Entrevista a Emmanuel Nunes: "Pior do que Santana será difícil"
Uma das mais importantes vozes mundiais na área da mœsica concretiza
uma radiografia do que é necessário mudar na política portuguesa e na gestão da Casa da Mœsica. Residente em Paris há praticamente quatro décadas, onde lecciona do prestigiado Conservatório de Nacional de Música, Prémio UNESCO, em 1999, Prémio Pessoa, no ano seguinte, um dos mais influentes compositores mundais, Emmanuel Nunes passou este domingo pelo Rivoli do Porto para assistir a antestreia da sua peça "Épures", interpretada pelo Remix Ensemble da Casa da Música. Aproveitei a oportunidade para entrevistar o autor de "Le Serpent Vert" e escutar as propostas, reflexões, pensamentos e críticas. O resultado final é demolidor para a classe política portuguesa e para a actual adminstração da Casa da Música.
- Tem um sabor especial ouvir a estreia mundial de uma composição sua em Portugal?
- Esta não é a primeira vez, já houve outras antestreias em Portugal, na Gulbenkian, mas não esta peça. É, sem dúvida um momento especial para mim.
- Continua desapontado com o facto de em Portugal não existir uma orquestra formada de raiz para a música contemporânea?
- Penso que não é necessário haver uma orquestra só consagrada à música contemporãnea. O que é necessário é que a mesma orquestra toque regularmente clássica e contemporãnea. A Orquestra Gulbenkian, que eu saiba, é a única que tem feito bastante no reportório contemporãnea. Mas, é de facto, importante ter uma orquestra sinfónica que esteja em permanente contacto o clássico e o contemporãneo.
- O projecto Casa da Música acredita que poderá ser importante na revonação e construção de novos pœblicos para a música clássica e contemporânea?
- Penso que sim. A minha questão é que haja um governo capaz de decidir. Não é o caso. É tudo um problema de política.
- Nessa matéria, permita-me reportar a outro Prémio Pessoa, Mário Cláudio, que recentemente, recordado o autor da "Mensagem", classificou de "provinciana" a mentalidade da classe política portuguesa, acusando-a de ter "pouco mundo". Partilha dessa adjectivação?
- Não iria tão longe. A palavra "provinciana" é demasiado geral. Agora, há necessidade de uma autêntica cultura política, com mais independência de subordinação económica e que saiba qual é a verdadeira importância da cultura para o país. Isso, sim acho que é muitíssimo importante. Tendo como primeiro-ministro que tivemos é obvio que não pode ser. Não sei se quem virá a seguir será melhor, mas pior é difícil.
- Como é que a comunidade internacional de compositores tem visto o projecto da Casa da Música? Sente que existe alguma curiosidade ou tem passado completamente ao lado?
- Tem existido interesse. Não se esqueça que o Remix é um grupo que hoje em dia já tem um início de uma carreira internacional. Agora, é como digo,o problema é quem é vai gerir a Casa da Música.
- Pensa que o modelo de fundação é o ideial?
Francamente não sei, não estou suficientemente informado nessa matéria. Mas como disse antes, reafirmo agora, o que eu acho é que a Casa da Música necessita de um conselho de administração bem
apetrechado musical e culturalmente. É o problema do Pedro Burmester
não estar no conselho de adminstração da Casa da Música.
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