Concerto: Tim Booth no Hard Club
Os centenas adeptos mais "hard core" dos James, dos quais não faço parte, fizeram questão de comparecer, na sexta à noite, num Hard Club que ameaçou esgotar para ouvir Tim Booth. Embora o primeiro registo a solo, "Bone", fosse o prato princípal, o auditório queria essencialmente escutar um "best of" da banda de Manchester e recordar os bons velhos tempos, tendo sempre presente na memória o concerto em 2001 no Coliseu do Porto. O sonho acabou por se tornar parcialmente real, quando Tim Booth ofereceu três temas dos James ("Laid", "Sometimes" e "Ring the Bells"). Como seria previsível, o que acabou mesmo por triunfar não foram as novidades editadas em Junho, mas fantasma dos James que se elevou num revivalismo pop anacrónico a roçar o karaoke.Demasiado híbridas e hesitantes, as sonoridades do disco de estreia de Booth transportadas para o palco ensaiam, sem sucesso, um ténue e difícil equilíbrio de conquista entre a pesada e relevante herança os James, bem patente nos singles "Down To The Sea" e "Wave Hello", ambas rapidamente consumidas pelo público e pelas rádios FM, e a abertura a melodias "groove", como "Bone" ou "Eh Mamma". O resultado final revelou-se demasiado modesto e previsível, tendo em conta, não só o imponente legado "mainstream", sobretudo na segunda fase da vida dos James, pós-Laid, e a pouca consistência e originalidade das composições de Booth e da banda que o acompanha. Entre a ressaca mais pop dos New Order e dos desvios pelas estruturas rítmicas de Brian Eno a caminho da Irlanda, "Bone", sobretudo ao vivo, carece de substância e de novidade, ficando-se pelo simplesmente agradável e inconsequente.Com um público suplicante pela ressurreição mais do que forçada impossível dos James, Tim Booth fez a vontade aos fãs abrindo o concerto com uma versão maníaco-depressiva de "Laid". Transformada em balada, a canção foi servida a frio sem os essenciais arranjos de guitarra de Saul Davies, substituídos, entretanto, pelo modesto Lee "Muddy" Baker, produtor e guitarrista de serviço.Dos temas de "Bone", "Eh Mamma" é uma promessa por cumprir. Abre com uma linha de baixo muito "groovy", esbarrando em seguida com uma estrutura rítmica tão rígida quanto previsível, colocando um ponto final a uma extensão melódica que poderia transportar o tema para um nutritivo universo jazzy. "In The Darkness" afirma-se como mais uma canção pop inofensiva e inconsequente e, finalmente, "Bone" não expande o efeito Brian Eno, remetendo-se a um refrão simples e aprazível.Para saborear melodias de interesse foi necessário recuar a 1996, colocar no palco do Hard Club o registo "Booth and the Bad Angel" e contemplar o toque de Midas de Angelo Badalamenti, especialmente em "Dance Of The Bad Angel", provavelmente o melhor tema da noite, entre texturas "funk" de Beck e vocalizações a fazerem relembrar a poesia rouca e intemporal de Leonard Cohen.A encerrar um concerto sinceramente modesto, embora agradável, "Careful What You Say", a única novidade em relação ao alinhamento de Lisboa, com algum público a abandonar antecipadamente o edifício e a saborear uma "chuva de Novembro" a beira Douro.
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