Thursday, December 16, 2004

Manoel de Oliveira: "onde está a inteligência dos homens?"

Noite de antestreias no 10 aniversário das salas do Cinema Cidade do Porto. Prato princípal "O Quinto Império - Ontem como Hoje", de Manoel de Oliveira. Guardo para 27 de Janeiro, data da estreia em Portugal, a respectiva análise crítica do filme. Para já ficam algumas pontos de reflexão e de intensão deixados ontem à noite em jeito de "flash-interview" pelo realizador. Não é de todo inocente a escolha pela peça de Régio sobre o mais poderoso mito da nossa cultura e nacionalidade. A actualidade da película é construída, segundo Oliveira, sobre dois pilares base: uma analogia política e uma inversão do confronto religioso. O primeiro considera a ideia de União Europeia próxima da noção de Quinto Imperio, tendo como pano de fundo o sonho, a loucura e a ambição centralizadora de El-Rei D. Sebastião, (nas palavras do padre António Vieira "um só rei, um só papa") e a sede constitucional e federalista da UE. Para Oliveira "a democracia tem vindo a aproximar-se da ideia do Quinto Império" ou seja um poder centralizador e globalizante que tende a "fazer uno e que é desuno". Do ponto de vista religioso, para o realizador as cruzadas do Desejado reaparecem invertidas: "agora são os muçulmanos contra os católicos". Finalmente, numa incursão teórica algo surpreendente, muito próxima da teologia da libertação e da ecologia humana de Gutierres a Boff, Oliveira relaciona ainda a problemática da globalização com a dignidade do homem e com respeito pelo meio ambiente, desabafando perante o suicídio da destruição do nosso habitat: "onde está a inteligência do homem".
Apesar concordar no essencial com Oliveira, importa, no entanto, separar as águas em termos do carácter imperialista da UE e do novo rosto do Império denominado de globalização. Enquanto o primeiro possui um suporte político que se encontra em crise por falta de espaço não ideológico mas sim empírico, em parte resultado de uma estrutura centralizadora cada vez mais barroca e incapaz de fazer frente ao poder económico; o segundo cresce precisamente pela subjugação da poder político e pela metamorfose perversa para uma estrutura já não unificada e piramidal mas antes descentralizadora com tentáculos semi-independentes capazes de se autoreproduzirem numa expansão que não reconhece fronteiras geográficas, nem necessita de referendos populares.

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