Sugestão de Música: "The Way It Is", de Snowy White
Ontem ao final de tarde espantei-me como uma dose ao vivo e a cores de blues da mais elevada qualidade. Snowy White, ex-guitarrista Pink Floyd com quem colaborou no histórico "The Wall", veio até à Fnac de Santa Catarina revelar os acordes do seu mais recente longa-duração "The Way It Is". Afastado o mais possível dos habituais "show-cases", por vezes, transformados em autênticos espectáculos de karaoke maníaco-depressivo, ou bipolar como agora os psicólogos gosta de catalogar, a amostra grátis do sucessor natural de "Restless", revelou um Snowy White apostado em trazer a pequena tasca da multinacional francesa abaixo.
Dos temas apresentados, destaque para "What I´m Seaching For" elevou-se como uma viagem alucinante pelos blues latinos muito próximos da melhor fase de Santana, abrindo-se depois em paragens obrigatórias com solos mais progressivos, reveladores de uma gramática rítmica tão extensa quanto criativa. Da base blues que sustenta o edifício musical, não só do novo registo, como também de grande parte dos álbuns anteriores de Snowy White, o tema de abertura, "No Stranger to the Blues" ou "Piece of Your Love", este mais influenciado por "Money" dos Pink Floyd, servem de exemplos do virtuosismo inteligente e maduro de Snowy White que não se deixa perder em escalas redundantes nem em devaneios egocêntricos de solos muitas vezes excessivos e recorrentes em guitarristas de grande calibre técnico, como Joe Satriani ou Gary Moore. Finalmente, outro dos temas em destaque, "Falling Down" nasce numa atmosfera melódica densa e hormonal perto de David Sylvian, desenvolvendo-se depois para uma base de teclas e ritmos a roçar o melhor de Mark Knopfler. O álbum contém ainda uma interessante versão do clássico "Black Magic Woman", que mais uma vez relembra Santana.
Após o amplo e consistente concerto e já com o CD no saco tive a oportunidade de conversar uns breves minutos com o músico. Num inglês diplomático, o guitarrista confessou-me estar bastante satisfeito com o registo, adiantando ainda que neste álbum teve mais liberdade criativa do que nos anteriores, pois ao mudar de banda - que é excelente diga-se de passagem- ganhou amplitude musical com a inclusão das teclas. Depois conversámos sobre os Pink Floyd, a sua relação com Roger Waters, a experiência de "The Wall" e as dificuldades que actualmente está a encontrar para penetrar num mercado discográfico que se revela "cada vez mais difícil para um simples guitarrista de blues".
Por falar em dificuldades, nota mais do que negativa para a ausência da comunicação social local que, provavelmente, entretida com a "Quinta das Celebridades" perdeu mais uma oportunidade singular de conhecer e divulgar um dos grandes guitarrista da música moderna. O disco vale a pena, não só pelos refinados blues, mas também como instrumento leitura sonora para a uma compreensão mais esclarecida e profunda do monumento chamado "The Wall".
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