Tuesday, November 09, 2004

Em busca da Felicidade...

Lundi Matin (Segunda de manhã), filme realizado por Otar Iosseliani, teve o visionamento para a imprensa na segunda de manhã, por ironia ou não.
Premiado com o Urso de Prata (melhor realização) no Festival de Berlim, "Segunda de Manhã" retrata um quotidiano similar ao da esmagadora maioria da classe média portuguesa. Vincent, o protagonista (interpretado por Jacques Bidou), trabalha numa fábrica, mas poderia trabalhar num escritório ou como caixa de um supermercado, que não iria ser menor a monotonia sentida.
A busca da Felicidade é o leit motiv de todos os seres. Humanos e não só. Todos os seres sem excepção procuram a harmonia e o bem-estar e fogem ao que provoca sofrimento. Para os seres humanos em geral a Felicidade é uma meta muito difícil de atingir dada a complexidade dos enredos axiológicos que cada um impõe ao conceito de felicidade.
Em "Segunda de Manhã", o protagonista acorda todos os dias à mesma hora, faz o mesmo percurso para a fábrica, onde abandona o vício do tabaco no portão de entrada, retomando-o depois clandestinamente. O trabalho rotineiro estrangula-lhe a veia criativa e a monotonia da vida familiar aumenta-lhe a solidão que se vai tornando insuportável até ao ponto de decidir partir numa viagem pelo mundo.
A complexidade da fábrica é apresentada de forma paralela à complexidade dos canais de Veneza. A rotina da vida de Vincent, que o afasta dos colegas e da família, levando-o à solidão, contrasta com a pureza de planos venezianos, onde a riqueza das emoções e a variedade das cores lhe preenche o vazio da alma solitária. A expressão de criatividade, afinal o único elemento que lhe faltava na sua construção da felicidade, encontrou-a em Veneza, onde se espantou com as abóbadas dos telhados recortados contra o céu e se maravilhou com a beleza dos canais raiados pelo sol da manhã.
A busca da Felicidade e a fuga da monotonia é apresentada neste filme com poucas palavras e muita simbologia. O natural por oposição ao artificial, a fragilidade dos elementos leves e etéreos, como a água dos canais e as nuvens no céu, contrastando com a aparente solidez dos elementos pesados, como a força do aço e o granito bruto dos casarios. A efemeridade ligada à Felicidade. A solidez e permanência ligadas à infelicidade. A complexidade e a simplicidade... Sempre a dualidade a expressar os conceitos maniqueístas com que elaboramos o mundo.
Afinal, não há complexidade que não seja composta pela simplicidade de vários elementos juntos. Apenas é preciso saber observá-los.
Um conceito muito budista...
Escrito por IsabelBodhisattva

1 comment:

Anonymous said...

Fantástico Filme.
Foi também interessante no filme o facto de que os lugares para onde o viajante "foge" serem também muito parecidos com a sua terra de origem. Simplesmente no meio da rotina ele não conseguiu encontrar aí o que procurava... foi descobrir longe o que havia perto...