectivo. Depois da feira Texana em Austin, espera-se um verão 2005 com alinhamento mais maduro e uma prestação mais descontraída, alegre e sem tantas arestas por limar. O disco de prata é obrigatório e certamente atingirá pelo menos as 20 mil cópias.
No comments:
Post a Comment