Grande Entrevista: Marco Paulo "uncensored" (1ª parte)
Ontem arranquei em direcção ao Monte da Virgem, em Gaia, não para apreciar uma Nossa Senhora aparecida a brilhar numa qualquer telegénica copa de árvore acidentalmente iluminada por uma descontrolada câmara da RTP, mas para entrevistar o Rei que segura o ceptro da música romântica em Portugal há mais de 35 anos, o cantor que em menos de uma semana já somou mais um disco de ouro à sua impressionante colecção com “Amor Sem Limite” e que no dia 23 cantou em Fátima, emocionando perto de 60 mil pessoas. Não se iludam os melómanos mais cínicos, estamos perante um fenómeno da interpretação em língua portuguesa. Se Marco Paulo tivesse nascido em Espanha seria um Júlio Iglesias, atravessaria o Atlântico aos fins-de-semana num Jet-Set comprado a pronto, daria entrevistas de hora e meia na MTV, em Nova Iorque, da parte da tarde, concertos “afterhours” num qualquer casino em Las Vegas, empurrando Celine Dion para o Canadá, país do qual nunca deveria ter saído.
“Mulher dos 40”, tema de Roberto Carlos, desenhava, finalmente, um ponto final às três horas de emissão da Praça da Alegria. A voz poderossíssima de Marco Paulo ameaçava destruir de uma vez por todas, numa manifestação cabal da existência do divino, o tão frágil quando minúsculo cenário da “sit-com” matinal da RTP. Esperei os autográfos, as manifestações de admiração e reprimida devoção dos espectadores, enquanto apresentadores e figurantes de serviço, transformados temporariamente pela maravilha da maquilhagem em bonecos de cera, se despediam uns dos outros num ritual demorado e cansativo a roçar aquilo que parecia ser um competitivo e interminável concurso Pepsodent pelo sorriso mais branco.
Depois de uma boa dezena e meia de fotografias junto à árvore de Natal e de uma breve mas produtiva e não menos profissional conversa com o fotógrafo que me acompanhava, Marco Paulo sugeriu que a entrevista se realizasse no seu camarim. Tendo em conta, o reboliço e artificialidade agónicas de um “set” da Praça da Alegria cada vez mais parecido com o museu Madame Tussaud´s, respondi afirmativamente. Queria mesmo era sair dali para fora o mais depressa possível, nem que fosse preciso utilizar o "exit" de emergência. Seguiu-se uma viagem tão alucinante quando enjoativa por uma série tétrica e labiríntica de corredores decorados com poeira artisticamente colocada pelo tempo sobre uma tinta que fora branca em tempos de memória celuloíde. Recordei-me de uma unidade hospitalar anónima e abandonada algures numa capital de distrito ainda por descobrir a norte do Douro.
Timidamente, entrei no camarim como quem penetra um templo budista. A sala era uma espécie de tributo aos quartos por mobilar de uma pensão de meia estrela na Rua da Alegria. “Ainda bem que tirámos as fotografias lá em cima”, disparei para quebrar o gelo e exorcizar o desconforto que o espaço quase fantasmagórico e frio me causou. “Sim, mas se quiser tirar mais fotos”, respondeu o cantor ao fotógrafo, num efeito colateral impossível de anual, irremediável e imprevisível. Com a responsável da editora a recordar a agenda do dia (almoço, entrevistas, rádio, etc). Aguardei pelo meu tempo de antena, enquanto olhava de soislaio para os decrépitos posters que ameçavam finalmente, após décadas de opressão, sair das paredes às dezenas. Lembrei-me do filme "Aliens".
O mote da conversa deveria ser a edição e o sucesso instantâneo do supracitado “Amor Sem Limite”, uma nutritiva dúzia de temas extraídos da obra de Roberto Carlos. Não ouvi o disco, confesso. Mas tenho uma boa desculpa. O jornalista que estava agendado para fazer a entrevista e que ficou com o CD teve uma súbita crise nos rins e antes que eu lhe seguisse o exemplo, acabei pelo azar de uma moeda ao ar por ficar com o “serviço”. Mas, se soubesse o que sei hoje teria regateado até ao meu último cêntimo, hipotecado tudo o que tenho e contraído algumas dívidas se necessário fosse para poder realizar a entrevista que segue dentro de momentos…
(to be continued)
1 comment:
fico a aguardar o resto ansiosamente!!!
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