Sunday, November 07, 2004

Sugestão de Cinema: "Olha para Mim"

Anteontem tive a feliz oportunidade de assistir à antestreia do filme "Olha Para Mim", mais uma infeliz tradução do original "Comme Une Image". Trata-se da segunda proposta cinematográfica da francesa Agnès Jaoui, depois do "Gosto dos Outros". O filme, que chega aos ecrãs nacionais já na próxima quinta, dia 11, sinceramente agradou-me bastante. Trata-se de uma crónica social com irressistíveis momentos de humor e não menos intensas atmosferas dramáticas sobre as ambivalentes relações de poder inteligentemente sustentadas em dois cenários que acabam por se cruzar ao longo da narrativa desde o início: os cínicos ambientes editoriais parisienses e as problemáticas relações familiares.
Figura central do filme, Lolita Cassard (Marilou Berry) surge como uma adolescente asfixiada pela fama do pai, Etienne Cassar (Jean-Pierre Bacri), um reconhecido, arrogante e egocêntrico escritor francês a atravessar uma crise inspiracional, e um corpo obeso que a coloca à margem do "status quo" estético da "belle france". Entretida em aulas de canto, a jovem estabelece uma relação de amizade com a professora Sylvia Millet (interpretada pela própria realizadora, Agnès Jaoui) que, apesar de não se interessar muito pela aluna, acaba por lhe dar toda a atenção do mundo, tendo em vista a fama do pai e a promoção de um livro do seu marido, Pierre Millet, que sente dificuldade em triunfar como escritor.
Jogos de interesse e teatros de aparência atingem com uma naturalidade assustadoramente cómica o limite do suportável, com os personagens femininos a serem as primeiras vítimas. A começar por Lolita, que não consegue de forma alguma despertar qualquer espécie de atenção do pai, e a terminar na sua professora de canto, que após ver o marido alcançar o sucesso editorial, sente que este coloca a amizade com Etienne e a sua carreira como escritor "da moda" à frente de tudo e de todos.
Vencedor do prémio para melhor argumento na Festival de Cannes, "Olha ParaMim" apresenta-se como um filme a não perder. Para além do excelente texto e brilhantes interpretações, a música clássica, rock e mesmo rap conferem ao filme um ritmo e uma emoção rara, sem descambar nos estereótipos e manipulações fáceis de uma narrativa cativante, inteligente e divertida.

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