Luciano Barbosa com Ana Sousa Dias
Acabei, há minutos, de desligar a televisão, onde pude assistir a mais uma excelente entrevista de Ana Sousa Dias no programa "Por Outro Lado". O convidado, Luciano Barbosa teve a inteligência suficiente para colocar o dedo na grande maioria das feridas que neste momento afectam o sector da música em Portugal. Da estúpida taxa do IVA nos CD e instrumentos musicais, transformando bens culturais e intrumentos de trabalho em artigos de luxo, ao "lobbie", cada vez mais escandaloso, das editoras sobre as rádios, que depois de aniquilarem por completo os programas de autor, fabricam "playlists" em troca de motas de águas, percentagens das vendas de CD e outras ilegalidades que, neste momento, atingem os limites escandalosos do terceiromundismo, entre uma série essencial de outros temas greves e prementes que merecem ser discutidos na praça mediática, não fosse esta uma das principais cúmplices do "status quo" vergonhoso e decadente dos grandes interesses económicos que asfixiam, não só o poder político, transformando a democracia republicana num exercício de plutocracia clássica legítimada pelo povo, como também acaba por aniquilar a própria arte e cultura. Neste contexto, a diferença entre Santana e Sócrates é puramente estética.
De regresso à cultura, apesar de já ter manifestado aqui no blog a minha preocupação quanto a abordagem sonora dos Repórter Estrábico, depois de, não só ter escutado atentamente "Eurovisão", como de ter assistido ao concerto no Rivoli, a 20 de Novembro, considerando, entre outras coisas, que o meio que utilizam nem sempre me parece o mais adequado para fazer passar uma mensagem tão inteligente quanto burlesca e urgente, a supracitada entrevista fez-me desde logo relembrar conversas soltas como Luciano Barbosa nesse labirinto de salas de ensaio em que se converteu o Stop e em projectos e utopias de transformar o decadente centro comercial num verdadeiro centro musical. Entre Stop, que acolhe mais de três dezenas de bandas, o Sirius, com Kitten em versão X-Wife, passando outras salas de ensaios, como Baixa a Tola, em Matosinhos, ou "Poltergeist", no cruzamente da Boavista com Cedofeita, locais que tive a oportunidade de visitar e reportar, em labor "afterhours", falta, ao fim e ao cabo, investimento privado, vontade pública e sobram obstáculos políticos e económicos para quem quer fazer música em Portugal. A começar nas garagens e a terminar nas rádios, o cenário é equivalente ou pior a alguns países sul-americanos por onde andei.
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